Japão lembra vítimas dez anos após desastre de Fukushima
11 de março de 2021
Em 11 de março de 2011, um terremoto seguido de tsunami desencadeou o acidente nuclear de Fukushima. Premiê diz ainda ser "insuportável" pensar nas milhares de vítimas deixadas pela tragédia tripla.
Anúncio
Por ocasião dos dez anos do desastre de Fukushima, o Japão relembra nesta quinta-feira (11/03) as vítimas do terremoto seguido de tsunami que afetou principalmente a província de Fukushima. O tsunami causou o colapso na usina nuclear de Daiichi. É o pior desastre natural na memória viva do país e o maior no mundo desde Chernobyl. Cerca de 18.500 pessoas morreram ou ficaram desaparecidas.
Um minuto de silêncio foi observado em todo o país às 14h46 (hora local), o momento exato em que o terremoto atingiu a costa do Japão em 11 de março de 2011. Os sobreviventes rezaram pelas vítimas e recordaram seus entes queridos.
A catástrofe de Fukushima
01:06
Falando em um serviço memorial em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, disse ainda ser "insuportável" pensar nas milhares de vítimas da tragédia. "É insuportável quando penso nos sentimentos de todos aqueles que perderam seus entes queridos e amigos."
O Japão nunca deve esquecer as lições aprendidas no desastre, afirmou o premiê, sinalizando que o país continuará a fornecer apoio para ajudar as pessoas a reconstruírem suas vidas.
O imperador Naruhito também expressou suas condolências e advertiu que o Japão precisa construir uma nação mais forte para o futuro.
O que aconteceu em Fukushima
O terremoto de magnitude 9 − um dos mais fortes tremores já registrados – teve seu epicentro no mar e gerou um tsunami que atingiu a costa do Japão dentro de meia hora. Uma onda de até 19 metros de altura foi registrada na cidade costeira de Miyako na prefeitura de Iwate.
Na província de Miyagi, o tsunami varreu até 6 quilômetros para o interior. O tsunami impactou no total cerca de 400 quilômetros da costa.
Quase meio milhão de pessoas foram deslocadas em toda a região nordeste do país. Mesmo dez anos depois, 42.565 pessoas, incluindo 35.725 antigos moradores de Fukushima, ainda não conseguiram voltar para casa.
Grande parte da costa nordeste do Japão foi fortificada com enormes paredões de concreto de até 15 metros. Quando concluído, o comprimento total será de 432 quilômetros. As zonas proibidas permanecem em nove municípios de Fukushima ao redor da usina nuclear destruída. Isso representa 2,4% das terras da província de Fukushima. A zona proibida inicial abrangia 10%.
Cerca de 14 milhões de toneladas de solo radioativo, árvores e outros resíduos dos arredores de Fukushima permanecem em sacos de lixo empilhados em locais de armazenamento temporário.
Anúncio
O custo de recuperação para o Japão
O governo gastou 32 trilhões de ienes (247 bilhões de euros) na recuperação da região. Isso inclui a construção de estradas, paredões e casas, e apoio para o sustento das pessoas.
A Tokyo Electric Power Company, operadora da usina destruída, disse que seus custos totalizarão 21,5 trilhões de ienes, gastos em descomissionamento, compensações da evacuação e descontaminação de materiais radioativos fora da planta nuclear.
rw/lf (AP, AFP, Reuters)
Fukushima, o desastre sem fim
Após preocupantes dados sobre a radiação no local do acidente nuclear de 2011, governo do Japão interfere para controlar a situação na usina danificada. Contribuintes japoneses terão de arcar com custos milionários.
Foto: picture alliance/dpa
Governo como gestor da crise
O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe quer demonstrar capacidade de ação. Tóquio passou a atuar diretamente conter os estragos na usina de Fukushima, depois que notícias divulgaram que os níveis de radiação na área da central nuclear avariada após o terremoto de 2011 seriam muito mais elevados do que se considerava até então.
Foto: Reuters
Ônus milionário para contribuintes
O governo japonês pretende disponibilizar o equivalente a 360 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para a segurança das instalações. A verba será aplicada na contenção de vazamentos para evitar que água contaminada com radiação siga escoando. Um dos planos prevê a construção de um muro protetor de terra congelada em torno dos reatores, com quase 1,5 quilômetro de extensão.
Foto: Reuters/Kyodo
Mensagem do chefe de governo
"O mundo está nos observando para ver se conseguimos realizar a desativação da usina nuclear de Fukushima", declarou o premiê japonês Shinzo Abe em 3 de setembro de 2013. O governo anunciou sua intervenção na crise de Fukushima com grande efeito midiático, poucos dias antes da decisão sobre o local dos Jogos Olímpicos de 2020. Tóquio ficou entre as finalistas.
Foto: Reuters
Números dramáticos
A radiação medida num dos tanques de água, no terreno da ruína atômica, chegou a 2.200 milisievert por hora. Em 03.09, falava-se em 1.800 Sv/hora no mesmo local – uma dose a que um ser humano só consegue sobreviver por quatro horas.
Foto: Reuters/Tokyo Electric Power Co
Tepco continua alvo de críticas
A companhia de energia Tepco foi duramente criticada após a catástrofe nuclear de 2011 por sua gestão ineficaz da tragédia. Agora, a operadora de Fukushima é acusada de seguir tentando ocultar a extensão do desastre, só divulgando gradativamente ao público os dados relevantes.
Foto: Reuters/Issei Kato
Volumes incontroláveis de água
Após o terremoto e o tsunami no litoral japonês, ocorreu a fusão do núcleo de alguns reatores de Fukushima. Desde então bombeia-se água ininterruptamente para esfriá-los. O líquido contaminado é armazenado em tanques, aguardando tratamento que permitirá sua reutilização no resfriamento. O problema é que, diariamente, água dos lençóis freáticos entra nos recipientes, misturando-se com a radioativa.
Foto: Reuters/Kyodo
Recipientes permeáveis
Os tanques em que a água radioativa é coletada têm apresentado problemas recorrentes. A maior parte deles é construída com placas de aço aparafusadas. Os vazamentos são constantes. Deduz-se que água contaminada com radioatividade tenha vazado dos tanques e chegado ao mar pelo sistema de esgotos.
Foto: Reuters
Nível de alerta elevado
Somente no dia 19 de agosto de 2013 foi divulgado que cerca de 300 mil litros de água radioativa haviam vazado e, em grande parte, escoado para o meio ambiente. Devido a esse distúrbio, o mais grave desde a fusão do reator, a agência japonesa de segurança nuclear NRA elevou, pela primeira vez, o nível de alerta de 3 para 7 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (Ines).
Foto: picture-alliance/dpa
Destino final: o Pacífico?
Para controlar as massas de água dentro da usina, a agência japonesa de vigilância nuclear NRA não exclui bombear líquido para o Oceano Pacífico de forma controlada – contanto que a contaminação radioativa esteja abaixo do "valor limite". Segundo Shunichi Tanaka, presidente da NRA, tal passo é "inevitável", pois não há capacidade de armazenamento para o gigantesco volume de água contaminada.
Foto: Reuters
À sombra da ruína nuclear
A catástrofe atômica de Fukushima seguirá preocupando a população da região durante muito tempo. De acordo com a Tepco, a completa normalização na usina avariada poderá demorar até 40 anos.