Pecuarista é suspeito de envolvimento em irregularidades na contratação de um navio-sonda pela Petrobras. Prisão preventiva faz parte de nova fase da Lava Jato, da qual participam 140 policiais federais.
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A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta terça-feira (24/11), num hotel em Brasília, o pecuarista José Carlos Bumlai. A prisão preventiva faz parte da 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Passe Livre.
Empresário do setor sucroalcooleiro, Bumlai é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e teve acesso ao gabinete do petista durante os oito anos de governo. Os dois foram apresentados pelo ex-governador do Mato Grosso do Sul Zeca do PT, em 2002.
A prisão de Bumlai se deve pela suspeita de envolvimento com operações irregulares na contratação do navio-sonda Vitória 10000, pela Petrobras. A Lava Jato diz ter "indícios concretos de fraude" na contratação do grupo Schahin para operar a sonda.
O empresário Salim Schahin, um dos acionistas do grupo, confessou as irregularidades em depoimento à PF – ele fechou acordo de delação premiada na semana passada. Segundo o delator, a empresa ganhou o contrato em troca de um empréstimo de 12 milhões de reais concedido a Bumlai pelo banco Schahin.
O pecuarista, por sua vez, nega qualquer relação com as licitações firmadas pela Petrobras, e chegou a dizer que o empréstimo citado por Salim foi quitado com uma entrega de embriões bovinos – diferente do que o empresário afirmou em depoimento.
Outras suspeitas
Além das irregularidades envolvendo o grupo Schahin, Bumlai foi citado em depoimento de outro delator da Lava Jato. O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, disse que o pecuarista teria acertado o pagamento de 5 milhões de dólares em propina para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e outros dois ex-gerentes da estatal.
Baiano afirmou ainda ter transferido 2 milhões de reais a uma nora de Lula, sem especificar nomes. Segundo o lobista, quem ordenou o pagamento foi o próprio Bumlai. Tanto o ex-presidente quanto o pecuarista negaram as acusações.
Nova fase da Lava Jato
Além do mandado de prisão preventiva contra Bumlai, a nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira, cumpre ainda 25 mandados de busca e apreensão e seis mandados de condução coercitiva, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Campo Grande.
Participam da operação 140 policiais federais e 23 auditores fiscais. São investigados, nessa fase, crimes de fraudes a licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Segundo as investigações, "complexas medidas de engenharia financeira" foram usadas pelos suspeitos "com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos", pagos a agentes públicos e diretores da Petrobras.
Bumlai estava em Brasília porque prestaria depoimento na CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados, às 14h30 desta terça-feira. A comissão investiga o pecuarista por suspeitas de tráfico de influência e favorecimento em contratos firmados pelo banco estatal. Ele está sendo transferido para a Superintendência da PF, em Curitiba.
EK/abr/ots
Entenda a Operação Lava Jato
A Polícia Federal apura, desde 2014, um esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos. Entenda a maior investigação sobre corrupção já conduzida no país.
Foto: AFP/Getty Images
O início
A Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2014. Começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. O nome vem de um posto de gasolina em Brasília, um dos alvos da PF no primeiro dia de operação.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
O esquema
Executivos da Petrobras cobravam propina de empreiteiras para, em troca, facilitar as negociações dessas empresas com a estatal. Os contratos eram superfaturados, o que permitia o desvio de verbas dos cofres públicos a lobistas e doleiros, os chamados operadores do esquema. Eles, por sua vez, eram encarregados de lavar o dinheiro e repassá-lo a uma série de políticos e funcionários públicos.
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As figuras-chave
O esquema na Petrobras se concentrava em três diretorias: de abastecimento, então comandada por Paulo Roberto Costa; de serviços, sob direção de Renato Duque; e internacional, cujo diretor era Nestor Cerveró. Cada área tinha seus operadores para distribuir o dinheiro. Um deles era o doleiro Alberto Youssef (foto), que se tornou uma das figuras centrais da trama. Todos os citados foram condenados.
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As empreiteiras
As grandes construtoras do país formaram uma espécie de cartel: decidiam entre si quem participaria de determinadas licitações da Petrobras e combinavam os preços das obras. Os executivos da estatal, por sua vez, garantiam que apenas o cartel fosse convidado para as licitações. Entre as empresas investigadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Vários executivos foram condenados.
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Os políticos
O núcleo político era formado por parlamentares de diferentes partidos, responsáveis pela indicação dos diretores da Petrobras que sustentavam a rede de corrupção dentro da estatal. Os políticos envolvidos recebiam propina em porcentagens que variavam de 1% a 5% do valor dos contratos, segundo os investigadores. O dinheiro foi usado, por exemplo, para financiar campanhas eleitorais.
Foto: J. Sorges
De Cunha a Dirceu...
A investigação só entrou no mundo político em 2015, quando a Lava Jato foi autorizada a apurar mais de 50 nomes, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos. Desde então, viraram alvo de investigação políticos como os ex-parlamentares Eduardo Cunha (foto) e Delcídio do Amaral, ambos cassados, os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e o ex-ministro José Dirceu.
Foto: Reuters/A. Machado
... e Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em dez processos relacionados à Lava Jato, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. As denúncias indicam que Lula teria recebido benefícios das empreiteiras OAS e Odebrecht, envolvendo imóveis no Guarujá e São Bernardo do Campo. Em 2018, ele foi preso e teve uma nova candidatura à Presidência barrada.
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As prisões
A Lava Jato quebrou tabus no Brasil ao encarcerar altos executivos de empresas e importantes figuras políticas. Entre investigados e aqueles já condenados pela Justiça, estão o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; os ex-ministros José Dirceu (foto) e Antonio Palocci, entre outros.
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As delações
Os acordos de delação premiada são considerados a força-motriz da operação. Depoimentos como o de Marcelo Odebrecht (foto) chegam com potencial para impactar fortemente a investigação. O acordo funciona assim: de um lado, os delatores se comprometem a fornecer provas e contar o que sabem sobre os crimes, além de devolver os bens adquiridos ilegalmente; de outro, a Justiça reduz suas penas.
Foto: Getty Images/AFP/H. Andrey
O juiz
Responsável pela Lava Jato na 1° instância, o ex-juiz federal Sergio Moro logo ganhou notoriedade. Em manifestações, foi ovacionado pelo povo e chegou a ser chamado de "herói nacional". Mas também foi acusado de agir com parcialidade política. Em 2018, deixou o cargo e aceitou ser ministro do presidente Jair Bolsonaro, cuja candidatura foi beneficiada pela prisão de Lula no ano anterior.
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Expansão internacional
Se começou num posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato ganhou proporções internacionais com o aprofundamento das investigações. Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países (veja no gráfico acima). Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.
Um terremoto político
Ao longo de cinco anos, a Lava Jato influenciou o impeachment de Dilma Rousseff, enfraqueceu o governo Michel Temer e contribuiu para a derrocada de velhos caciques do PT, MDB e PSDB. Em 2018, Lula, então favorito para vencer as eleições presidenciais, foi preso e teve a candidatura barrada. As investigações também fortaleceram um discurso antissistema que beneficiou a campanha de Bolsonaro.
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Críticas e revelações
A Lava Jato também acumulou acusações de parcialidade e de abusos em seus métodos. Em 2019, os procuradores da força-tarefa foram duramente criticados por tentarem criar uma fundação para gerenciar uma multa bilionária da Petrobras. No mesmo ano, conversas reveladas pelo site "The Intercept" apontaram suspeita de conluio entre Moro e os procuradores na condução dos processos, o que é proibido.