Além de escândalos de corrupção e do processo de impeachment, evento é ofuscado pela recessão econômica a cem dias de seu início. Comitê organizador é obrigado a apertar o cinto, e crescem suspeitas sobre obras.
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Quando o Rio de Janeiro foi eleito sede dos Jogos Olímpicos, em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a escolha marcava a estreia do Brasil no palco internacional. Com o preço das commodities explodindo, somava-se, ao mercado emergente considerado um país do futuro, a promessa de Jogos memoráveis.
Agora, a apenas cem dias do megaevento esportivo, o Brasil atrai atenção internacional pelos motivos errados, que ameaçam ofuscar os primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul. A crise política e o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, um escândalo de corrupção sem precedentes e a recessão econômica abalam os preparativos e tornam ainda maior o desafio de sediar um evento do tipo.
"O duplo golpe político e econômico desviou a atenção dos Jogos Rio2016", afirma Jules Boykoff, professor da Pacific University, nos EUA, e autor de Power Games: A Political History of the Olympics (Jogos de poder: uma história política das Olimpíadas, em tradução livre).
Corte de gastos
Em meio às turbulências atuais, Nawal el-Moutawakel, presidente da Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional (COI), descreve o clima no Brasil como "um ambiente complexo, política e economicamente".
Os organizadores afirmam que desde o início houve um controle rigoroso sobre o orçamento de 7,4 bilhões de reais. Mas com o país mergulhando em sua pior recessão em mais de 20 anos e vendo sua economia encolher 3,8% no ano passado, os gastos previstos para os Jogos foram cortados em cerca de 850 milhões de reais.
"Tivemos cortes de gastos porque precisávamos equilibrar o orçamento [...] Temos que garantir que tudo o que gastamos, tudo o que usamos tem um motivo", disse à DW Mario Andrada, diretor de comunicação da Rio 2016. "Ninguém recebe um cheque em branco para os Jogos Olímpicos. Precisamos transmitir às pessoas uma mensagem muito importante, de transparência e de que não estamos gastando excessivamente."
O comitê organizador afirma que a empresa de pesquisa de mercado Nielsen identificou que os Jogos têm um índice de aprovação de 70% entre a população do país. De início, a venda de ingressos foi lenta, mas agora, os organizadores dizem que as coisas estão "no caminho certo".
No entanto, muitos temem que as manifestações relacionadas à crise política se alastrem para os Jogos. "Temos o ambiente perfeito para protestos, no sentido de que temos gastos elevados, desalojamentos, vamos ver uma militarização do espaço público", afirma Boykoff, que passou quatro meses no Brasil no ano passado. "Circulei por todos os cantos do Rio e falei com pessoas de todas as orientações políticas e foi muito difícil encontrar alguém que estivesse animado com os Jogos Olímpicos."
Efeito da Lava Jato
A imagem dos Jogos também foi abalada após a Lava Jato apontar o envolvimento de grandes construtoras brasileiras no escândalo de corrupção na Petrobras. Sete das empresas investigadas – incluindo Odebrecht e Andrade Gutierrez – apareciam em 11 projetos essenciais para o megaevento esportivo.
O consórcio responsável pela Linha 4 do metrô, por exemplo, é liderado pela construtora Queiroz Galvão, com participação da Carioca Engenharia e da Odebrecht – todas investigadas na Lava Jato. Repetidamente atrasadas, as obras devem ser inauguradas cerca de um mês antes dos Jogos, que começam em 5 de agosto, apesar de o governo buscar 1 bilhão de reais extras do governo federal para completar a linha.
"Não há escassez de material apontando para irregularidade por parte de empreiteiras que estão construindo as instalações olímpicas", diz o advogado Jefferson Moura, que lidera pedidos de abertura de inquérito sobre os gastos com os Jogos.
A campanha para investigar obras do evento ganhou força com a queda de um trecho da recém-inaugurada Ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos na semana passada. A via, que liga os bairros do Leblon e São Conrado, custou quase 45 milhões de reais e era um dos projetos do legado olímpico.
A prefeitura da cidade prometeu uma investigação completa sobre o acidente. Andrada disse que o comitê organizador local está disposto a colaborar com o inquérito.
Dez esperanças de medalha para o Brasil
Meta do COB é conquistar no mínimo 27 medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016. Entre multicampeões, potências mundiais e promessas, confira quais são as modalidades que podem levar o Brasil para o pódio no Rio.
Foto: Getty Images
Robert Scheidt - vela
Em busca de seu sexto pódio em Jogos Olímpicos, o maior medalhista brasileiro (junto com o também velejador Torben Grael), Robert Scheidt voltou à classe Laser, pela qual é eneacampeão mundial. Na vela, destaque também para a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, campeãs mundiais na classe 49er FX e eleitas as melhores velejadoras do mundo em 2014, além de Ricardo Winicki, na classe RS-X.
Foto: Imago
Sarah Menezes - judô
Desde Los Angeles 1984, o judô brasileiro conquistou medalhas em todas as edições dos Jogos Olímpicos. A atual campeã olímpica Sarah Menezes é forte candidata a repetir a dose no Rio de Janeiro. Rafael Silva, o Baby, as campeãs mundiais Mayra Aguiar e Rafaela Silva, além do veterano Tiago Camilo, também estão bem colocados nos rankings de suas respectivas categorias.
Foto: Getty Images/B. Mendes
Arthur Zanetti - ginástica
Único campeão olímpico latino-americano na história da ginástica olímpica, Arthur Zanetti vem dominando as provas nas argolas, onde conquistou um ouro e uma prata nos dois últimos mundiais. Ao lado de Diego Hypólito e Sérgio Sasaki, primeiro brasileiro a ser finalista no individual geral nos Jogos Olímpicos, em Londres 2012, Zanetti quer levar o Brasil ao inédito pódio na competição por equipes.
Foto: Reuters
Fabiana Murer - atletismo
Em 2008, equipamento roubado; em 2012, a culpa foi do vento. Após duas decepcionantes participações, Fabiana Murer quer se redimir com uma medalha no Rio de Janeiro. A missão da campeã mundial do salto com vara de 2011, porém, é complicada: a cubana Yarisley Silva, melhor marca do ano, a americana Jennifer Suhr e a russa Yelena Isinbayeva, dona do recorde mundial, são as principais concorrentes.
Foto: Imago
Bruno Fratus - natação
A cena de Bruno Fratus (dir.) cumprimentando César Cielo, em Londres 2012, não irá se repetir nos Jogos do Rio. Com a ausência de Cielo, Fratus se tornou a principal esperança de medalhas. Bronze no Mundial de 2015, ele detém o segundo melhor tempo nos 50m livres em 2016. Outros bons nomes são Felipe França, Nicholas Santos, além de Thiago Pereira, maior medalhista pan-americano da história.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Walton
Duda Amorim - handebol
A seleção feminina de handebol conquistou o inédito título mundial em 2013, na Sérvia. Treinada pelo dinamarquês Morten Soubak, a equipe espera superar a campanha de Londres (6º lugar) e se recuperar do fraco Mundial de 2015, quando caiu nas oitavas de final. O time conta com Alexandra Nascimento e Duda Amorim (foto), eleitas as melhores jogadoras do mundo em 2012 e 2014, respectivamente.
Foto: Imago
Isaquias Queiroz - canoagem
Atual bicampeão mundial da prova não olímpica do C1 500m e medalhistas nos últimos dois mundiais nas provas C1 1.000m, C1 200m e C2 200m, Isaquias Queiroz quer conquistar a primeira medalha olímpica para a canoagem brasileira. Atenção também para a mineira Ana Sátila, que esteve em Londres com apenas 16 anos e foi campeã mundial júnior de slalom em 2014.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Weihrauch
Yane Marques - atletismo
Grande surpresa em Londres 2012, quando conquistou a inédita medalha de bronze no pentatlo moderno, Yane Marques manteve a sequência de bons resultados, conquistando uma prata e um bronze em dois mundiais da modalidade. Além disso, ela já conseguiu derrotar as últimas duas campeãs olímpicas: Laura Asadauskaite, da Lituânia, e Lena Schöneborn, da Alemanha.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Schmidt
Ágatha e Bárbara Seixas - vôlei
Nenhuma modalidade deu tantas medalhas olímpicas ao esporte brasileiro como o vôlei: 20, sendo seis de ouro. O Brasil é potência mundial na quadra e na areia, tanto no masculino como no feminino. Destaque para as duplas femininas do vôlei de praia, que ocuparam todas as três posições do pódio na Holanda, coroando Ágatha e Bárbara Seixas como campeãs mundiais de 2015.
Foto: Getty Images/G. Arroyo Moreno
Neymar - futebol
Pentacampeão mundial, fábrica de craques e maior exportador de jogadores do mundo. Em Jogos Olímpicos, no entanto, o futebol brasileiro tem um retrospecto decepcionante: três pratas, em 1984, 1988 e 2012. Para quebrar o jejum, o craque Neymar está pedindo dispensa do Barcelona para aproveitar a segunda chance em dois anos de ser campeão no Maracanã e levar o Brasil ao ouro inédito.