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Itália sob ameaça de nova eleição

7 de maio de 2018

Após receber líderes das principais forças políticas, presidente diz não haver perspectivas de uma coalizão viável e propõe que "governo neutro" comande o país até dezembro. Partidos, porém, insistem em pleito em julho.

O presidente da Itália, Sergio Mattarella
Presidente Sergio Mattarella tenta destravar impasse político que impera na Itália desde as eleições de marçoFoto: picture alliance/AP Photo/A. Tarantino

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, propôs nesta segunda-feira (07/05) a formação de um "governo neutro" que comande o país até o fim do ano. Segundo ele, não existem perspectivas de uma aliança política viável, e a Itália não pode mais esperar por um governo.

A proposta, no entanto, foi rapidamente rejeitada pelas duas maiores legendas do país – a sigla populista antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) e a populista eurocética e anti-imigração Liga Norte –,  aumentando a probabilidade de um retorno às urnas nos próximos meses.

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Na tentativa de superar o impasse político que impera no país europeu desde as eleições de março, Mattarella pediu aos líderes dos partidos que apoiem o governo de transição até pelo menos 31 de dezembro, de modo que o Orçamento nacional possa ser aprovado.

"Eu espero que várias forças deem uma resposta positiva, assumindo suas responsabilidades no interesse da Itália", declarou o chefe de Estado italiano a repórteres. Para ele, a realização de novas eleições antes de 2019 exporia a Itália a muitos riscos.

Mattarella não chegou a propor nomes para o governo neutro, que será nomeado por ele ao longo desta semana. Ele destacou, contudo, que seus líderes serão impedidos de concorrer no pleito legislativo que será convocado na sequência, provavelmente em 2019.

"Os partidos precisam escolher, não podemos mais esperar", acrescentou o presidente, após uma terceira rodada de negociações com os líderes dos partidos políticos do país nesta segunda-feira. O diálogo era visto como a última tentativa de obter consenso para a formação de um novo governo, dois meses após o impasse gerado pelo resultados das eleições legislativas.

A votação em 4 de março deixou travada a política italiana, com o Parlamento sendo ocupado por blocos minoritários que não têm a intenção ou a capacidade de trabalharem em conjunto.

O M5S foi a legenda que recebeu mais votos individualmente nas eleições de março (32,6%), ficando atrás apenas da coligação de centro-direita liderada pelo Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, e pela sigla radical Liga Norte (37%). Nenhum dos grupos obteve votação suficiente para governar e tampouco conseguiu formar uma aliança que pudesse solidificar uma maioria no Parlamento.

Na semana passada, Mattarella afirmou que a última oportunidade para uma coligação entre o M5S e o Partido Democrata (PD), de centro-esquerda, "se dissipou". Após cinco rodadas de negociação entre os dois partidos, "não emergiu nenhuma perspectiva de maioria governamental", disse.

Reações à proposta

A aprovação parlamentar do governo neutro proposto por Mattarella, no entanto, parece improvável, já que as principais agremiações políticas italianas insistem na realização de novas eleições nos próximos meses.

"É crucial que o voto do povo seja respeitado", declarou o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, após o pronunciamento do presidente. Para ele, só há duas soluções possíveis para destravar o impasse político: "ou um governo de centro-direita ou eleições o mais rápido possível".

Por sua vez, o líder do M5S, Luigi Di Maio, afirmou no Twitter: "Não há confiança em um governo 'neutro', que é sinônimo de um governo técnico. Devemos ir às urnas em julho".

A única grande força política a apoiar a proposta de Mattarella foi o Partido Democrata, cujo líder interino, Maurizio Martina, repetiu o "pedido de responsabilidade do presidente". "Esperamos que seja ouvido por todas as forças políticas. O PD não deixará de apoiar essa iniciativa política."

Governo técnico

Mais cedo nesta segunda-feira, Mattarella já havia acenado com a possibilidade de nomear um governo técnico, ou seja, um governo de transição, que seria liderado por uma figura apartidária, caso as legendas não conseguissem formar uma aliança que viabilizasse uma maioria parlamentar.

A proposta, no entanto, foi rechaçada pelos líderes políticos antes mesmos da rodada de negociações com o presidente nesta segunda. Salvini, líder da Liga Norte, sugeriu que ele próprio deve ser o futuro primeiro-ministro do país. 

"Oferecemos ao presidente da República a minha prontidão, em nome da coalizão, para criar um governo que comece a resolver os problemas do país", afirmou. "Confiamos que o presidente nos dará a chance de encontrar uma maioria no Parlamento."

O MS5, por sua vez, rejeitou a hipótese de um governo técnico, também defendendo a realização de um novo pleito. No domingo, Di Maio chegou a afirmar que abdicaria da possibilidade de ser o novo premiê do país, caso Salvini aceitasse escolher em conjunto um novo nome para o cargo. A medida evitaria a paralisação governamental e a nomeação do governo técnico proposto por Mattarella.

M5S rejeita Berlusconi

Um dos maiores entraves a uma aproximação entre o M5S e a coalizão de centro-direita é a rejeição de Di Maio a Berlusconi e o histórico de escândalos acumulados pelo ex-premiê. Relatos na imprensa italiana apontam que Salvini teria tentado convencer o líder do Força Itália a se manter de fora de um possível pacto governamental com o M5S.

Pesquisas de opinião sugerem que a realização de novas eleições deverá resultar em um novo impasse político no país, uma vez que dificilmente qualquer um dos grupos conseguiria atingir a maioria parlamentar ou formar uma coalizão de governo.

Se o governo técnico for de fato nomeado, o nome cogitado para chefiá-lo seria o do ex-primeiro-ministro Mario Monti, que governou o país entre 2011 e 2013.

RC/EK/afp/ap/dpa/efe/lusa/rtr

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