Jornal alemão investigará passado de seu dono com a Stasi
18 de novembro de 2019
Holger Friedrich, proprietário do "Berliner Zeitung", é acusado de ter atuado como informante da polícia secreta da antiga Alemanha Oriental. Milionário escondeu informação quando comprou a publicação em setembro.
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O jornal alemão Berliner Zeitung anunciou nesta segunda-feira (18/11) que investigará o passado de seu novo dono, depois que veio à tona a informação de que Holger Friedrich foi informante do antigo Ministério de Segurança do Estado (MfS), conhecido como Stasi, a polícia secreta da República Democrática Alemã (RDA).
O passado de informante de Friedrich na Stasi foi revelado pelo jornal Welt am Sonntag na última sexta-feira. Com o codinome Peter Bernstein, o milionário da tecnologia teria espionado colegas durante o período em que prestou serviço militar na Alemanha comunista no final da década de 1980. Segundo a reportagem, ele teria feito denúncias graves contra alguns soldados.
Friedrich admitiu ter assinado um termo de colaboração com a Stasi, mas disse que fez isso numa situação de emergência para se livrar da prisão depois de ter sido detido. O milionário destacou que "nunca trabalhou ativamente" para o serviço secreto e se recusou a cooperar como informante. Em comunicado, ele afirmou que na época chegou a informar sobre a situação a um soldado a quem deveria espionar. Segundo Friedrich. ambos teriam decido junto quais informações seriam repassadas.
A Stasi foi o instrumento mais importante da ditadura comunista da RDA, espionando não somente inimigos externos, mas também sua própria população. Sem a Stasi, o impopular Partido da Unidade Socialista da Alemanha (SED) dificilmente conseguiria ter mantido seu poder por mais de 40 anos.
Quando o Muro de Berlim caiu em 1989, por volta de 91 mil funcionários fixos estavam na folha de pagamento do MfS, que contava ainda um exército adicional de mais de 100 mil informantes mais ou menos voluntários, os chamados funcionários não oficiais (IM). Eles espionavam em todos os lugares: no trabalho, na vizinhança, no esporte, na igreja, às vezes até na própria família.
Nesta segunda-feira, os editores-chefes do Berliner Zeitung, Jochen Arntz e Elmar Jehn, anunciaram que, depois de um intensivo debate nos últimos dias, resolveram investigar jornalisticamente o passado de seu chefe, reunindo informações de arquivos e entrevistando vítimas que aparecem nos documentos, além de especialistas.
"O Berliner Zeitung irá noticiar sobre o caso, como sempre noticiou: de forma clara e independente", ressalta o editorial assinado por Arntz e Jehn. O texto afirma ainda que questionará Friedrich sobre os motivos que o levaram a esconder esse passado quando ele adquiriu o grupo ao qual o jornal pertence.
Friedrich e sua esposa, Silke, compraram o grupo de mídia, que passa por uma grave crise financeira e estava à beira da falência, em setembro deste ano. Na época, os dois foram vistos com os salvadores do jornal fundado na Alemanha Oriental em 1945, um dos poucos que sobreviveram à Queda do Muro de Berlim, e que posteriormente ganhou uma posição de destaque entre os diários da capital alemã.
"Vamos questionar nosso editor sobre isso. Queremos saber seus motivos, queremos entender como tomou a decisão", ressalta o editorial, que traz uma frase do responsável pelo arquivo da Stasi, Roland Jahn, na qual ele afirma que ninguém deveria ser condenado para sempre.
"Mesmo aqueles que se envolveram com a Stasi deveriam ter uma nova chance hoje. Mas ninguém deve ser livrado da responsabilidade por suas ações", disse Jahn, na citação lembrada no editorial.
Em uma entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung, o editor do Berliner Zeitung Michael Maier pontuou que julgamentos precipitados deveriam evitados nestes casos. "Acho perturbador como as sombras do passado podem chegar ao presente, no qual Friedrich, provavelmente, nem pode mais julgar o que era certo ou errado", destacou.
Dez filmes de espionagem que se passam na Alemanha
De James Bond a Ethan Hunt, muitos agentes secretos já passaram pela Alemanha — mesmo que virtualmente. Berlim parece ser a cidade ideal para diretores como Spielberg e Hitchcock gravarem seus thrillers.
Foto: 2014 Twentieth Century Fox
"Ponte dos Espiões"
Muitas partes do novo filme de Steven Spielberg foram filmadas em Berlim e nos seus arredores. A produção reconta a primeira de uma série de trocas de espiões que aconteceram na Ponte Glienicke, conhecida como a "Ponte dos Espiões" — daí o título do filme. Spielberg não é o primeiro cineasta a retratar agentes secretos na Alemanha. Veja a seguir mais exemplos.
Foto: 2014 Twentieth Century Fox
"Cinco dedos"
O filme ("Five fingers", 1952) dirigido por Joseph L. Mankiewicz fala sobre um agente secreto famoso durante a Segunda Guerra Mundial e que trabalhou para os nazistas — amplamente conhecido por seu codinome, Cícero. Apesar de outros filmes de espionagem serem gravados em locações, este foi rodado, principalmente, em estúdio.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-Images
"Os espiões também amam"
Esse thriller da Alemanha Ocidental, originalmente intitulado "Spion für Deutschland" (1956), também retrata as ações de um agente secreto alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Estrelado por Martin Held e Nadja Tiller, ele foi filmado em Berlim e nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/dpa
"A guerra secreta"
Werner Klinger é um dos quatro cineastas que dirigiram esse antológico filme de espião ("The secret agents", 1965). O filme é composto por histórias dirigidas por um alemão, um francês, um italiano e um britânico. Filmado em Berlim, é estrelado por Henry Fonda e Robert Ryan.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
"Cortina rasgada"
Alfred Hitchcock filmou esse thriller de espionagem ("Torn curtain", 1966) em estúdio. No entanto, algumas cenas foram feitas em Berlim. A equipe de filmagem gravou na capital alemã e enviou as imagens para Hollywood, assim Hitchcock poderia usar o material em seu filme. O elenco inclui atores alemães, além de estrelas americanas, como Julie Andrews e Paul Newman.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
"007 contra Octopussy"
Uma grande parte do 13º filme ("Octopussy", 1983) do agente secreto mais popular da história do cinema, James Bond, foi gravada em Berlim. O agente 007, interpretado por Roger Moore, é visto no Checkpoint Charlie, em frente ao Muro e em uma cena de perseguição no antigo circuito de AVUS.
Foto: picture-alliance/dpa/ KPA
"O inocente"
Anthony Hopkins, Isabella Rossellini e Campbell Scott estrelam o filme ("The innocent", 1993). Ele é baseado na "Operação Ouro", que aconteceu durante a Guerra Fria quando agentes da CIA e do MI6 construíram um túnel sob o setor russo da capital alemã. A direção é de John Schlesinger.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
"Missão Impossível 3"
Para o terceiro filme da série "Missão Impossível", o diretor J.J. Abrams e o ator Tom Cruise queriam gravar, inicialmente, no Reichstag (o prédio do Parlamento alemão). Mas o governo não permitiu que eles gravassem no edifício — um conselho decidiu que ele não deveria ser usado em filmes comerciais. A equipe teve que construir os sets de filmagem no Babelsberg Studio, nos arredores de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa
"O segredo de Berlim"
O filme de Steven Soderbergh ("The good german", 2006) também demonstra como estúdios podem substituir locações reais. A história se passa na Berlim do pós-guerra, mas foi filmada em Los Angeles. No entanto, Soderbergh inseriu, na película em preto e branco, cenas de arquivo reais da então destruída cidade.
Foto: picture-alliance/dpa
"Jogo de espiões"
Este thriller de espionagem ("Spy game", 2001), estrelado por Robert Redford e Brad Pitt, também se passa em Berlim, mas não foi filmado na Alemanha. Locações em Budapeste foram usadas para reproduzir a capital alemã. Isso pode ser notado em algumas cenas, porque certo elementos da paisagem não existem de fato em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa
"O agente da U.N.C.L.E"
Misturando comédia, aventura e espionagem, o filme ("The man from U.N.C.L.E", 2015) dirigido por Guy Ritchie contém muitas cenas que se passam em Berlim na década de 1960. Henry Cavill interpreta um agente secreto americano competindo com um espião russo. O filme recria a atmosfera da Berlim dividida — ainda que tudo tenha sido feito por computador.
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