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John Kerry cobra "forte sinal" do Brasil contra desmatamento

14 de maio de 2021

Enviado especial dos EUA para o clima diz em entrevista à "Folha" que Brasil deveria assumir a vanguarda da luta contra a crise climática e que espera para este ano redução significativa da destruição florestal.

John Kerry
"Palavras devem ser apoiadas pela ação concreta a curto prazo", disse John KerryFoto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance

O enviado especial para o clima do governo dos EUA, John Kerry, afirmou que o Brasil, como uma das maiores economias globais, deveria assumir a vanguarda do enfrentamento da crise climática. "O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo e líder regional, o país tem a responsabilidade de liderar", disse o político americano, em entrevista publicada nesta quinta-feira (13/05) pelo jornal Folha de S. Paulo.

Kerry afirmou que está disposto a cooperar com o governo brasileiro para alcançar metas mais ambiciosas na área ambiental, mas ressaltou querer ver progressos concretos neste setor por parte da gestão do presidente Jair Bolsonaro, além de uma "redução significativa" do desmatamento florestal ainda neste ano e "fortes sinais políticos de que o desmatamento ilegal e a invasão não serão tolerados".

"O presidente Bolsonaro se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030 e alcançar a neutralidade climática até 2050. Para atingir qualquer uma dessas metas, o Brasil precisará tomar medidas imediatas para reduzir significativamente o desmatamento em 2021", disse Kerry.

Desmatamento cresce

Entretanto, medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que na Amazônia Legal foram desmatados 581 quilômetros quadrados em abril – 43% a mais do que em abril de 2020 e o maior valor em seis anos.

No mês passado, um levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que o desmatamento da Floresta Amazônica em março foi o maior registrado para o mês em dez anos. E entre agosto de 2019 e julho de 2020, o desmatamento na Amazônia atingiu o maior patamar em mais de uma década, com 11.088 km² de devastação, segundo dados do Inpe.

Em referência às promessas do presidente brasileiro feitas em discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima - convocada pelo presidente americano, Joe Biden - Kerry sublinhou que "as palavras devem ser apoiadas pela ação concreta a curto prazo".

Ele observou que os anúncios de Bolsonaro "foram um passo importante" e ressaltou que o governo do presidente Biden vai "acompanhar como o Brasil toma medidas para implementar esses compromissos e fazer o que puder para apoiar esse processo".

EUA vão checar compromissos

No encontro, realizado no mês passado de forma virtual, Bolsonaro disse que duplicaria os recursos para fiscalização ambiental. Entretanto, apenas um dia depois o presidente cortou verbas que seriam destinadas a projetos de conservação do meio ambiente, controle de incêndios florestais e outros voltados para as mudanças climáticas.

Respondendo a uma pergunta sobre essa aparente contradição, Kerry frisou que Brasília "garante que está discutindo o orçamento internamente e que encontrará recursos para cumprir os compromissos". O americano sublinhou também que Washington irá "procurar confirmação de que esse compromisso foi cumprido".

Com menos dinheiro que o necessário para cobrir as mais de mil operações planejadas por ano, o setor de fiscalização ambiental está perto de se tornar inviável. O corte no orçamento total do Ministério do Meio Ambiente para 2021, que foi de 35,4%, atinge em cheio justamente a área que Bolsonaro prometeu fortalecer durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, em discurso recebido com desconfiança internacional.

Durante a campanha eleitoral à Casa Branca, Biden propôs que países fornecessem ao Brasil 20 bilhões de dólares para combater o desmatamento e disse que o país deveria sofrer repercussões se falhasse nesse objetivo. Na época, Bolsonaro classificou os comentários de Biden de "lamentáveis" e "desastrosos".

md/lf (ots)

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