Biden reconhece o genocídio armênio da 1ª Guerra Mundial
24 de abril de 2021
É a primeira vez que um presidente americano usa o termo para se referir ao extermínio de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano. Turquia reage e define a iniciativa como "oportunismo político".
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O presidente Joe Biden afirmou em um comunicado neste sábado (24/04) que os Estados Unidos reconhecem o extermínio em massa de cerca de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano em 1915, ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial, como um genocídio.
"Lembramos as vidas de todos os que morreram no genocídio armênio na era otomana e reiteramos nosso compromisso de evitar que uma atrocidade como essa ocorra novamente", ele disse. "E lembramos para que sigamos sempre alertas contra a influência corrosiva do ódio em todas as suas formas."
O anúncio foi feito no Dia da Memória do Genocídio, em que armênios de todo o mundo relembram o ocorrido.
O genocídio armênio é reconhecido por historiadores e diversos países, incluindo Alemanha, França e Itália, além da Igreja Católica, as Nações Unidas e o Parlamento Europeu. Em 2015, o Senado brasileiro aprovou uma resolução reconhecendo o uso do termo genocídio para o massacre.
O governo da Turquia admite que o Império Otomano, que lutou na Primeira Guerra Mundial ao lado da Alemanha e do Império Austro-Húngaro, cometeu massacres contra a população armênia, mas nega que o episódio possa ser classificado como genocídio, pois o termo não seria utilizado na época.
O conceito de "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
Reação da Turquia
Minutos após a declaração de Biden, a Turquia respondeu que rejeita "em sua totalidade" o uso do termo genocídio para se referir ao massacre de armênios durante a Primeira Guerra Mundial.
"Não temos nada a aprender de ninguém sobre o nosso próprio passado. Oportunismo político é a maior traição à paz e à justiça", escreveu no Twitter o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu. "Rejeitamos inteiramente esse comunicado [de Biden] baseado somente no populismo".
Em seguida, o porta-voz presidencial da Turquia, Ibrahim Kalin, sugeriu a Biden olhar para a história americana recente antes de criticar outros países.
"Condenamos com firmeza e rejeitamos as afirmações do presidente dos EUA, que somente repetem acusações daqueles cuja única agenda é a inimizade com o nosso país", disse Kalin. "Recomendamos ao presidente dos EUA que olhe para o seu próprio passado e presente [de seu país]."
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Decisão americana
A Câmara dos Deputados dos EUA já havia aprovado, em outubro de 2019, uma resolução que reconhece como genocídio o massacre de armênios por otomanos.
Cerca de dois meses depois, o Senado americano também aprovou, por unanimidade, uma moção reconhecendo o genocídio, o que levou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a ameaçar fechar a base aérea americana de Incirlik, localizada no sul da Turquia.
Nenhum presidente americano, porém, havia usado o termo até este sábado para se referir ao massacre dos armênios. A chefe da sucursal da DW em Washington, Ines Pohl, observou que os antecessores de Biden não classificavam o ocorrido como genocídio para evitar "danificar os vínculos com a Turquia, um aliado importante na região".
A declaração de Biden cumpre uma de suas promessas de campanha, de que ele descreveria os assassinatos como uma tentativa deliberada de exterminar o povo armênio. Mas a iniciativa pode provocar problemas nas relações entre os Estados Unidos e o governo da Turquia, que é membro da Otan.
Estima-se que vivam nos EUA entre 500 mil e 1,5 milhões de pessoas com origens armênias, como a celebridade Kim Kardashian.
Posição da Armênia
Os armênios há muito tempo referem-se aos assassinatos em massa ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial como um genocídio.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, escreveu um texto no Facebook agradecendo a Biden "pelo passo poderoso na direção da justiça e o apoio inestimável para os descendentes das vítimas do genocídio armênio".
Neste sábado, diversos armênios caminharam até um memorial em homenagem às vítimas do genocídio localizado no cume de um morro na capital Erevã.
Em um discurso no memorial antes de Biden ter divulgado o seu comunicado, o vice-ministro armênio das Relações Exteriores, Avet Adonts, disse que o uso do termo genocídio por um presidente americano "serviria de exemplo para o resto do mundo civilizado".
bl (DW, AFP, AP)
As mensagens deixadas em cavernas pelos soldados da 1ª Guerra
Pesquisadores começaram a avaliar inscrições deixadas na frente de combate francesa durante a 1ª Guerra. Um sistema de túneis guarda nomes e mensagens de milhares de soldados que buscaram proteção durante as batalhas.
Foto: DW/D. Crossland
Batalhão dos durões
"Die hards", "os que morrem devagar", era o apelido do Regimento Middlesex, uma unidade britânica. Juntamente com a referência ao 17º Batalhão, ele foi escrito em grandes letras maiúsculas sobre as insígnias desenhadas na pedra.
Foto: DW/D. Crossland
Local de pausa
Esta é a entrada para um labirinto de túneis do século 16, encontrado sob o município francês de Bouzincourt, no norte da França. Ele deu abrigo a milhares de soldados britânicos, canadenses e australianos durante a Batalha de Somme, em 1916. Às vezes, eles passavam vários dias aqui para descansar dos combates.
Foto: DW/D. Crossland
Um coração para B.E.F.
É preciso conhecer um pouco da história militar para decifrar os relevos que os soldados deixaram nas cavernas. Esse também é de 1916 - e sobre o ano lê-se B.E.F., a abreviação em inglês para Força Expedicionária Britânica.
Foto: DW/D. Crossland
Um autorretrato?
O rosto de um homem de bigode com chapéu e sobrancelhas pronunciadas seria um autorretrato? Cerca de 2.100 nomes estão gravados nas paredes das cavernas de Bouzincourt. Pesquisadores da Universidade de Amiens os fotografaram e os registraram em um banco de dados.
Foto: DW/D. Crossland
Sobrou no fogo
A bota de um soldado é um dos muitos equipamentos militares descobertos por cientistas nos túneis de Bouzincourt. Outras descobertas foram rifles, cartuchos, latas de carne enlatada e geleia, um balde, vários capacetes, um distintivo da "Royal Field Artillery" e uma escova de dentes.
Foto: DW/D. Crossland
Turistas no túnel
A vila de Naours, ao norte de Amiens, norte da França, é famosa por seu labirinto medieval de túneis e cavernas. Ele era visitado por milhares de soldados que estavam de folga durante a 1ª Guerra. Pelas inscrições, acredita-se que a maioria dos visitantes tenha vindo da Austrália.
Foto: DW/D. Crossland
Vestígios dos antepassados
Um total de 3.200 nomes foram descobertos nas rochas em Naours - 2.200 deles da Austrália. Em muitos casos, eles deixaram o nome, endereço, posto que ocupavam, nome da unidade ou seu número de identificação. Hoje, muitos australianos vêm a Naours em busca de indícios sobre seus ancestrais.
Foto: DW/D. Crossland
Nome perpetuado
O australiano William Mervyn Lecky foi um dos combatentes na França. Em 1916, ele visitou a caverna em Naours. Em 1º de setembro de 1918, o canhoneiro do grupo de artilharia de campo australiana foi morto em batalha. Menos de três meses depois, a guerra acabaria. A sepultura de Lecky está no cemitério de guerra em Peronne, na França.
Foto: DW/D. Crossland
Capela subterrânea
Já nos tempos da 1ª Guerra, a capela subterrânea em Naours foi uma atração turística para muitos soldados australianos. Tais sistemas de túneis secretos existem em muitas cidades no nordeste da França. Com eles, os moradores locais queriam proteger a si mesmos e seu gado dos invasores ao longo dos séculos.
Foto: DW/D. Crossland
Artista desconhecido
Alguns soldados passaram muito tempo no túnel. Tanto, que até conseguiram completar relevos ou esculturas em pedra. Esta figura com um capacete, encontrada na caverna de Naours, poderia retratar um soldado. O autor é desconhecido.
Foto: DW/D. Crossland
Frase de Lutero
Os pesquisadores detectaram diferenças culturais entre o que foi deixado pelos soldados de diferentes países. As inscrições alemãs eram funcionais - e frequentemente intercaladas com propaganda e referências a Deus e ao imperador. Nesta inscrição em um bunker nos Vosges, onde houve combates pesados, é citada uma frase de Martinho Lutero: "Nosso Deus é um castelo forte, uma boa defesa e arma".
Foto: DW/D. Crossland
Bávaros leais
Este bunker perto de St. Mihiel, no departamento francês de Maas, foi construído por um regimento bávaro. Sobre a entrada, a inscrição "In Treue fest" - "Firme na lealdade" - que era o lema do Reino da Baviera.
Foto: DW/D. Crossland
Placas esculpidas
Inscrições em cavernas e relevos elaborados também podem ser encontrados nas pedreiras de calcário de Confrecourt, perto de Compiègne. Eles foram deixados por soldados de várias nações ao longo da frente ocidental na Primeira Guerra Mundial. Esses painéis parecem ter sido dedicados a lideranças militares e regimentos importantes.
Foto: DW/D. Crossland
Capela em pedra
Em Confracourt, os soldados que se escondiam do fogo de artilharia na superfície esculpiram uma capela inteira na pedra. A escada levava diretamente ao campo de batalha.
Foto: DW/D. Crossland
Patriotismo sem ódio
Este busto de Marianne, a heroína nacional francesa, testemunha a habilidade dos soldados. Ao contrário de britânicos ou australianos, os franceses, como os alemães, não estavam inclinados a deixar nomes ou outras informações pessoais nas paredes das cavernas. Mas o que quase todas as inscrições têm em comum é que não manifestam ódio.