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'Turnê tropical'

21 de março de 2011

Para imprensa alemã, em meio a desastre nuclear no Japão e revoltas no Oriente Médio e norte da África, Barack Obama teria mais o que fazer, do que visitar América Latina.

Brasil foi primeira etapa da viagem à América LatinaFoto: AP

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, embarcou para o Chile nesta segunda-feira (21/03), na segunda etapa de seu giro pela América Latina, destinado a reforçar laços econômicos e investimentos na região.

No domingo, ponto alto de sua visita ao Brasil, Obama discursou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O discurso foi feito após a França, os Estados Unidos e o Reino Unido lançarem mísseis sobre a força aérea líbia para impedir que as tropas de Muammar Kadafi massacrassem opositores que lutam há um mês contra seu regime. Obama não mencionou os ataques.

Em sua primeira viagem à América Latina como presidente, fez questão de sinalizar o Brasil – país que, nas palavras de Obama "mostra que uma ditadura pode se transformar em uma próspera democracia" – como um exemplo do que os líderes no Oriente Médio poderiam alcançar.

"Estamos vendo a luta por esses direitos se desdobrar por todo o Oriente Médio e norte da África. Nós vimos as pessoas na Líbia assumirem uma postura corajosa contra um regime determinado a brutalizar seus próprios cidadãos. Em toda a região temos visto jovens se levantarem: uma nova geração exigindo o direito de determinar seu próprio futuro", disse Obama.

Imprensa alemã critica visita

Obama visitou Rio de Janeiro com esposa Michelle, duas filhas e a sograFoto: dapd

Para a imprensa alemã, a viagem de Obama à America Latina em um momento tão delicado é, no mínimo, questionável. Segundo reportagem do jornal alemão Der Tagesspiegel, o momento não poderia ser mais desfavorável. "Desastre nuclear no Japão e revoltas no norte da África – há quem diga que o presidente dos Estados Unidos teria mais o que fazer do que visitar a América Latina", publicou o diário no sábado.

"Quem se interessa pela visita de Obama ao Brasil quando mísseis dos Estados Unidos são lançados sobre a Líbia?", questionou nesta segunda-feira (21/03) o jornal Frankfurter Rundschau. O artigo observa que "não apenas a imprensa norte-americana se pergunta se neste momento Copacabana seria o lugar certo para Obama estar – junto com a esposa Michelle, as duas filhas e até a sogra".

O portal Spiegel Online indaga se Obama poderia começar uma guerra e depois simplesmente "fazer de conta que está tudo bem", e destaca que enquanto mísseis eram lançados sobre a Líbia, Obama "fazia um tour pelo Brasil" e não falou quase nada sobre a guerra. Em artigo publicado nesta segunda-feira, o Spiegel Online diz que os opositores de Obama nos Estados Unidos difamam sua visita ao Brasil como "viagem tropical".

Reação nos EUA foi mais positiva

Obama e Dilma assinaram acordos para redução de barreiras comerciaisFoto: dapd

De acordo com artigo publicado no jornal The New York Times, a viagem de Obama à América Latina foi "ofuscada desde o início" pela campanha militar multilateral na Líbia, para defender os insurgentes dos ataques do ditador Muammar Kadafi. A administração de Obama já falava há muito tempo sobre os benefícios econômicos para os EUA, especialmente com a visita ao Brasil, e que, portanto, as autoridades da Casa Branca estariam confiantes de que a ausência de Obama em Washington seria "facilmente justificável de maneira que a maioria dos norte-americanos poderia apoiar", explicou o NYT.

O diário Washington Post disse que Obama "procurou ligar os eventos no Oriente Médio e norte da África com o Brasil", ao exaltar as virtudes da democracia brasileira. Segundo artigo publicado no domingo, as autoridades da Casa Banca fizeram um grande esforço para mostrar que o presidente continuava envolvido com a crise da Líbia.

O Wall Street Journal publicou um editorial sobre o assunto, considerando a visita de Obama ao Brasil "importante". Segundo o artigo de opinião, as visitas ao Chile e a El Salvador poderiam ter sido adiadas, mas haveria boas razões para Obama ter ido ao Brasil, entre elas, os interesses geopolíticos compartilhados pelos Estados Unidos com a maior democracia da América Latina.

Interesse no petróleo brasileiro

EUA têm interesse em comprar petróleo brasileiroFoto: DW

Washington vê a visita como uma oportunidade para reafirmar a influência norte-americana região totalmente negligenciada pelo predecessor de Obama, George W. Bush. A presidente Dilma Rousseff e Obama assinaram uma série de acordos, que incluem a redução de barreiras comerciais e a ampliação da produção de petróleo e gás brasileiros no Golfo do México.

O petróleo encontrado recentemente na costa brasileira pode equivaler a duas vezes as reservas norte-americanas. "Queremos ajudar o Brasil com tecnologia e apoiar o desenvolvimento dessas reservas de petróleo de forma segura, e quando vocês estiverem prontos para começar a vendê-lo, seremos um dos seus melhores fregueses" disse Obama.

Autora: Francis França
Revisão: Augusto Valente

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