Donna Bowater, do Rio de Janeiro (av)1 de agosto de 2016
Maior esquema de policiamento da história do Brasil pode representar pausa na luta diária dos cariocas contra violência, mas mostra falência da segurança pública. Sensação é de que, passado o evento, dura rotina voltará.
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Por todo o Aeroporto Internacional do Galeão, nas proximidades de estações de metrô, do lado de fora dos locais de competições e mesmo pelas esquinas: soldados camuflados prestam guarda por todo o Rio de Janeiro, com os rifles apontados para baixo.
A cidade já vive em plenitude a operação de segurança olímpica, a maior que o país já viu: 21 mil soldados foram mobilizados para auxiliar a polícia na complexa questão da segurança na metrópole, oferecendo quase uma trégua na luta diária do carioca contra a violência.
Segundo o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, entre 4 e 27 de julho houve uma queda de 16% no número de furtos e 27% dos assaltos, em relação a 2015, enquanto a cidade se prepara para receber meio milhão de visitantes estrangeiros.
Por trás dessa demonstração de presença física, porém, o emprego das Forças Armadas revela a inadequação da polícia carioca, numa cidade em que a segurança pública é normalmente precária. E deixa a sensação aos moradores de que, passados os Jogos, tudo voltará ao normal.
O estado do Rio teve em média 16 mortes violentas por dia entre janeiro e junho deste ano, um total de mais de 3 mil, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). O crime que mais cresce é o roubo de rua: a média é de 13 por hora no estado.
"A segurança pública está em processo de falência", afirma Newton Oliveira, especialista em segurança e professor de direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie no Rio, que atuou como consultor no planejamento de segurança nos Jogos Pan-Americanos de 2007.
O número de militares na cidade-sede foi acrescido de 3 mil, a pedido do governador interino Francisco Dornelles. Ele declarou que as finanças públicas estão em "estado de calamidade", e que sem o apoio do governo federal o Rio não conseguirá cumprir suas obrigações referentes ao evento, incluindo serviços-chave como a segurança, em iminente perigo de colapso. Dornelles pediu, ainda, que os soldados permaneçam na cidade após os Jogos.
"A presença das Forças Armadas na segurança das Olimpíadas é indispensável. No entanto, a forma como está sendo usada – como uma espécie de 'remendo universal' para cobrir os erros gritantes no planejamento da segurança olímpica – pode resultar um uso ineficaz", alerta Oliveira.
Preocupação é constante, diz governo
Ao mesmo tempo, os recursos públicos foram drenados ainda mais para hospedar os Jogos, e a insatisfação pública com o evento emerge como fonte adicional de apreensão.
A chegada da tocha olímpica ao estado do Rio, na última quarta-feira (26/07), foi recebida com protestos: a chama chegou a ser apagada – o que supostamente voltou a se repetir mais tarde na cidade serrana de Petrópolis. A tocha está programada para chegar à cidade do Rio de Janeiro nesta quinta-feira, antecipando a cerimônia de abertura de 5 de agosto.
Falando à imprensa após um encontro com os chefes de segurança no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), o secretário estadual de Segurança relatou que a polícia estava informada sobre a existência de movimentos sociais exigindo que a chama olímpica fosse apagada ao chegar à metrópole.
"Nossa interpretação é que haverá protestos", disse Beltrame. "Temos vários lugares com problemas potenciais. O que estamos fazendo aqui desde 2007 é procurar antecipar, fechar todos esses tipos de lacunas; porque o Rio de Janeiro é, sem dúvida, difícil, como qualquer cidade."
Para o secretário, a preocupação com a segurança pública é constante: "Segurança é algo que sempre temos que estar tentando antecipar. Acho que ninguém vai jamais me ver relaxado em relação à segurança, independente do evento. A preocupação sempre existe."
Clima de apreensão
E, para o visitante estrangeiro, ver extensa patrulha nas ruas, especialmente militar, não necessariamente transmite a sensação de segurança.
Alguns voluntários que trabalham para a Rio 2016 revelaram-se apreensivos em relação a sua segurança pessoal na cidade. Em junho, a jogadora de basquete e velejadora australiana Liesl Tesch foi vítima de um assalto a mão armada no bairro do Flamengo, na zona sul.
Na sexta-feira o governo brasileiro dispensou a firma de segurança privada encarregada de supervisionar os locais olímpicos, por esta não ter conseguido apresentar os 3.400 empregados necessários à função, e a substituiu por funcionários da polícia federal e estadual.
Na Vila Olímpica, a segurança foi intensificada depois que foram roubados um computador e camisetas da delegação australiana, durante um alarme de incêndio.
No entanto, alguns se sentem, até o momento, tranquilizados com a presença dos militares – como o tcheco Jiri Prskavec, de 23 anos, que competirá em canoagem slalom: "Você vê o Exército por toda parte, então não há por que ter medo. Eles estão até guardando a nossa casa do lado de fora da Vila Olímpica. Eu me sinto muito seguro."
Melhores momentos do tour da tocha olímpica
Até a abertura dos Jogos no Rio, em 5 de agosto, a chama olímpica passará por 300 cidades do país, tendo sido conduzida por 12 mil pessoas. O revezamento já produziu vários momentos históricos e emocionantes.
Foto: Andre Mourao/Rio 2016
Dupla vitoriosa
Adriana Behar, medalhista de prata nos Jogos de Sydney e Atenas, formou com Shelda Bede uma das duplas femininas mais vitoriosas do Brasil no vôlei de praia, com mais de mil vitórias e 114 títulos conquistados. Além das medalhas olímpicas, Shelda conquistou o heptacampeonato do Circuito Mundial, o bicampeonato mundial e mais duas medalhas em mundiais, além do ouro nos Jogos Pan-Americanos 1999.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
Em defesa da floresta
O índio Carlos Robenir Kaxinawá passou a chama para Raimundo Mendes, primo do líder seringueiro Chico Mendes. Carlos, da etnia Kaxinawá, desenvolve em sua aldeia o manejo sustentável do pirarucu. Raimundo, que ajudou Chico Mendes a criar uma das maiores reservas extrativistas do país, luta por atividades alternativas de renda que possam frear o avanço do desmatamento na Floresta Amazônica.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
Ópera em Belém
A soprano Dhuly Contente saiu da comunidade da Vila da Barca, no bairro pobre do Telégrafo, para se tornar uma das grandes promessas do canto lírico paraense. Com apenas 24 anos, já se apresentou na Itália e nos Estados Unidos.
Foto: André Mourão/Rio 2016
Estrelas do boxe
Esquiva Falcão conquistou a medalha de prata no boxe nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Ele passou a chama para Acelino Popó Freitas, outra lenda do boxe brasileiro.
Foto: André Luiz Mello/Rio 2016
De pai para filha
Evandro Teixeira é um dos maiores fotógrafos do Brasil. Como profissional de imprensa, ele cobriu seis edições dos Jogos Olímpicos, diversas Copas do Mundo, além de episódios de grande relevância para a história contemporânea do país, como as manifestações contra a ditadura militar. Ele passou a chama para a filha, a jornalista Carina Almeida.
Foto: Marcos de Paula/Rio 2016
Tecno brega em Belém
A Gang do Eletro surgiu em 2008 e hoje é uma das bandas mais conhecidas do tecno do norte do país, também conhecido como tecno brega.
Foto: Andre Mourao/Rio 2016
Casal sustentável
José Araújo, conhecido como Dr. Borracha, deixou o seringal aos 38 anos para fazer calçados com a matéria-prima que extraía da floresta. Hoje, ele e a mulher, Delcilene Campos, que também já trabalhou no seringal, produzem até 22 pares por dia, que custam entre R$ 30 e R$ 90. Em 2014, eles participaram de uma feira de moda em Milão, onde venderam todas as suas peças.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
A voz de Belém
A cantora Liah ficou famosa nacionalmente depois de participar do programa The Voice Brasil, em 2012, e chegar às finais.
Foto: Andre Mourao/Rio 2016
Igualdade racial
Luislinda Santos, de 74 anos, desembargadora, escritora, embaixadora da paz pela ONU, em 2012, é filha de um motorneiro e de uma lavadeira. Ela foi a primeira negra a se tornar juíza no Brasil. Ela recebeu a tocha de Creuza Maria Oliveira, de 59 anos, que começou a trabalhar aos 10 anos e luta por melhores condições de vida de trabalhadoras domésticas afrodescendentes.
Foto: Andre Luiz Mello/Rio 2016
Pelos direitos da mulher
Juliana de Faria, que está à frente de campanhas que se tornaram virais, como Chega de Fiu Fiu e #primeiroassedio, passou a chama para Maria da Penha Fernandes, líder de movimentos de defesa da mulher, ela mesma uma vítima da violência doméstica, que a deixou paraplégica. Seu caso inspirou a criação da lei que leva seu nome. A lei, sancionada em 7 de agosto de 2006, completa dez anos este ano.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
"Quer casar comigo?"
Pedido de casamento no Dia dos Namorados, em plena Ilha do Amor, como São Luís é conhecida. Foi uma surpresa do condutor Romeu Matos, 27 anos, para a namorada, a também condutora Samya Taliani Silva, de 24 anos, no momento exato do beijo da chama olímpica. Quando ela disse "sim", ele se ajoelhou e apresentou um anel. A família e os amigos improvisaram uma grinalda para a noiva e um buquê.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
Espírito olímpico
A jogadora de vôlei Paula Pequeno, bicampeã olímpica e melhor jogadora das Olimpíadas de Pequim, em 2008, passou a chama para o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima. Nos Jogos em Atenas, em 2004, ele liderava a maratona, quando, a 6 km da linha de chegada, foi derrubado por um manifestante que burlou a segurança e invadiu a pista. Mesmo assim, Vanderlei conseguiu chegar em 3º lugar.
Foto: Andre Mourao/Rio 2016
Campeã do vôlei
Virna Dias é medalhista olímpica de vôlei. Pela seleção brasileira, foi bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, 1996, e nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000. Também pela seleção, foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1999.
Foto: Marcos de Paula/Rio 2016
Atletas olímpicos
Virna passsou a chama olímpica para Oscar Schmidt, considerado um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos. Ele disputou nada menos que cinco Olimpíadas desde Moscou, em 1980. Até hoje, ele é recordista de pontos nos Jogos Olímpicos, com 1.093 registrados.
Foto: Fernando Soutello/Rio 2016
Da olimpíada à paralimpíada
Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Londres 2012, nos Jogos Rio 2016, Yane Marques participa no pentatlo moderno. Ela passou a tocha para Roseane Ferreira da Silva, conhecida como Rosinha, que conquistou a medalha de ouro e quebrou o recorde mundial nas provas de arremesso de peso e lançamento de disco nos Jogos Paralímpicos em Sydney.