Jihadistas alemães são autores de até nove atentados suicidas
17 de setembro de 2014
Ao menos cinco casos foram confirmados, e três ou até quatro estão sendo investigados. Ministro do Interior classifica a exportação do terrorismo como "intolerável".
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Relatos da imprensa alemã desta quarta-feira (17/09) apontam que até nove jihadistas alemães teriam realizado atentados suicidas no Iraque e na Síria. De acordo com informações divulgadas pelo jornal Süddeutsche Zeitung e pelas emissoras NDR e WDR, em ao menos cinco casos o suicida era alemão. Outros três ou quatro casos estariam sendo investigados.
A mando do "Estado Islâmico" (EI), a maioria dos ataques suicidas perpetrados por terroristas alemães teriam sido realizados neste ano nas regiões curdas do Iraque e em Bagdá. Segundo a imprensa, os jihadistas alemães são denominados "Almanis".
O Süddeutsche Zeitung afirma que há também muitos terroristas suicidas provenientes de outros países da Europa. A quantidade de ataques realizados por europeus teria quadruplicado desde março deste ano, segundo informações dos serviços de inteligência.
"Mais brutais do que os árabes"
"O número de europeus aumenta consistentemente. Eles são especificamente recrutados e são mais brutais do que os árabes", afirmou ao jornal o general Qassem Atta, porta-voz das Forças Armadas iraquianas.
Em Bagdá, as autoridades prenderam recentemente um membro do EI, que teria confirmado que, em 19 de julho, um terrorista suicida de origem alemã realizou um ataque na capital iraquiana no qual 54 pessoas morreram.
O governo do estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália afirmou que existe uma alta probabilidade de que o autor do atentado seja o jovem Ahmet C., de 21 anos, da cidade de Ennepetal, mas a família nega a acusação.
O membro do "Estado Islâmico", que foi preso em Bagdá, teria dito ainda que havia se encontrado, numa casa do EI na cidade de Fallujah, com outros três jihadistas alemães que ainda aguardavam ordens para agir.
EI proibido na Alemanha
Ao jornal, o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, afirmou que "não queremos que mortes no Iraque tenham suas origens na Alemanha. A exportação do terrorismo é intolerável e deve ser eliminada".
Na última sexta-feira, o ministro havia proibido todo tipo de atividade relacionada ao EI na Alemanha. Com a medida, passou a ser ilegal ser membro do "Estado Islâmico", recrutar combatentes ou fazer propaganda para o grupo em redes sociais ou manifestações. Também é vetado o uso de símbolos da organização ou arrecadar fundos para os extremistas.
"Observamos a situação da segurança na Alemanha, mas também temos responsabilidade sobre as pessoas que vivem na Síria e no Iraque", afirmou diretor do Departamento Federal de Proteção da Constituição, Hans-Georg Maassen. O órgão é responsável pela segurança interna do país.
Nas últimas semanas, Maassen havia dito que a Alemanha lida com ameaças de residentes radicalizados e que participam de campanhas extremistas em outras partes do mundo. "Muitos devem voltar e realizar ataques", alertou o diretor, acrescentando que muitos islamistas gostariam de ver o jihad em prática na Alemanha.
Revogação da cidadania alemã
Nesta segunda-feira, começou em Frankfurt o primeiro processo contra um suposto membro do EI na Alemanha. O jovem Kreshnik B., de 20 anos, é acusado de fazer parte do grupo terrorista e de ter participado de combates contra o Estado sírio.
Sob a lei atual, os alemães que praticarem crimes como membros de organizações terroristas podem ser processados em seu país de origem, mas sua cidadania não pode ser revogada. Essa medida pode ser tomada apenas quando cidadãos alemães aderirem às Forças Armadas de outros países sem a aprovação das autoridades alemãs.
No entanto, já foram feitas propostas para modificar a legislação e, assim, permitir a revogação das cidadanias daqueles que se unirem a milícias estrangeiras, como o "Estado Islâmico".
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.