Festa de abertura "colorida e alegre" dos Jogos não traduz realidade brasileira, marcada pela crise política e desrespeito ao meio ambiente. "Dança e confete" fazem país esquecer do pessimismo sobre preparação do evento.
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A imprensa alemã destaca a empolgação do público e a simplicidade da cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que inundou o estádio do Maracanã em cores nesta sexta-feira (05/08).
A festa deu uma trégua ao pessimismo diante das falhas na preparação da Olimpíada e a crise política, mas Brasil retratado no evento fica num plano idealista.
Der Spiegel: Empolgação – e zombaria
Um evento "colorido, alegre e perfeito", que não mostra a realidade do país que recebe os Jogos. A revista alemã classifica o principal tema do evento de abertura – a sustentabilidade – como "zombaria", citando a poluição das águas do Rio de Janeiro, a inauguração de um campo de golfe numa reserva ambiental na Barra da Tijuca e o sacrifício de uma onça depois do desfile da Tocha Oímpica em Manaus.
O entusiasmo do público era evidente mesmo depois de quatro horas de cerimônia, diz a publicação, mas se converteu em vaias quando o "extremamente impopular e controverso" presidente interino, Michel Temer, anunciou a icônica frase de abertura dos Jogos.
Die Welt: Recepção calorosa, apesar do 7 a 1
A entrada da equipe olímpica brasileira fez o público esquecer a tensão e pessimismo na véspera do início dos Jogos. Teve "dança, canto e confete", mesmo em meio à crise política, e uma recepção calorosa para a equipe olímpica alemã, "apesar do 7 a 1", destaca o jornal. Uma cerimônia colorida, que por sua simplicidade em relação a outras aberturas de Olimpíadas, encantou os espectadores. O desfile da modelo Gisele Bündchen, vestida de prata, foi um dos pontos altos do evento.
Süddeutsche Zeitung: Gisele e o homem ao piano
O orçamento reduzido para a cerimônia de abertura exigiu improviso. "Apesar de todas as restrições, foi uma festa magnífica", escreve o jornal. A melodia suave de Paulinho da Viola ao cantar o hino nacional e milhares de luzes de celular na arquibancada impressionaram o público. Os trajes típicos usados por atletas olímpicos de diferentes países chamaram a atenção. A entrada da Rússia, após o escândalo de doping, foi acompanhada de aplausos e vaias. A noite, marcada por festa e dança, foi coroada pelo desfile de Gisele Bündchen ao som de Garota de Ipanema ao piano.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: Olimpíadas começam como um sonho
A abertura repleta de bom humor, música e dança fez o Rio de Janeiro esquecer dos problemas para a preparação dos Jogos. A bossa nova, o samba e as vozes das favelas deram alívio à dor e ao sofrimento. Gisele Bündchen cruzou a maior passarela da sua carreira, diz a publicação.
Momentos inesquecíveis nas aberturas de Olimpíadas
As cerimônias de abertura de Jogos Olímpicos são sempre acompanhadas de suspense ou efeitos especiais surpreendentes, como Muhammad Ali acendendo a pira olímpica ou uma sósia da rainha Elizabeth descendo de paraquedas.
Foto: dapd
1896: primeiros Jogos da Era Moderna
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade aconteceram de 776 a.C. até 393, quando o imperador Teodósio os proibiu por considerá-los pagãos. Eles ressurgiram por iniciativa do francês Pierre de Coubertin. De 6 a 15 de abril de 1896, se realizaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Eles foram abertos em Atenas pelo então rei George da Grécia, e neles soou pela primeira vez o Hino Olímpico.
Foto: picture-alliance/dpa
1920: Bandeira e juramento olímpicos
Dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, os Jogos foram realizados na Antuérpia. Pela primeira vez, foi içada a bandeira olímpica, concebida em 1913. As seis cores dos anéis – azul, amarelo, preto, verde e vermelho – podem ser encontradas em bandeiras nacionais. Os anéis representam os continentes habitados do planeta. Pela primeira vez, atletas fizeram o juramento olímpico.
Foto: picture-alliance/Xinhua
1928: Amsterdã e a ordem do desfile
A maior parte do cerimonial de hoje em dia já foi adotada em Amsterdã em 1928. Pela primeira vez, atletas gregos abriram o desfile, sendo seguidos pelas delegações dos demais países, na ordem alfabética de acordo com o nome no idioma do país-sede, cuja delegação é a última a desfilar.
Foto: Getty Images/Central Press
1936: primeiro revezamento da tocha
Em 1936, aconteceu pela primeira vez o revezamento da tocha olímpica, de Atenas até Berlim, onde foi acesa a pira olímpica. Cerca de 3 mil atletas participaram da corrida. A pira olímpica foi acesa pelo atleta alemão Fritz Schilgen (foto). Os Jogos Olímpicos de Berlim foram usados como instrumento de propaganda do regime nazista.
Foto: picture-alliance/akg-images
1964: homenagem a Hiroshima
Yoshinori Sakai nasceu em 6 de agosto de 1945, exatamente no dia do lançamento da bomba atômica sobre a cidade japonesa. Na abertura dos primeiros Jogos na Ásia, em 1964, o rapaz de 19 anos carregou a tocha olímpica para o estádio em Tóquio. Um momento inesquecível, que virou um símbolo da paz mundial.
Foto: Getty Images
1980: boicote em Moscou
A tensão durante a Guerra Fria ficou evidente nos Jogos em Moscou, em 1980. Em vez da bandeira de seu país, o presidente do comitê olímpico britânico, Dick Palmer (esq. à frente na foto) carregou a bandeira olímpica. Em protesto à invasão do Afeganistão por tropas russas em 1979, o Japão e a Alemanha boicotaram os Jogos junto com os Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
1992: tiro perfeito em Barcelona
Em 1992, o arqueiro paralímpico Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica da 25ª edição dos Jogos Olímpicos em Barcelona, com uma flecha em chamas. Na realidade, a flecha passou muito perto da pira, mas o fogo foi aceso exatamente ao mesmo tempo.
Foto: picture-alliance/Lehtikuva Oy
1996: momento mágico
Quatro anos mais tarde, outro momento emocionante. Muhammed Ali, a lenda do boxe, já visivelmente afetado pela doença de Parkinson, acendeu a pira nos Jogos em Atlanta, nos Estados Unidos. Ele foi uma figura controversa em seu país por ter se negado a combater no Vietnã, mas seus feitos esportivos foram reconhecidos.
Foto: picture-alliance/dpa
2004: vestido mágico em Atenas
A cerimônia de abertura das Olimpíadas segue um rígido protocolo, mas mesmo assim ainda oferece espaço para a criatividade. Enquanto Björk, cantora da Islândia, interpretou "Oceana" em 2004 nos Jogos de Atenas, seu vestido se abriu lentamente num enorme véu, que cobriu as delegações como um tapete.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Baker
2008: superlativos em Pequim
O custo da abertura dos Jogos em Pequim é estimado em 100 milhões de dólares. Quatro anos mais tarde, os de Londres custaram 40 milhões de dólares. A cerimônia na capital chinesa contou com extamente 2.008 percussionistas, usando baquetas iluminadas e tambores tradicionais do país. A apresentação deles foi o ponto alto de um show perfeitamente planejado, que durou três horas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Ugarte
2012: homenagem à rainha
A rainha Elizabeth abriu os Jogos de Londres, em 2012. E com estilo: uma dublê trazida pelo agente 007, James Bond, pulou de paraquedas de um helicóptero. A rainha britânica foi a primeira chefe de Estado a abrir duas Olimpíadas. Como rainha do Canadá, ela já havia feito o mesmo em Montreal, em 1976.