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Fim da 'era Steve Jobs'

6 de outubro de 2011

Falecido nesta quarta-feira aos 56 anos, vítima de câncer, o fundador da Apple deixou legiões de fãs de seus iPhones, iPods e iPads. Fixado em aparelhos eletrônicos desde garoto, Jobs revolucionou a tecnologia cotidiana.

Jobs exibe um computador da AppleFoto: picture-alliance/dpa

Steve Jobs, o empresário do Vale do Silício que reinventou a indústria mundial da computação, da música e dos celulares, e mudou os hábitos cotidianos de milhões ao redor do mundo, morreu nesta quarta-feira (05/10), aos 56 anos. Jobs lutava contra um câncer de pâncreas desde 2004.

Fãs prestaram homenagens ao criador do iPhone, do iPod e do iPad em frente a lojas da Apple em todo o mundo, de Los Angeles a Sidney. Muitos sites, inclusive o da Apple, foram transformados em memoriais online. Em frente à casa de Jobs em Palo Alto, Califórnia, vizinhos e amigos deixaram flores e escreveram mensagens sobre a calçada. "Obrigado por mudar o mundo", dizia uma delas.

"O brilhantismo, a paixão e a energia de Steve foram a fonte de inúmeras inovações que enriquecem e melhoram a vida de todos nós. O mundo é incomensuravelmente melhor por causa de Steve", declarou a Apple.

Primeiros passos

Jobs nasceu em São Francisco em 24 de fevereiro de 1955. Filho de um estudante sírio e de uma jovem estudante que na época ainda não eram casados, foi adotado por Clara e Paul Jobs, um casal de trabalhadores de Palo Alto, que alimentou seu interesse precoce por eletrônicos.

Jobs viu seu primeiro computador aos 11 anos, no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, e conseguiu um trabalho temporário na Hewlett-Packard, a HP, antes mesmo de terminar o nível médio.

Em 1972, começou a cursar a escola Reed College, em Portland, Oregon, mas abandonou os estudos seis meses depois. "Eu não tinha ideia do que queria fazer com a minha vida e de como a faculdade me ajudaria a descobrir", dizia Jobs.

Ao retornar para a Califórnia em 1974, Jobs trabalhou para a empresa de videogames Atari. Enquanto isso, frequentava reuniões do Homebrew Computer Club, um grupo de fãs de computador.

Um dos membros do clube era Steve Wozniak, um ex-colega de escola alguns anos mais velho. Juntos, os dois Steves fundaram a Apple na garagem dos pais de Jobs, no Vale do Silício, em 1976.

Com a característica camisa de gola alta, Jobs apresenta o iPhone 4Foto: AP

Do Vale do Silício para o mundo

A primeira criação de Jobs e Wozniak foi o Apple I, seguido do Apple II, em 1977. O Apple II foi o primeiro computador pessoal a ganhar uma legião de seguidores. Tornou-se tão popular que Jobs chegou a valer 100 milhões de dólares aos 25 anos.

O californiano repetiu o feito em 1984, com o Macintosh. Conhecido como Mac, o dispositivo foi construído a partir da tecnologia de ponta desenvolvida pela Xerox Parc e estabeleceu a experiência de computador pessoal como a conhecemos hoje.

No ano seguinte, em 1985, com o preço das ações da Apple caindo, intensificaram-se os conflitos entre Jobs e John Sculley, o então CEO da empresa. A rebeldia característica de Jobs fez com que ele saísse da empresa.

Antes de retornar à Apple, Jobs passou pela Next – fabricante de computadores que posteriormente seria comprada pela Apple –, e pela Pixar, um estúdio de animação por computadores comprado de George Lucas por 10 milhões de dólares. O estúdio iniciou sua trajetória de sucesso em 1995, com o filme Toy Story, o primeiro longa-metragem totalmente animado por computadores.

Jobs vendeu, então, a Pixar à Walt Disney por 7,4 bilhões de dólares em um negócio que lhe garantiu um posto na diretoria da Disney e 138 milhões em ações, responsáveis pela maior parte de sua fortuna.

Em 1977, o visionário voltou à Apple, para, depois de alguns anos, lançar uma sequência de produtos que novamente derrubariam a ordem estabelecida pelas grandes indústrias. O primeiro deles foi o iMac. Lançado em 1988, o computador de plástico colorido vendeu 2 milhões de unidades em seu primeiro ano.

Na década seguinte, Jobs manteve a Apple rentável, e a popularidade da empresa explodiu nos anos 2000, com o iPod, o iPhone e o iPad – lançados em 2001, 2007 e 2010, respectivamente. O poder de Jobs sobre os amantes de gadgets e da cultura pop chegou ao ponto de, na véspera do lançamento do iPhone, seguidores fiéis da marca dormirem nas calçadas diante de lojas da Apple para comprar o novo aparelho.

Três anos depois, no lançamento do iPad, as filas davam a volta nos quarteirões. A última versão do iPhone foi lançada nesta quarta-feira e talvez tivesse havido mais entusiasmo se o próprio Jobs tivesse apresentado a novidade como de costume, com seus modos teatrais, calça jeans e camiseta de gola alta.

Jobs deixou o cargo de presidente-executivo da Apple em agosto de 2011Foto: dapd

Senso de mortalidade

Inicialmente, o diagnóstico de um tipo raro de câncer de pâncreas em 2004 afetou apenas parcialmente Jobs e a Apple, com o CEO da empresa afirmando que a doença era tratável. Mas a saúde do californiano deteriorou-se rapidamente ao longo do últimos anos e, após dois afastamentos, ele deixou o cargo de presidente executivo e tornou-se o presidente da Apple em agosto último.

Há seis anos, Jobs declarou que seu senso de mortalidade servia como uma espécie de motivação. "Pensar que estarei morto em breve é a mais importante ferramenta que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões", disse. "Porque quase tudo – todas as expectativas externas, o orgulho, o medo da vergonha e do fracasso – essas coisas simplesmente somem diante da morte, deixando apenas o que realmente importa."

Em setembro deste ano, a revista Forbes avaliou o patrimônio líquido de Jobs em 7 bilhões de dólares. Amante da boa comida, do budismo e da filosofia New Age, Jobs deixará como herança, além de sua presença carismática, seus adorados iPhones, iPods, iPads e iMacs.

"Para algumas pessoas, é como a morte de Elvis Presley ou John Lennon, é uma mudança dos tempos", disse Scott Robins, um barbeiro e fã da Apple há quase 20 anos, que foi à loja da marca em São Francisco assim que soube da morte de seu fundador. "É o fim de uma era, o fim da Apple como a conhecemos. É como se fosse o fim dos inovadores."

Em 2011, a Apple tornou-se a segunda maior empresa dos Estados Unidos em valor de mercado. Em agosto, ela superou a Exxon Mobil como a companhia mais valiosa do país.

LPF/rtr/ap
Revisão: Roselaine Wandscheer

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