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PolíticaJapão

Japão anuncia maior ampliação militar desde a Segunda Guerra

17 de dezembro de 2022

Com um investimento de 320 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, país se torna o terceiro no ranking de gastos militares, atrás de China e EUA. Objetivo é fazer frente ao poderio militar chinês e norte-coreano.

Três militares japoneses treinam com um lançador de mísseis
Meta é dobrar de 1% do PIB para 2% o orçamento anual em defesa até 2027Foto: picture alliance/AP Images

O governo do Japão aprovou nesta sexta-feira (16/12) uma revisão radical da sua política de defesa, duplicando o orçamento para a área. Com o anúncio, o país rompe uma tradição pacifista e se torna o terceiro no ranking de gastos militares, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

O novo roteiro da defesa da terceira maior economia do mundo visa adaptar-se à ascensão militar da China, definida como "um desafio estratégico sem precedentes", assim como aos constantes lançamentos de mísseis por parte da Coreia do Norte – inclusive sobre o território japonês – e à invasão da Ucrânia pela Rússia, país com o qual o Japão mantém territórios em disputa.

A meta é dobrar de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2% o orçamento anual em defesa até 2027, unificar o comando militar e aumentar o alcance dos mísseis. O investimento militar deve ser de 320 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, o maior valor a ser investido pelo país em armamentos e defesa desde a Segunda Guerra Mundial.

A luz verde do primeiro-ministro, Fumio Kishida, veio após dois anos de negociações dentro da coligação governista e rodeadas de polêmicas.

"Reforçar fundamentalmente as nossas capacidades de defesa é o desafio mais urgente neste difícil ambiente de segurança", disse Kishida na semana passada.

A principal novidade do plano é a intitulada "capacidade de contra-ataque", que estipula que o Japão deve ter meios militares para atingir alvos em território inimigo "dentro das medidas mínimas necessárias de autodefesa".

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão não tem capacidade militar para atingir alvos inimigos de longa distância devido à sua Constituição pacifista e ao seu acordo bilateral de segurança com os Estados Unidos, país que garante a defesa do arquipélago contra qualquer ameaça contra o seu território.

Para se equipar, o Japão planeja adquirir armas "standoff" ou de ataque remoto, entre as quais mísseis de cruzeiro de longo alcance Tomahawk fabricados nos Estados Unidos, e o desenvolvimento doméstico de mísseis hipersônicos, mísseis guiados antinavio e drones de combate, entre outros.

Com anúncio, Japão rompe com tradição pacifistaFoto: Kyodo/REUTERS

EUA saudam decisão

O conselheiro de segurança americano, Jack Sullivan, disse nesta sexta-feira que a nova doutrina de defesa do Japão vai "reforçar e modernizar" a aliança militar com os Estados Unidos.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, sublinhou que a iniciativa de Tóquio mostra "o fervoroso compromisso" do Japão em "manter a ordem internacional baseada em regras e uma região do Indo-Pacífico livre e aberta".

Apesar de Tóquio ter pedido há algum tempo a Moscou para reforçar as relações de cooperação, hoje em dia o Japão já adverte que a postura militar da Rússia na Ásia e a cooperação com a China são uma ameaça.

Como os aliados ocidentais, o Japão impôs sanções à Rússia após a invasão da Ucrânia, congelando as relações com Moscou.

Críticas de Pequim

Ao contrário dos EUA e como era esperado, Pequim criticou a aprovação da nova estratégia de segurança nacional japonesa.

Ao longo da semana, a China deslocou para um estreito perto do Japão, no Pacífico Ocidental, uma esquadra da Marinha de Guerra.

Os contratorpedeiros Lhasa e Kaifeng, bem como um navio de reabastecimento, navegaram pelo Estreito de Osumi, no sul do Japão, enquanto um navio de vigilância da classe Dongdiao navegou pelo Estreito de Miyako, ao sul de Okinawa, todos chegando ao Pacífico Ocidental na quinta-feira. O Ministério da Defesa japonês disse que os três barcos foram seguidos de perto por navios e aviões japoneses.

O jornal do Partido Comunista Chinês, o Global Times, citando especialistas que não identificou, indicou que a missão nos dois estreitos "permitiu enviar um sinal aos recentes movimentos militaristas do Japão", demonstrando as "capacidades do Exército de Libertação do Povo em salvaguardar a soberania nacional, a integridade territorial e os interesses do desenvolvimento da China".

A China envia rotineiramente navios de guerra através dos estreitos entre as ilhas japonesas, mesmo se opondo veementemente à presença de navios da marinha estrangeira no Estreito de Taiwan. Todas são classificadas como águas internacionais.

le (Lusa, ots)