Expressão descreve fracasso de negociações de coalizão entre conservadores, liberais e verdes. Termo foi escolhido por ter tanto relevância sócio-política quanto linguística.
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A Sociedade da Língua Alemã (GfdS) anunciou nesta sexta-feira (08/12) sua palavra do ano para 2017: Jamaika-Aus (fim da Jamaica) é a expressão escolhida pelo júri. A palavra descreve o fracasso das negociações entre conservadores, liberais e verdes para formar um governo de coalizão liderado por Angela Merkel, após os liberais se retirarem das conversações.
Na Alemanha se costuma associar as coligações com as cores dos partidos (preto: CDU/CSU, amarelo: FDP e verde: Os Verdes). Se as negociações não tivessem fracassado, o país teria uma coalizão de governo nas cores da bandeira da Jamaica.
O presidente da Sociedade da Língua Alemã, Peter Schlobinski, disse que a expressão não só reflete as dificuldades nas negociações para compor um novo governo após as eleições federais em setembro último, como também tem relevância sócio-política e linguística. Segundo ele, o fracasso das negociações significou tanto um fim como um recomeço, com a intervenção do presidente da Alemanha ou a possibilidade de novas eleições.
Em segundo lugar no concurso "palavra alemã do ano" ficou "Ehe für alle" ("casamento para todos"), em alusão à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovado em junho no país. A terceira colocada foi a expressão "MeToo", da hashtag que viralizou na internet após as acusações de assédio sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein, um dos mais conhecidos e influentes de Hollywood.
Desde 1971, a Alemanha elege sua palavra do ano. Em 2016, postfaktisch (pós-factual) foi escolhida por unanimidade pelo júri. "Pós-factual" ou "pós-verdade" é empregado para descrever uma cultura política baseada sobretudo em paixões e impressões pessoais, em detrimento dos fatos e com fins de manipulação.
Em 2015 havia sido Flüchtlinge (refugiados), enquanto em 2014 ganhou Lichtgrenz (fronteira de luz), a fileira de balões iluminados ao longo do trajeto do antigo Muro de Berlim, na celebração dos 25 anos da queda da fronteira entre as duas Alemanhas.
Para a seleção não é levada em conta a frequência com que uma expressão aparece, mas sim seu significado, popularidade e qualidade linguística.
RW/dpa/epd
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Provérbios alemães ilustrados
Os ditados são expressão de sabedoria popular e de uma cultura. Quantos destes você conhece? As ilustrações foram feitas pela artista Antje Herzog, exclusivamente para a DW.
Foto: Antje Herzog
Dummheit und Stolz wachsen auf einem Holz
Na tradução literal, significa "Estupidez e orgulho crescem da mesma madeira". Explicando: pessoas arrogantes, que acreditam ser mais que outras, desconhecendo os próprios limites, cometem uma estupidez. O falso orgulho e a burrice são, no fundo, a mesma coisa. E, pelo fato de rimar, a expressão tem um sentido especial em alemão.
Foto: Antje Herzog
"Wer schön sein will, muss leiden"
Em tradução literal, o ditado alemão significa "quem quer ser belo tem que sofrer". Muitas vezes não se está contente com o que se tem, e tanto homens quanto mulheres se submetem a situações desconfortáveis, seja fisicamente ou financeiramente, para atingir seus ideais de beleza.
Foto: Antje Herzog
Der Ton macht die Musik
Em tradução literal, "O tom é que faz a música". Não importa o que você tem a dizer, diga-o com respeito. Se, por exemplo, o novo perfume de uma amiga não lhe agrada, não diga a ela que ele fede. O resultado da conversa será muito mais positivo se você disser de forma amistosa que para seu gosto ele é muito intenso.
Foto: Antje Herzog
Die Ratten verlassen das sinkende Schiff
Já nos tempos dos grandes navegadores, sabia-se que, "quando um navio está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora". Isso levou à conclusão de que os ratos podem prever desgraças. Hoje em dia, pessoas que só se preocupam com elas mesmas são as primeiras a deixar a empresa ou uma equipe quando as coisas começam a ficar ruins.
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Was Hänschen nicht lernt, lernt Hans nimmermehr
"O que Joãozinho não aprendeu, João jamais aprenderá!" A mensagem é clara: quando se é criança, se aprende mais fácil. Um exemplo típico é aprender a andar de bicicleta. Quando criança, é bem mais fácil. Mas, nos dias de hoje surgem tantas coisas novas com tanta rapidez, que também os adultos precisam estar constantemente aprendendo para não ficarem para trás.
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Ist die Katze aus dem Haus, tanzen die Mäuse auf dem Tisch
Os provérbios muitas vezes servem para ensinar crianças. Este, não! Quando pais ou professores não estão próximos, as crianças aproveitam para fazer travessuras. Claro que isso acontece também com adultos. Este provérbio é tão conhecido, que existe em vários idiomas, inclusive no Brasil: "Quando o gato está fora, os ratos dançam sobre a mesa".
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Der Fisch stinkt vom Kopf her
Quando um peixe morre, a cabeça dele é a primeira parte a se decompor, e a primeira a cheirar mal. O provérbio "o peixe começa a feder pela cabeça" geralmente é associado a empresas e partidos. Quando o chefe faz um mau trabalho, é de se esperar que seus funcionários ou correligionários não sejam melhores.
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Man sägt nicht den Ast ab, auf dem man sitzt
Oh, nós, humanos! Se damos um tiro no próprio pé, cuspimos na mão que nos alimenta e afundamos o próprio barco, por que não também serrar o galho em que estamos sentados? Ou seja, há muitas maneiras de prejudicar os próprios interesses. Esse provérbio serve de advertência. Literalmente, ele diz "não se corta o galho em que se está sentado".
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Kleinvieh macht auch Mist
Mesmo pequenas coisas podem provocar um grande impacto se acontecerem em grande quantidade. Este ditado quer dizer que "animal pequeno também produz esterco". Ou seja, o excremento de uma galinha pode ser pouca coisa, mas o de um galinheiro inteiro fertiliza todo um campo. Da mesma forma, se muitas pessoas andam com carros poluentes, maior será o impacto sobre o meio ambiente.
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Reden ist Silber, Schweigen ist Gold
Já na Bíblia, no Talmude e no Corão há lições sobre esta sabedoria. "Atenue sua voz, pois a mais repulsiva das vozes é a do burro." "Se as palavras são de prata, o silêncio é de ouro". Ou seja, é melhor se calar do que falar besteira.
Foto: DW/A. Herzog, C. Dillon
Mit Speck fängt man Mäuse
Literalmente, o provérbio significa: "Com toucinho se pegam camundongos." A ideia é que, se você quer que alguém faça algo por você, ofereça o incentivo adequado. Mas cuidado com armadilhas, como a do toucinho para atrair para a ratoeira. Este provérbio costuma ser usado no ambiente empresarial, onde empregadores tentam aumentar a produtividade ao oferecer "iscas" aos funcionários.
Foto: A. Herzog / C. Dillon
Eine Hand wäscht die andere
Uma mão lava a outra. Ou seja, claro que posso ajudar você, mas quando eu precisar, espero o mesmo de você. Um ditado muito conhecido no Brasil, e que ganha atualidade com os escândalos de corrupção. Em português, este provérbio tem até um complemento: "E as duas juntas lavam o rosto."
Foto: A. Herzog / C. Dillon
Lieber den Spatz in der Hand, als die Taube auf dem Dach
"Melhor um pardal na mão do que um pombo no telhado." As pessoas comeram pombos por milênios, mas em caso de necessidade, um pardal também servia. Com isso em mente, este provérbio alemão alerta contra a ganância. O ditado vem da expressão em latim "um pássaro capturado é melhor do que mil no gramado". Hoje, os falantes do português diriam: "melhor um pássaro na mão que dois voando".
Foto: DW/A. Herzog/C. Dillon
Unkraut vergeht nicht
"Erva daninha não desaparece." Este provérbio é válido para aqueles que, apesar dos desafios, tudo aguentam. Como o ditado surgiu por volta de 1.200, a palavra "erva daninha" tem uma conotação positiva: naquela época, todo tipo de planta ou erva era útil.
Foto: DW/Antje Herzog & Conor Dillon
Wer den Pfennig nicht ehrt, ist des Talers nicht wert
"Quem não preza o Pfennig não merece o táler." Na Idade Média, 360 Pfennig valia um táler. Essa antiga moeda alemã é considerada a "mãe" do dólar. Para dar valor ao o táler, era preciso antes aprender o valor do Pfennig, diz o provérbio. Em português, pode-se dizer que "quem nasceu para tostão nunca chega a dez réis" lembra o dito popular alemão.
Foto: DW/Antje Herzog & Conor Dillon
In der Not frisst der Teufel Fliegen
"Em necessidade, o diabo come até mosca." De acordo com esse provérbio alemão do século 19, o diabo comeria esses insetos como último recurso para sobreviver. Mas o ditado tem um significado mais profundo. Belzebu, um dos nomes de satã, quer dizer "senhor das moscas", ou seja, em caso de emergência, lúcifer não comeria somente moscas, mas também seus semelhantes.
Foto: DW/Antje Herzog & Conor Dillon
Pech im Spiel, Glück in der Liebe
"Azar no jogo, sorte no amor." Para quem gosta de jogar, não chega a ser um conforto. Quer dizer que só porque sou feliz no amor nem preciso arriscar minha sorte num jogo? Até aí tudo bem, mas e se eu perder tudo em apostas, meu amor continuará comigo?
Foto: DW/Antje Herzog & Conor Dillon
Ein gutes Gewissen ist ein sanftes Ruhekissen
"Uma consciência livre é um travesseiro macio" concorre entre os ditos populares mais simpáticos da Alemanha. Não faça o mal, ele sugere, e você dormirá em paz. Palavras realmente sábias – embora sejam um fraco consolo para quem sofre de insônia crônica.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Wer im Glashaus sitzt, soll nicht mit Steinen werfen
Consta que "Quem tem telhado de vidro não atira pedras no do vizinho" tem origem na Alemanha, embora não se saibam mais detalhes. O ditado evoca a frase bíblica "Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra", pois sugere que, da mesma forma como, no fundo, ninguém é sem pecado, de uma maneira ou de outra todos vivemos em casas com telhado de vidro.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Viele Köche verderben den Brei
"Cozinheiros demais estragam o mingau" é a tradução literal deste provérbio. A ideia é que, quando há gente demais dando opiniões ou ordens, e ninguém para concentrar e filtrar os esforços, o resultado é um fiasco. Enfim, uma apologia do trabalho organizado e da hierarquia, como no brasileiro "Muito cacique para pouco índio".
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Kleider machen Leute
Assim como "O hábito faz o monge", trata-se de uma variante do velho ditado latino "Vestis virus reddit" (As roupas fazem o homem). Até hoje, a ideia é martelada em outdoors e revistas de moda para justificar a importância – e o preço – da aparência exterior. Uma variação genial é atribuída ao espirituoso autor americano Mark Twain: "Gente nua tem pouca ou nenhuma influência na sociedade".
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Scherben bringen Glück
"Cacos trazem felicidade" lembra a tradição judaica de quebrar copos de vidro no matrimônio, para simbolizar a destruição do Templo de Jerusalém e desejar boa sorte ao casal. Na Alemanha, um costume ligeiramente diferente é mantido até hoje: na "Polterabend", a noite anterior ao casório, quebra-se tudo o que seja de louça: pratos, xícaras, travessas – até mesmo um sanitário ou outro.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Einem geschenkten Gaul schaut man nicht ins Maul
Precisamente "A cavalo dado não se olha os dentes", só que rimando e com "boca" no lugar de "dentes". Obviamente data de um tempo em que cavalos eram considerados uma excelente prenda, e era má educação dar uma de dentista na presença do presenteador. Pois o exame revelaria a idade e condição da montaria – e, portanto, seu preço. Algo como, hoje, ir direto conferir no Google o valor do presente.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Lügen haben kurze Beine
A advertência de que "A mentira tem pernas curtas" e, portanto, nunca vai muito longe, parece ser quase universal. Uma variante africana reza: "Você pode comer uma vez com uma mentira, mas não duas". Também sábia é a inversão de perspectiva contida no dito popular inglês "Engana-me uma vez, vergonha para ti; engana-me duas, vergonha para mim".
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Auch ein blindes Huhn findet mal ein Korn
Datado de, no mínimo, 400 anos atrás, o dito "Até uma galinha cega acaba achando um grão de milho" tem sentido ambivalente – e também é empregado dessa forma. Pode significar que até o ser mais incapaz pode obter um sucesso – por sorte ou por pura teimosia, porém sem mérito real. Ou ser entendido como um incentivo aos menos capacitados, para que não percam a esperança e continuem persistindo.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Jeder ist sein Glückes Schmied
"Cada um é o forjador da própria sorte" é um estímulo à autodeterminação que lembra a noção do "self-made man" americano. O provérbio é uma variação de "Quisque faber suae fortunae", registrado pelo cônsul romano Ápio Cláudio Cego, por volta do ano 300 a.C.. Numa ironia histórica, o biógrafo Lívio atribuiu a cegueira de Ápio a uma praga – rogada por outra pessoa, naturalmente.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Aller guten Dinge sind drei
Na vida e nas máquinas caça-níqueis, "Todas as coisas boas vêm em três". A atração desse número em praticamente todas as civilizações dispensa comentários: Três Parcas, Santíssima Trindade, as Três Joias do budismo. Na China antiga, vencia em votação não a opinião da maioria, mas a que alcançasse três votos exatos – o número da perfeição. Uma exceção: "Um é pouco, dois é bom, três é demais".
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Gelegenheit macht Diebe
"A ocasião faz o ladrão" – também na Alemanha. Senão, e o escândalo da Volks? E o da DFB? Outra versão dessa noção é a famigerada "lei de Gérson" (o jogador): "O importante é levar vantagem". O provérbio resume uma tendência humana tão lamentável como incorrigível, por isso nunca perde a atualidade. E, como "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão", a enxurrada de escândalos nunca terá fim.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Der Apfel fällt nicht weit vom Stamm
Semelhante a "Filho de peixe, peixinho é", "A maçã não cai longe do tronco" é outro desses provérbios que convidam a um uso ambivalente ou irônico. A ideia é que qualidades – boas ou más – são herdadas das gerações anteriores. Portanto, atenção: se for dito como elogio, ótimo. Se for insulto, é extensivo ao pai, à mãe e a sabe-se lá quantas gerações.
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Wie man in den Wald hineinruft, so schallt es heraus
"Como se grita na floresta, assim virá o eco" seria a tradução quase literal desse ditado. Ou seja: o que se coloca no mundo retorna da mesma forma, para o bem ou para o mal. Se o input for negativo, portanto, é bom ter em mente que "Quem semeia vento, colhe tempestade".
Foto: Antje Herzog/Conor Dillon
Morgenstund hat Gold im Mund
Os alemães e suas rimas, desta vez para dar uma má notícia aos dorminhocos: "A manhã tem ouro na boca". Trata-se de um ditado latino, também difundido na variante "Aurora musis amica" – A aurora é a amiga das musas. De forma menos poética, "Deus ajuda quem cedo madruga" igualmente encoraja a diligência matinal. Ou, menos apetitoso: "O pássaro madrugador é que pega a minhoca".