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Alemães trabalhadores

2 de agosto de 2009

Estudo coloca Alemanha entre países europeus onde se trabalha mais horas por semana. Porém férias generosas relativizam o quadro. Sindicatos criticam. Imprensa alemã oscila entre consciência social e quase patriotismo.

Muito trabalho, mas não para todosFoto: picture-alliance/ ZB

As jornadas de trabalho da Alemanha estão entre as mais longas da Europa. Por outro lado, o país tem mais férias do que a média. Isto foi o que revelou um estudo da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), sediada em Dublin.

No país trabalha-se, em média, 41,2 horas por semana. Entre os 15 países fundadores da União Europeia, somente os austríacos passam mais tempo no local de trabalho: 41,6 horas. A pesquisa baseou-se em dados de 2008.

Apenas em cinco nações do Leste Europeu, os "novos países-membros", trabalha-se ainda mais. O primeiro lugar absoluto coube à Romênia, com 41,8 horas por semana, seguida da Letônia, Polônia e República Tcheca (41,7). As jornadas mais breves são as da Bélgica e da França, com 38,6 e 38,4 horas semanais respectivamente, e a média do bloco é de 40,4 horas.

Crítica sindical

A jornada efetiva na Alemanha encontra-se, assim, 3,6 horas acima do estipulado no acordo trabalhista, que é de 37,6 horas. A Eurofound explica o fato com a observação que muitos dos assalariados do país têm que fazer horas-extras ou trabalham para empresas não subordinadas aos acordos salariais. O estudo não aborda a forma de remuneração das horas-extras.

Em compensação, com 30 dias pagos, além de 10,5 feriados, os alemães estão entre os que gozam as férias mais longas, só perdendo para a Suécia, onde a regra é 33 dias. A média dos 27 países da UE fica em 25,2 dias. No Chipre e na Estônia, os trabalhadores só têm direito a 20 dias de férias por ano.

Este detalhe muda consideravelmente o quadro, no tocante às horas de trabalho realmente cumpridas: com 1.650,6 horas por ano, os alemães estão quase 100 horas abaixo da média na UE (1.744,2). Somente na Suécia (1.635), Dinamarca (1.628) e França (1.568) se trabalha ainda menos. No outro extremo da escala encontra-se a Romênia: lá se trabalha 1.856 horas por ano, com direito a magros 21 dias de férias pagas e sete feriados.

A Confederação Sindical Europeia criticou severamente a tendência às jornadas longas: "Isto prejudica a vida familiar e possivelmente compromete, a longo prazo, também a saúde. Quem deseja criar mais ocupação em tempos de altas taxas de desemprego deveria dividir o trabalho por mais ombros, "em vez de fazer cada vez menos pessoas trabalharem cada vez mais", sugeriu a organização.

Reações da imprensa

Entretanto, na Alemanha a divulgação foi pretexto para demonstrações beirando o patriotismo, por parte da imprensa. Vários jornais evocaram uma frase famosa do ex-chanceler federal Helmut Kohl, segundo a qual o país corria o perigo de se transformar num "parque de lazer coletivo".

O Mitteldeutsche Zeitung rebateu que "um parque de lazer coletivo não vence nenhum campeonato mundial de exportações, com funcionários preguiçosos não se mantém em funcionamento a indústria mais produtiva do mundo". E concluiu que "os empregados da Alemanha mostraram-se capazes de espantosos sacrifícios, em todos os sentidos, para enfrentar os desafios da globalização nas empresas. Está na hora de isso ser devidamente recompensado".

O Westdeutsche Zeitung enfatizou que "contamos entre os mais diligentes da Europa, o que chama a atenção, sobretudo na comparação com as outras grandes nações. E, "embora muitos não gostem de ouvir isso" – uma referência aos sindicatos: "Trata-se de uma boa notícia, pois somente com muito empenho a Alemanha se imporá na concorrência internacional".

Já o diário socialista Neues Deutschland, de Berlim, tirou conclusões menos entusiásticas da pesquisa: "Assim se desmente o conto da carochinha de que não há trabalho suficiente para todos. Para a horda crescente dos desempregados a queixa não é uma jornada semanal excessiva, mas sim a falta de ocupação. E, no entanto, a solução seria tão simples: distribuir com justiça todas as horas de trabalho necessárias entre os que têm um emprego e os que gostariam de ter. O único problema, aparentemente insolúvel no capitalismo, é a ganância sistêmica das empresas."

AV/afp/dpa
Revisão: Simone Lopes

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