Governo japonês reativa programa atômico ao colocar em funcionamento a usina de Sendai, pouco mais de quatro anos após desastre de Fukushima. Maioria da população é contra, mas Tóquio enfatiza medidas de segurança.
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O Japão retomará seu programa de energia nuclear. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (10/08), apesar da considerável objeção no país pelo uso de energia nuclear após o desastre de Fukushima em 2011.
Operadores de centrais nucleares já carregaram com combustível atômico o reator número um da estação de Sendai, localizada a aproximadamente mil quilômetros de Tóquio. Um porta-voz da empresa Kyushu Eletric Power anunciou que o reator de 31 anos estará operando em plena capacidade já nesta terça-feira.
Impulso do governo por energia nuclear
A reativação ocorre quatro anos e meio após o desastre na usina de Fukushima. Em março de 2011, um tsunami provocado por um terremoto levou ao colapso da instalação, desencadeando o pior desastre nuclear desde Chernobyl, em 1986.
Os restantes 48 reatores comerciais permaneceram desligados desde o incidente de Fukushima, com exceção de dois reatores utilizados temporariamente para atender às necessidades de energia do país. O país insular tem poucos recursos naturais. A energia atômica chegou a suprir um quarto das necessidades energética do Japão.
O primeiro-ministro do país, Shinzo Abe, está ansioso pela volta à energia nuclear, assim como as empresas de energia que detêm as centrais nucleares. O governo conservador tem substituído a capacidade energética perdida com combustíveis fósseis importados.
População resiste
A opinião pública ainda não está convencida da segurança da energia atômica. Pesquisas recentes indicam que a maioria dos cidadãos japoneses se opõe ao religamento. Algumas pessoas inclusive entraram com ações na justica para tentar bloquear o reinício das atividades nucleares.
As autoridades, por outro lado, enfatizaram as novas medidas de segurança e regulamentações mais rígidas para reatores, impostas desde a crise de 2011. "Garantiremos que a segurança vem em primeiro lugar", disse Abe antes de uma cerimônia em homenagem aos 70 anos das explosões de bombas atômicas americanas em Nagasaki e Hiroshima.
O anúncio desta segunda-feira foi recebido com 400 manifestantes na planta de Sendai. "Nunca poderei tolerar isso", disse um manifestante à emissora local. "Não suporto o fato de que eles estão reativando o reator enquanto o acidente nuclear de Fukushima continua longe de ser resolvido."
Retorno a Fukushima
No mês passado, o governo informou aos residentes de Naraha, uma cidade da província de Fukushima, que a ordem de evacuação em vigor desde 2011 será suspensa. Os 7.400 moradores serão os primeiros a voltar para casa. Toda a população dos sete municípios foi forçada a deixar suas residências após o desastre. As preocupações com a radiação e a falta de infraestrutura para cuidados médicos têm levantado questões quanto ao número de pessoas que, de fato, retornarão a Naraha.
O custo de compensação às vítimas de Fukushima já passa dos 57 bilhões de dólares – e estima-se que este valor ainda deva aumentar. O total não inclui o dinheiro gasto com o desmantelamento dos reatores nucleares.
PV/afp/dpa
Fukushima, o desastre sem fim
Após preocupantes dados sobre a radiação no local do acidente nuclear de 2011, governo do Japão interfere para controlar a situação na usina danificada. Contribuintes japoneses terão de arcar com custos milionários.
Foto: picture alliance/dpa
Governo como gestor da crise
O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe quer demonstrar capacidade de ação. Tóquio passou a atuar diretamente conter os estragos na usina de Fukushima, depois que notícias divulgaram que os níveis de radiação na área da central nuclear avariada após o terremoto de 2011 seriam muito mais elevados do que se considerava até então.
Foto: Reuters
Ônus milionário para contribuintes
O governo japonês pretende disponibilizar o equivalente a 360 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para a segurança das instalações. A verba será aplicada na contenção de vazamentos para evitar que água contaminada com radiação siga escoando. Um dos planos prevê a construção de um muro protetor de terra congelada em torno dos reatores, com quase 1,5 quilômetro de extensão.
Foto: Reuters/Kyodo
Mensagem do chefe de governo
"O mundo está nos observando para ver se conseguimos realizar a desativação da usina nuclear de Fukushima", declarou o premiê japonês Shinzo Abe em 3 de setembro de 2013. O governo anunciou sua intervenção na crise de Fukushima com grande efeito midiático, poucos dias antes da decisão sobre o local dos Jogos Olímpicos de 2020. Tóquio ficou entre as finalistas.
Foto: Reuters
Números dramáticos
A radiação medida num dos tanques de água, no terreno da ruína atômica, chegou a 2.200 milisievert por hora. Em 03.09, falava-se em 1.800 Sv/hora no mesmo local – uma dose a que um ser humano só consegue sobreviver por quatro horas.
Foto: Reuters/Tokyo Electric Power Co
Tepco continua alvo de críticas
A companhia de energia Tepco foi duramente criticada após a catástrofe nuclear de 2011 por sua gestão ineficaz da tragédia. Agora, a operadora de Fukushima é acusada de seguir tentando ocultar a extensão do desastre, só divulgando gradativamente ao público os dados relevantes.
Foto: Reuters/Issei Kato
Volumes incontroláveis de água
Após o terremoto e o tsunami no litoral japonês, ocorreu a fusão do núcleo de alguns reatores de Fukushima. Desde então bombeia-se água ininterruptamente para esfriá-los. O líquido contaminado é armazenado em tanques, aguardando tratamento que permitirá sua reutilização no resfriamento. O problema é que, diariamente, água dos lençóis freáticos entra nos recipientes, misturando-se com a radioativa.
Foto: Reuters/Kyodo
Recipientes permeáveis
Os tanques em que a água radioativa é coletada têm apresentado problemas recorrentes. A maior parte deles é construída com placas de aço aparafusadas. Os vazamentos são constantes. Deduz-se que água contaminada com radioatividade tenha vazado dos tanques e chegado ao mar pelo sistema de esgotos.
Foto: Reuters
Nível de alerta elevado
Somente no dia 19 de agosto de 2013 foi divulgado que cerca de 300 mil litros de água radioativa haviam vazado e, em grande parte, escoado para o meio ambiente. Devido a esse distúrbio, o mais grave desde a fusão do reator, a agência japonesa de segurança nuclear NRA elevou, pela primeira vez, o nível de alerta de 3 para 7 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (Ines).
Foto: picture-alliance/dpa
Destino final: o Pacífico?
Para controlar as massas de água dentro da usina, a agência japonesa de vigilância nuclear NRA não exclui bombear líquido para o Oceano Pacífico de forma controlada – contanto que a contaminação radioativa esteja abaixo do "valor limite". Segundo Shunichi Tanaka, presidente da NRA, tal passo é "inevitável", pois não há capacidade de armazenamento para o gigantesco volume de água contaminada.
Foto: Reuters
À sombra da ruína nuclear
A catástrofe atômica de Fukushima seguirá preocupando a população da região durante muito tempo. De acordo com a Tepco, a completa normalização na usina avariada poderá demorar até 40 anos.