Jordânia disposta a trocar terrorista por refém do EI
28 de janeiro de 2015
Amã afirma que entregaria extremista iraquiana condenada à morte no país em troca de piloto jordaniano. "Estado Islâmico", porém, ainda não deu provas sobre as condições de saúde do refém.
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O governo da Jordânia afirmou nesta quarta-feira (28/01) estar preparado para atender à exigência do "Estado Islâmico" (EI) e liberar uma terrorista presa no país em troca de um piloto jordaniano mantido refém pelos jihadistas.
"A Jordânia está pronta para libertar a prisioneira Sajida al-Rishawi caso o piloto jordaniano seja libertado ileso", divulgou o canal estatal citando um porta-voz do governo. "Desde o início, nossa posição é no sentido de garantir a segurança do nosso filho, o piloto Muath al-Kasaesbeh".
Ainda não foi confirmado se a negociação incluirá a libertação do jornalista japonês Kenji Goto, ameaçado de morte pelo EI. O prazo de 24 horas dado pelo grupo jihadista para realizar as trocas encerrou-se nesta quarta-feira.
Mais cedo, a mãe de Goto, Junko Ishido, fez um apelo ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, para que salve a vida de seu filho. Em uma gravação divulgada na terça-feira pelos jihadistas, Kenji Goto fez um pedido desesperado para que Rischawi seja liberada, caso contrário, ele e Mu'ath serão assassinados.
Inicialmente, o EI havia feito um pedido de resgate do valor de 200 milhões de dólares ao governo do Japão pela liberação de Goto e de Haruna Yukawa, outro refém japonês que estava em poder dos extremistas. Diante da recusa de Tóquio em pagar o valor, Yukawa foi decapitado.
Sem provas
O ministro do Exterior da Jordânia, Nasser Judeh, publicou no Twitter que seu país não recebeu por parte do grupo extremista qualquer informação com relação ao estado de saúde do piloto Muath al-Kasaesbeh.
"Há um tempo estamos pedimos provas sobre as condições de saúde de nosso herói Mu'ath, mas não recebemos nada", escreveu o ministro.
Kasasbeh caiu nas mãos dos terroristas no dia 24 de dezembro, quando o jato F-16 que pilotava durante uma missão contra o EI caiu no norte da Síria. A Jordânia está entre os países árabes que participam da ação militar liderada pelos Estados Unidos contra o "Estado Islâmico".
A terrorista Sajida al-Rishawi foi presa na Jordânia em 2005 por participar de ataques em Amã que mataram 60 pessoas, tendo sido um deles realizado durante um casamento. Ela sobreviveu ao que seria um ataque suicida porque sua bomba falhou.
Presa, Rischawi foi condenada à morte. O grupo que planejou os ataques no país há dez anos seria o embrião do que é hoje o EI, segundo forças de segurança da Jordânia.
MSB/dpa/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.