Amizade e família são importantes para a juventude alemã, que mantém uma boa relação com os pais e acredita que o futuro será bom. Xenofobia causa mais medo do que a imigração, e receptividade aos imigrantes cresce.
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Contar com bons amigos, ter alguém em quem confiar e levar uma vida familiar boa são, nessa ordem, os valores mais importantes para os jovens alemães, revela a pesquisa Shell Jugendstudie, divulgada nesta terça-feira (13/10).
Para a maioria, não é o trabalho que define a vida. Mais de 90% acreditam que a família não deve ser negligenciada em favor da vida profissional.
Um bom emprego precisa ser interessante, mas, em primeiro lugar (para 95%) deve passar estabilidade e segurança. Para quatro em cinco jovens é importante adaptar as horas de trabalho a outras necessidades pessoais, e três quartos gostariam de trabalhar em tempo parcial quando tiverem filhos.
Mesmo assim, conciliar carreira e vida particular é considerada uma tarefa "difícil" por metade dos entrevistados, e o desejo de ter filhos passou de 69% em 2010 para 64% em 2015.
Os jovens alemães também têm uma boa relação com os pais, como declararam 92% dos enntrevistados. Quase três em cada quatro disseram que educariam seus filhos da mesma maneira que foram educados. Esse percentual cresce desde 2002.
Em relação ao futuro, eles estão mais otimistas: 61% acreditam que o seu futuro pessoal será bom. Para a sociedade alemã, também preveem anos melhores. Pela primeira vez desde a década de 1990, a maioria dos jovens (52%) vê de forma positiva o futuro da sociedade alemã.
Imigração e xenofobia
O jovem alemão também está mais receptivo aos imigrantes que chegam ao país. Em 2006, 58% dos jovens achavam que a Alemanha deveria receber menos imigrantes. Em 2015, essa percentual caiu para 37%, e 39% dos entrevistados acham que o país deve receber mais imigrantes, ante 24% em 2006.
Os jovens têm mais medo da xenofobia – quase metade dos entrevistados – do que da imigração (29%). A rejeição aos turcos – grupo que, em 2013, somava quase 3 milhões de pessoas na Alemanha –, por exemplo, passou de 27% em 2010 para 20% em 2015.
Mesmo assim, há diferenças marcantes entre as regiões das antigas Alemanhas Ocidental e Oriental. Enquanto um em cada três jovens de cidades do oeste é a favor da limitação da entrada de imigrantes, essa proporção sobe para um em cada dois no leste, incluindo Berlim.
O estudo, que traçou um perfil da atual juventude na Alemanha, ouviu 2.558 entrevistados entre 12 e 25 anos. Eles foram ouvidos entre os início de janeiro e a metade de março, ou seja, antes da atual crise dos refugiados.
Política sim, partidos não
O interesse dos jovens por política também aumentou: 41% se dizem "politicamente interessados". Em 2002, no auge do desinteresse, eram 30%.
As atividades políticas mais comuns incluem o boicote a mercadorias e a assinatura de petições – preferencialmente na versão online. Um em cada quatro jovens já participou de alguma manifestação, e 10% estão envolvidos com iniciativas de cidadania.
"A geração jovem é exigente, quer participar e abrir novos horizontes", diz um dos condutores da pesquisa, o professor Mathias Albert, da Universidade de Bielefeld. O mesmo estudo, em 2002, classificou a juventude alemã como "pragmática e pouco ideológica".
Os partidos políticos, porém, dificilmente conseguirão tirar alguma vantagem desse crescente interesse por política. Os jovens demonstraram não confiar nas organizações políticas estabelecidas. E até grandes empresas, igrejas e bancos são vistos com desconfiança. A maioria confia mais na polícia, nos tribunais e em grupos ambientalistas e de direitos humanos.
Conectados
A preferência por petições online faz sentido se for considerado que 99% dos entrevistados afirmam ter acesso à internet. Os jovens passam mais de 18 horas por semana conectados – em 2006, eram menos de 10 horas. A maioria (57%) usa a internet para acessar redes sociais ao menos uma vez por dia.
Ao mesmo tempo, os jovens se mostram conscientes sobre o uso de informações pessoais na rede e não perdem o olhar crítico. Mais de 80% deles acreditam que grandes corporações, como Google e Facebook, estão ganhando muito dinheiro a suas custas.
Papel da Alemanha
A expansão do terrorismo e o conflito no leste da Ucrânia também estão em debate entre os jovens. Em 2010, 44% deles se preocupavam com a possibilidade de uma guerra na Europa. Neste ano, o número subiu para 62%. Cerca de 73% dos entrevistados temem ataques terroristas.
A maioria dos jovens acha que a Alemanha deve desempenhar um papel importante como país mediador de conflitos, mas sem intervenções militares diretas.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.