José Sarney declara voto em Lula "pela democracia"
25 de outubro de 2022
Ex-presidente diz que petista é o melhor para o "Estado de bem-estar social" e que voto em Bolsonaro teria como consequência "anos de autocracia, um regime de força construído na mentira sistemática e no abuso do poder".
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O ex-presidente da República José Sarney (MDB) declarou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em texto divulgado nesta segunda-feira (24/10), intitulado Voto pela democracia, ele afirma que o petista é o melhor para o Estado de bem-estar social e que o voto em Jair Bolsonaro (PL) é contra as instituições.
"O voto em Lula — que já tem seu lugar na História do Brasil como quem levou o povo ao poder e como responsável por dois excelentes governos — é voto pela democracia, pela volta ao regime de alternância de poder, pela busca do Estado de bem-estar social. A diferença é clara", acrescenta.
"O voto em Bolsonaro é voto contra as instituições, que terá como consequência anos de autocracia, um regime de força, construído na mentira sistemática e no abuso do poder", diz.
Primeiro presidente civil do Brasil após mais de 20 anos de ditadura militar, Sarney, cujo governo foi de 1985 a 1990, também critica o chamadoorçamento secreto, classificando o mecanismo envolvendo emendas de relator como "campo privilegiado para os interesses escusos".
Ele faz um paralelo entre o atual governante e outros líderes mundiais ultraconservadores, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o ex-presidente americano Donald Trump e o premiê da Hungria, Viktor Orbán.
Fake news, xenofobia, racismo
O ex-presidente enxerga entre as "marcas" de Bolsonaro "a proliferação das fake news", além da "xenofobia, o racismo, a divisão da sociedade". Ele completa: "Assim se hostiliza, agora, os nordestinos, os pobres, como se fossem brasileiros inferiores. Isso atenta contra todos os princípios democráticos e até éticos."
Sarney escreve que "raras vezes se viu o ataque sistemático do Executivo contra o Judiciário" e ressalta o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) na redemocratização do Brasil.
Sarney é o terceiro ex-presidente brasileiro a declarar voto em Lula, depois dos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Já Fernando Collor de Mello (PTB) apoia Bolsonaro, enquanto Michel Temer (MDB) escolheu ficar neutro.
Entre os que já concorreram ao Planalto, apoiam a candidatura de Lula: José Serra (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede), Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSB), que é candidato à vice-presidente na chapa do petista.
md/lf (ots)
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.