Fernando Caulyt / Astrid Prange 4 de agosto de 2015
A um ano do megaevento, expectativa é que obras no transporte público, parques olímpicos e recuperação da Região Portuária sejam os maiores legados. Despoluição da Baía de Guanabara não será concluída.
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Teste na praia de Copacabana: mais de 200 atletas foram à mais famosa praia do Rio de Janeiro para concorrer a uma vaga na prova de triatlo dos Jogos Olímpicos de 2016. Foram 1,5 quilômetro de natação, 10 quilômetros de corrida e 40 quilômetros de ciclismo. O evento-teste, no último domingo (02/08), atraiu mais moradores do que o habitual para Copacabana.
Segundo Delphine Moulin, responsável pelos eventos-teste do Comitê Rio 2016, além da competição, a ideia era testar também a integração da cidade com o evento. "Esse teste é muito importante, pois, por serem realizadas ao ar livre, as provas têm um impacto direto para a população local", argumenta.
No Rio, não só os atletas estão participando de maratonas – a população local também. Há cinco anos que um grande evento sucede ao outro. Depois dos Jogos Mundiais Militares de 2011, da Conferência Rio+20, de 2012, da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014, a cidade se prepara para os Jogos Olímpicos de 2016.
Tudo isso é acompanhado de fortes investimentos. Uma grande parte dos quase 40 bilhões de reais que serão gastos nos preparativos para os Jogos Olímpicos irá para o transporte público. Novos corredores de ônibus rápidos (BRT), veículo leve sobre trilhos (VLT) e a Linha 4 do Metrô, ligando a Barra da Tijuca a Ipanema, vão, juntos, transportar mais de 1,6 milhão de passageiros por dia.
Dentro do prazo
Há anos que a metrópole fluminense parece um grande canteiro de obras. Além dos investimentos para melhorar o transporte público, os parques olímpicos da Barra e Deodoro poderão ser usados pela população e a Região Portuária será completamente transformada.
Até a cerimônia de abertura, em 5 de agosto de 2016, deverão estar prontos 155 quilômetros de corredores de ônibus rápidos, 16 quilômetros de metrô, 28 quilômetros do VLT e 450 quilômetros de ciclovias. Somente a nova linha do metrô deverá transportar 300 mil passageiros por dia. O tempo de viagem entre a Barra e o Centro vai cair pela metade, de mais de uma hora para 34 minutos.
As quatro novas linhas de ônibus rápidos deverão transportar 1 milhão de passageiros por dia e formar uma espécie de espinha dorsal de um projeto para integrar os diversos modais: trem, metrô e bicicleta. Com 28 quilômetros de extensão, o VLT vai ligar o Centro à Região Portuária, passando pela Central do Brasil, Praça XV e pelo Aeroporto Santos Dumont. A linha deverá atender cerca de 300 mil passageiros por dia.
A um ano do início dos Jogos Olímpicos, o cronograma está apertado, mas as obras estão dentro do prazo. A situação no Rio, como admitiu no último dia 29 de julho o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, está como sempre: "Grande progresso, mas nenhum tempo a perder."
Contagem regressiva: o Rio pré-Olimpíadas
Obras e construções estão sendo erguidas em vários cantos da cidade. A expectativa para o início dos jogos, daqui a um ano, se une ao questionamento mundial: todas as obras prometidas serão concluídas a tempo?
Foto: Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio de Janeiro
Um ano para a abertura dos Jogos
Dentro de um ano, olhares de todo o mundo se voltarão para o Brasil: será a primeira vez que os Jogos Olímpicos terão como sede uma cidade da América do Sul. A questão agora é saber se todas as instalações prometidas no Rio de Janeiro ficarão prontas a tempo.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Lacerda
Estádio do Maracanã e Maracanãzinho
Todas as instalações esportivas ficarão localizadas em quatro áreas distintas do Rio: Barra da Tijuca, Deodoro, Maracanã e Copacabana. Ao todo há 56 projetos. O Maracanã será palco das cerimônias de abertura e encerramento, além das finais de futebol. No Maracanãzinho, à esquerda na foto, serão realizadas competições de vôlei. Reformado há dois anos, o Maracanã não passará por nenhuma nova obra.
Foto: Getty Images/M. Stockman
Baía de Guanabara
Um dos principais cartões de visita da cidade e local das competições náuticas, a Baía de Guanabara não estará totalmente despoluída até o início do grande evento. Segundo o prefeito Eduardo Paes, essa será a única exceção. A intenção era que, até 2016, cerca de 80% do esgoto que desemboca na baía fosse tratado, mas a prefeitura já admite que, no máximo, será possível chegar aos 50%.
Foto: Getty Images/M. Stockman
Perigo para a saúde dos atletas?
Estudos recentes sugerem a existência de superbactérias resistentes a antibióticos nas águas da Baía de Guanabara, o que deixou os atletas preocupados. Nas áreas de competições de vela, o desafio é o lixo flutuante. A Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro trabalha para aperfeiçoar os ecobarcos – que coletam o lixo – e instalar barreiras nos rios que contribuem para a poluição da baía.
Foto: picture-alliance/dpa/Scorza
Estádio de Copacabana
O Estádio de Copacabana é um dos locais mais populares dos Jogos Olímpicos do Rio, e é lá que serão realizadas as competições de vôlei de praia. Com mais de quatro quilômetros de comprimento, a arena na praia mais famosa do mundo tem espaço para abrigar cerca de 12 mil pessoas.
Foto: V. Almeida/AFP/Getty Images
Parque Olímpico
Localizado nas regiões Barra da Tijuca e Jacarepaguá, o Parque Olímpico abrigará, entre outros, a Vila Olímpica, o Riocentro, o Velódromo e o Centro de Tênis . Após os jogos ele deverá ser transformado em um complexo esportivo e educacional destinado a estudantes da rede municipal e a atletas de alto rendimento. A maioria das obras deve ficar pronta até o fim do ano.
Foto: Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio de Janeiro
Centro de Tênis
Sete quadras de jogos, com 250 assentos cada, seis quadras de treinos e aquecimento, mais três quadras principais (de 3 mil, 5 mil e 10 mil lugares) estão sendo construídas no Centro de Tênis, que receberá as modalidades de tênis, tênis em cadeira de rodas e futebol para cegos. A previsão é de que ele seja concluído ainda este ano, e que receba grandes torneios internacionais no futuro.
Foto: Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio de Janeiro
Complexo esportivo de Deodoro
O complexo receberá competições como esgrima, hipismo, pentatlo moderno, rugby e mountain-bike. Após os jogos ele deve se tornar um legado esportivo para a região, que tem muitos jovens e poucas áreas de lazer. Com 500 mil metros quadrados, o "Parque Radical" será o segundo maior da cidade, atrás apenas do Parque do Flamengo. Algumas obras ficarão prontas apenas no segundo trimestre de 2016.
Foto: V. Almeida/AFP/Getty Images
Campo de Golfe
Pela primeira vez em 112 anos o golfe voltará a ser disputado nos Jogos Olímpicos. Esse é o terceiro campo de golfe construído no Rio, e justamente em uma das últimas reservas naturais da cidade. A obra está sendo contestada na justiça sob denúncia de crime ambiental e favorecimento de empreiteiras, o que causou indignação em parte da população. A previsão de término da obra é novembro de 2015.
Foto: Getty Images/M. Stockman
Vila Olímpica
Ao todo 17,7 mil atletas e funcionários ficarão hospedados no condomínio com 34 edifícios. Localizados na zona central da Barra da Tijuca, os apartamentos ficam a apenas dez minutos dos locais de competição para metade de todos os atletas. A previsão é que as obras sejam concluídas no primeiro trimestre de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/V. Almeida
Riocentro
Divido em quatro pavilhões diferentes, o Riocentro fica dentro do Parque Olímpico. Já quase finalizado por completo, ele receberá instalações complementares para se adequar às competições de levantamento de peso, tênis de mesa (ambos também na modalidade paralímpica), badminton, boxe e vôlei sentado. Eventos-teste devem ocorrer já em novembro deste ano.
Foto: C. Simon/AFP/Getty Images
Parque Aquático Maria Lenk
Construído para os jogos Pan-Americanos de 2007, o parque leva o nome da nadadora Maria Lenk, que morreu aos 92 anos, três meses antes da inauguração do parque. Quase pronto, ele precisa de adaptações como a construção de uma piscina aquecida. Uma cerca separa o parque aquático da favela Vila Autódromo. Para a Copa e agora para as Olimpíadas, 65 mil pessoas tiveram suas casas desapropriadas.
Foto: Getty Images/M. Tama
Arena Rio
Construída também para o Pan de 2007, a antiga Arena HSBC abrigará as disciplinas de ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica e basquete em cadeira de rodas. Com capacidade para 12 mil pessoas, a arena não é apenas um local para eventos esportivos: shows também são realizados por lá. O local precisa apenas de adaptações e deve ficar pronto no primeiro trimestre de 2016.
Foto: Getty Images/M. Tama
Estádio Olímpico
A ampliação temporária do Estádio Olímpico – que leva o nome do ex-presidente da FIFA João Havelange, mas ficou popularmente conhecido como "Engenhão" – será realizada no primeiro semestre de 2016. O plano é aumentar a capacidade de 45 mil para 60 mil lugares para as provas de atletismo, futebol e rugby.
Foto: V. Almeida/AFP/Getty Images
Arena do Futuro
Na Arena do Futuro serão realizados os torneios de handebol olímpico e golbol paralímpico – para deficientes visuais. famosa pela "arquitetura nômade", a arena não será mais usada após as Olimpíadas: a instalação será desmontada e o material será utilizado na construção de quatro escolas públicas.
Foto: Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio de Janeiro
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"As obras não estão com atrasos significativos. As intervenções que mais nos preocupavam estão dentro de um cronograma muito apertado, mas seguindo o plano para serem entregues dentro do prazo", afirma o ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), que acompanha as construções, em entrevista à DW Brasil.
Lixo continua na Baía de Guanabara
Mas as mudanças que vão mudar a cara do Rio de Janeiro não se estendem às águas. Um dos principais cartões de visita da cidade e local das competições náuticas, a Baía de Guanabara não estará totalmente despoluída até o início do grande evento. De acordo com um estudo encomendado pela agência de notícias AP, os atletas vão competir em águas muito contaminadas e correm o risco de ficar doentes.
A intenção era que, até 2016, cerca de 80% do esgoto que desemboca na baía fosse tratado. Mas a prefeitura já admite que, no máximo, será possível chegar aos 50%. "Esse é um dos pontos que considero que houve erros por parte dos governos federal, estadual e municipal. Especialmente do governo do estado, por não terem feito o planejamento adequado", critica o ministro Nardes.
A Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro afirma que as raias olímpicas da baía, onde serão realizadas as competições náuticas, estão próprias para banho. Essas raias estão localizadas no canal central da baía, onde a proximidade do oceano favorece a renovação das águas.
Para a secretaria, o único desafio nas áreas de competição de vela é o lixo flutuante. Por isso, ela trabalha no aperfeiçoamento dos serviços de ecobarcos – que coletam o lixo – e na implantação de barreiras nos rios que mais contribuem para a poluição da baía.
"Já perdemos o timing da limpeza da Baía de Guanabara", critica Sylvio Maia, coordenador da pós-graduação em gestão e marketing esportivo do Ibmec-RJ. "Vão ocorrer mutirões que facilitarão pontualmente a disputa das provas náuticas e maratonas aquáticas. Mas, depois, voltará tudo ao 'normal'."
Poucos "elefantes brancos"
A prefeitura garante que as instalações esportivas dos Jogos Olímpicos não vão se tornar "elefantes brancos" – estruturas grandes e dispendiosas, quase sem utilização após o evento. Como exemplo negativo, oito dos 12 estádios da Copa do Mundo dão prejuízo, um ano após o final do evento.
O objetivo, segundo a prefeitura, é seguir o exemplo de cidades que sediaram os Jogos e deixaram um legado para a população. Para isso, a prefeitura anunciou um plano em que o Parque Olímpico será transformado num complexo esportivo e educacional na região da Barra e Jacarepaguá, destinado a estudantes da rede municipal e a atletas de alto rendimento.
Já o Parque Olímpico de Deodoro será um espaço aberto ao público, que deverá beneficiar cerca de 1,5 milhão de pessoas de dez bairros e três municípios vizinhos, numa região com grande concentração de jovens e poucas áreas de lazer.
"Para nossa surpresa, o índice de elefantes brancos no Rio será muito pequeno, porque boa parte das edificações está sendo projetada para ser desmontada e revendida ou remontada com outras configurações. A situação da Copa foi mais grave", afirma Valter Caldana, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie.