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Jornal alemão contrata russa que protestou contra guerra

11 de abril de 2022

Marina Ovsyannikova será colaboradora do jornal "Die Welt", reportando da Rússia e da Ucrânia. Jornalista invadiu o estúdio de um noticiário de TV russo em horário nobre para se posicionar contra a invasão da Ucrânia.

Foto de Marina Ovsyannikova falando a uma emissora de TV
Marina Ovsyannikova prestou depoimento por 14 horas após o protestoFoto: Mikhail Japaridze/Tass/dpa/picture alliance

O jornal alemão Die Welt anunciou nesta segunda-feira (11/04) que contratou a jornalista russa Marina Ovsyannikova, que ganhou as manchetes no mundo todo por protestar contra a guerra na Ucrânia durante um noticiário da TV estatal russa no horário nobre.

Ovsyannikova "agora é correspondente freelancer do Die Welt, reportando da Ucrânia e da Rússia, entre outros lugares", afirmou a Axel Springer, editora à qual pertence o jornal, em comunicado. O primeiro texto dela já está publicado no site do jornal. 

A jornalista de 43 anos escreverá para o jornal e também será colaboradora regular do canal de notícias Welt na televisão.

Ulf Poschardt, editor-chefe do Die Welt, elogiou a coragem de Ovsyannikova "em um momento decisivo" e disse que ela "defendeu as virtudes jornalísticas mais importantes, apesar da ameaça de repressão estatal". "Estou animado para trabalhar com ela", acrescentou.

Ovsyannikova, por sua vez, afirmou que o Die Welt "representa o que está sendo defendido com tanta veemência pelas pessoas corajosas na Ucrânia: a liberdade". "É minha tarefa como jornalista defender essa liberdade", disse ela.

Como foi o protesto

A jornalista era editora do Canal 1, da Rússia, e invadiu o estúdio do principal noticiário noturno da emissora, em meados de março, segurando um cartaz com frases contra a guerra na Ucrânia, escritas em russo e em inglês. Foi possível ouvi-la dizer "parem a guerra, não à guerra!", enquanto a apresentadora continuava a ler as notícias no teleprompter.

O protesto foi ao ar por vários segundos, antes de os diretores se apressarem para colocar no ar uma reportagem. O acontecimento foi visto como altamente incomum, já que na Rússia a mídia estatal é estritamente controlada.

Antes de realizar o protesto, Ovsyannikova gravou uma mensagem na qual se disse "envergonhada" de trabalhar no Canal 1. "O que está acontecendo na Ucrânia é um crime, e a Rússia é o agressor." Ela contou que seu pai é ucraniano.

Ela foi detida e interrogada por 14 horas antes de ser libertada e condenada a pagar uma multa de 30 mil rublos (cerca de 280 dólares). No entanto, ela ainda pode enfrentar processos, que podem levar a anos de prisão, devido às rígidas leis russas.

Recentemente, ela disse à agência de notícias Reuters que estava preocupada com sua segurança e esperava que seu protesto abrisse os olhos dos russos para a propaganda de Moscou.

Alerta internacional

O caso chamou a atenção internacional e despertou um alerta sobre a liberdade de imprensa na Rússia. Depois do protesto, Ovsyannikova rejeitou uma oferta de asilo na França, feita pelo presidente francês, Emmanuel Macron, dizendo que queria ficar na Rússia.

As televisões estatais são as principais fontes de informação para milhões de russos, seguindo à risca as posições adotadas pelo Kremlin, que retrata a invasão da Ucrânia como uma "operação militar especial" para desmilitarizar e "desnazificar" a Ucrânia.

Em 4 de março, o Parlamento russo aprovou uma lei que torna ilegais ações públicas com o objetivo de "desacreditar" o Exército e espalhar notícias falsas sobre a invasão russa na Ucrânia. Violações podem ser punidas com até 15 anos de prisão.

Desde o início do conflito na Ucrânia, sites de vários veículos de comunicação russos e estrangeiros foram bloqueados na Rússia, incluindo a DW. No final de março, o jornal independente russo Novaïa Gazeta anunciou a suspensão de suas publicações impressas e digitais, incluindo redes sociais, até o final da invasão russa da Ucrânia.

le (AFP, Reuters, ots)

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