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Janot, o procurador que sacode a classe política

Jean-Philip Struck8 de junho de 2016

À frente da PGR, ele bateu de frente com políticos, acumulando inimigos, críticas e elogios. Após ser acusado de mirar quase que apenas o PT de Dilma, procurador-geral mostra que governo Temer não deve ter trégua.

Procurador-geral da República, Rodrigo Janot
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Quando Rodrigo Janot assumiu o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), em 2013, analistas apontaram que o novo titular teria pela frente apenas a tarefa de se concentrar nos recursos do julgamento do Mensalão. Janot, por sua vez, prometia apenas reduzir o acúmulo de processos da instituição e melhorar a relação desgastada com o Congresso.

Em dois anos e meio, a monotonia dos recursos acabou dando lugar às investigações da Operação Lava Jato, e Janot se transformou em um homem capaz de manter a classe política em suspense.

Nesse período, ele denunciou Eduardo Cunha, que se tornou o primeiro réu da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Também foi responsável pelo pedido que resultou no afastamento do deputado.

Além disso, a gestão de Janot foi marcada por outros acontecimentos históricos, como o bem-sucedido pedido de prisão contra o Delcídio do Amaral – primeiro senador preso no exercício do mandato desde a redemocratização. Janot também pediu inquéritos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma Rousseff por suspeita de obstrução da Justiça. Até mesmo o senador Aécio Neves (PSDB-MG) se tornou alvo de pedidos do procurador-geral.

Desde o início do ano passado, especulações sobre quais outros nomes da "Lista de Janot" vão ter o mesmo destino tomaram as páginas dos jornais brasileiros.

Após atravessar 2015 enfrentando acusações de que as ações da Lava Jato contra políticos miravam quase sempre no PT de Dilma, Janot mostrou que o governo do presidente interino Michel Temer não deve ter trégua.

Nesta terça-feira (07/06), ele voltou a sacudir o mundo político ao pedir a prisão dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, do ex-presidente José Sarney e de Eduardo Cunha. Todos são caciques do PMDB, a sigla de Temer, e os três últimos são aliados próximos do interino.

Apesar de não ter se tornado entre a população um símbolo conhecido da Lava Jato como o juiz Sérgio Moro, o procurador-geral criou uma fama de implacável no meio político.

Recentemente, um grampo mostrou que Renan queria impedir a recondução de Janot para mais dois anos à frente da PGR – algo que ocorreu em agosto passado. "Eu tentei... Mas estava só", disse o senador, que ainda chamou o procurador-geral de "mau-caráter". "Faz tudo que essa força-tarefa (Lava Jato) quer." Em outro grampo, Lula reclamou da "ingratidão" de Janot, que foi nomeado por Dilma.

Carreira iniciada há três décadas

Nascido em Belo Horizonte, Janot, de 59 anos, se graduou em direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e ingressou no Ministério Público Federal em 1984, passando a galgar postos mais altos nos anos 90. Chegou a morar na Itália, onde estudou no final da década de 80. É casado desde 1982 e tem uma filha, que é advogada.

Na PGR, Janot fez parte do grupo dos "tuiuiús", o apelido dado aos procuradores que se opunham à atuação do procurador-geral Geraldo Brindeiro (1995-2003), conhecido como o infame "engavetador-geral da República" por causa do seu hábito de arquivar denúncias durante o governo FHC.

O tuiuiú é uma ave do Pantanal conhecida pela imponência, mas também pela dificuldade em levantar voo. O apelido explicitava o dilema do grupo, que era impedido de prosseguir com suas denúncias e que também não conseguia ascender ao topo da PGR, já que FHC ignorava as listas tríplices votadas pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), sempre preferindo reconduzir Brindeiro ao cargo.

Em 2003, o então presidente Lula decidiu acatar as listas da ANPR, e o procurador-geral passou a ser escolhido entre o mais votado da lista. Isso marcou a ascensão dos tuiuiús e o início da independência da PGR. O primeiro grande voo do grupo foi o escândalo do Mensalão, no qual Janot atuou como subprocurador-geral. Agora, com a Lava Jato, os tuiuiús encaram o seu voo mais alto.

Apoio e críticas

Ao se apresentar novamente ao cargo no ano passado, Janot recebeu apoio maciço dos procuradores, conquistado 799 votos, cerca de 80% do total.

Já entre advogados, sua postura é vista com um olhar mais crítico. Em janeiro, mais de cem deles, incluindo defensores de suspeitos presos na Lava Jato, publicaram uma carta aberta em que criticaram a operação. Segundo o documento, os investigadores da Lava Jato têm promovido a violação dos direitos dos acusados e a PGR tem distorcido os depoimentos destes no momento da transcrição.

Janot se defendeu. "Não vi distorção alguma e também não ouvi ninguém negar o fato criminoso imputado a essas pessoas", disse logo depois da divulgação da carta.

Antes disso, Janot já havia acumulado algumas controvérsias à frente da PGR. Por trás do apoio dos procuradores não está apenas a melhoria da imagem da instituição, mas também algumas benesses conseguidas por Janot, como a concessão de um auxílio-moradia e o direito de viajar de classe executiva em voos internacionais. A última portaria foi recentemente cassada pela Justiça Federal, que considerou o benefício aos procuradores "uma repugnante prática da autoconcessão de privilégios por parte das castas burocráticas".

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