Jornalista inglês e indigenista desaparecem na Amazônia
6 de junho de 2022
Dom Phillips, colaborador do jornal britânico "The Guardian", sumiu no domingo em região palco de conflitos. Segundo organização, indigenista Bruno Pereira, que acompanhava o repórter, vinha recebendo ameaças.
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O jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira desapareceram no último fim de semana enquanto viajavam pelo Vale do Javari, uma região remota do estado do Amazonas palco de conflitos entre indígenas e invasores de terras. O caso levantou temor sobre a segurança da dupla. Segundo informações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), da qual Bruno faz parte, o indigenista é alvo de ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores da região. A Polícia Federal foi acionada para investigar o desaparecimento.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (06/06), a Unijava informou que Philip e Pereira desapareceram quando percorriam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. Eles não foram vistos desde a manhã de domingo (5), quando deixaram a comunidade de São Rafael. De acordo com a Univaja, a dupla deveria ter chegado em Atalaia do Norte por volta de 8h ou 9h de domingo, "o que não ocorreu".
A Univaja afirma que enviou equipes de busca às 14h e às 16h do mesmo dia, mas elas não tiveram sucesso. A notícia do desaparecimento provocou comoção entre jornalistas brasileiros, que cobraram as autoridades para a realização de buscas na região.
Colaborador do jornal The Guardian e de outras publicações internacionais, Dom Phillips, que mora no Brasil há 15 anos, viajou para a região para fazer entrevistas para um livro que está escrevendo. Segundo texto do The Guardian, Phillips participou de uma das expedições de Pereira à mesma região em 2018.
A Univaja aponta que a equipe da entidade vinha recebendo "ameaças em campo" e que Pereira, que também é servidor licenciado da Funai, era especificamente alvo de intimidações por sua atuação contra invasores de terras indígenas.
"A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International", disse a entidade em nota.
"Precisamos de uma missão de busca urgente. Precisamos da polícia, precisamos do exército, precisamos de bombeiros, precisamos de forças de defesa civil. Não temos tempo a perder", disse Beto Marubo, um líder indígena da região que conhece a dupla, segundo reportagem do jornal The Guardian sobre o desaparecimento.
Um porta-voz da Guardian News & Media, "a empresa que controla o jornal disse: O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível."
O editor de meio ambiente do jornal, Jonathan Watts, foi um dos primeiros a lançar o alerta sobre o desaparecimento em uma mensagem no Twitter, solicitando ajuda das autoridades brasileiras. "Dom Phillips, um fenomenal jornalista, colaborador regular do Guardian e um grande amigo, está desaparecido no Vale do Javari na Amazônia depois de ameaças de morte ao indigenista e companheiro de viagem Bruno Pereira, que também está desaparecido. Ligando para as autoridades brasileiras para lançar imediatamente uma operação de busca", escreveu Watts.
O líder indígena Marubo disse ainda ao jornal que a região de Javari, que abriga mais de 20 grupos indígenas, passa por uma situação tensa e perigosa, que se agravou nos últimos anos – principalmente após o assassinato em 2019 de um colaborador da Funai chamado Maxciel Pereira dos Santos.
"Sob o governo Bolsonaro, a pressão aumentou ainda mais porque os invasores se sentiram empoderados e se tornaram mais agressivos", disse Marubo ao jornal, acrescentando que "gangues organizadas" de garimpeiros e caçadores ilegais estão "saqueando" as florestas e rios da região impunemente.
jps (ots)
Amazônia em estado de emergência
A Floresta Amazônica enfrenta suas piores queimadas em anos. As chamas deixam rastro de destruição na região e geram comoção internacional. Imagens revelam a proporção assustadora da tragédia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Amazônia em chamas
Uma fumaça espessa cobre grande parte da Região Amazônica. A dimensão do avanço da destruição da floresta é melhor percebida de cima. Paredes enormes de fogo consomem grandes áreas verdes e dão o tom da evolução da catástrofe ambiental.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Bombeiros em ação contínua
Apesar dos troncos de árvores queimados, o fogo continua sua destruição. Milhares de bombeiros colocam sua vida em risco para tentar conter as chamas. Aparentemente, seus esforços não são suficientes, e o avanço das queimadas chamou a atenção do mundo para a Amazônia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Fumaça chega a regiões distantes
Em 19 de agosto, a fumaça das queimadas chegou até São Paulo, contribuindo para o fenômeno que transformou o dia em noite na cidade. A nuvem de fumaça atraiu a atenção do Brasil e do mundo para a situação na Amazônia. Essa fumaça também foi percebida no Peru e recentemente no Uruguai.
A inércia do governo brasileiro diante do avanço das chamas levou a comunidade internacional a pressionar o presidente Jair Bolsonaro a tomar medidas para combater as queimadas. Solicitado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, o tema foi debatido na cúpula do G7. Depois disso, Bolsonaro fez um pronunciamento anunciando o uso das Forças Armadas nos esforços contra o fogo.
Foto: Youtube/TV BrasilGov
Aumento no número de queimadas
Numa corrida contra o tempo, vários estados da região declararam situação de emergência e pediram ao governo federal o envio de militares. As estatísticas não são nada animadoras. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a 18 de agosto as queimadas aumentaram 82% em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram registrados quase 72 mil focos de incêndio.
No dia seguinte ao anúncio de Bolsonaro, os primeiro militares entraram em ação contra o fogo em Rondônia. O governo disse que disponibilizou 44 mil militares para combater os incêndios que estão devastando a Amazônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Brazil Ministry of Defense
Catástrofe causada por humanos
Grandes incêndios não são uma exceção em países sul-americanos. Eles são frequentes durante o período de seca. No entanto, também são causados pela ação humana. Ambientalistas dizem que o recente aumento no número de queimadas é responsabilidade de agricultores, que através do fogo pretendem ganhar terras para o pasto.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/L. Correa
Infraestrutura em perigo
Os incêndios não são um risco apenas em florestas distantes. A foto tirada na região de Cuiabá, no Mato Grosso, mostra a proximidade das chamas a locais habitados. Na beira da rodovia 070, que liga o Brasil à vizinha Bolívia, as chamas resplandecem de forma ameaçadora aos veículos que passam por ali.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/a. Penner
Protestos contra o governo Bolsonaro
Brasileiros foram às ruas em várias cidades do país para protestar contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Em várias ocasiões, o presidente defendeu o desenvolvimento econômico da Amazônia e chegou a propor a seu homólogo americano, Donald Trump, a exploração conjunta da região.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/M. Sayao
Preocupação mundial
As atitudes do governo brasileiro em relação ao meio ambiente e ao avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia provocaram também dezenas de manifestações em frente às representações diplomáticas do Brasil em várias cidades europeias e sul-americanas. A maioria dos atos foi convocada pelo movimento Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção).
Foto: DW/C. Neher
Ajuda internacional
Devido à magnitude dos incêndios, o Brasil recebeu apoio da comunidade internacional. O G7 ofereceu 20 milhões de dólares ao país. A oferta, porém, foi recusada por Bolsonaro. O Reino Unido disponibilizou 10 milhões de libras para o combate às queimadas, e Israel prometeu o envio de um avião equipado para essa finalidade.