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Jovens do Gueto de Varsóvia recontam a História

Sebastian Schubert (rw)16 de novembro de 2005

Testemunhos das crianças judias do Gueto de Varsóvia serão adaptados em material didático e recontados em salas de aula. Projeto teuto-polonês quer mostrar nova Alemanha e nova Polônia, mas serve também de advertência.

Relatos à espera da divulgação

O complexo relacionamento entre as vizinhas Alemanha e Polônia teve seu auge na Segunda Guerra Mundial, encerrada há 60 anos. Uma tentativa de aproximação entre os dois países, longe dos campos econômico ou político, está acontecendo entre jovens de ontem e de hoje.

Para vencer a incompreensão e estabelecer novas bases de relacionamento, uma associação teuto-polonesa chamada Contra o Esquecimento – Pela Democracia está resgatando a história das crianças judias que viviam no Gueto de Varsóvia durante a ocupação nazista.

Diário de Anne FrankFoto: APTN

"Se pensarmos, por exemplo, na importância do diário de Anne Frank, que nem esteve num campo de concentração, podemos projetar o interesse que estes relatos despertam", salienta Andreas Eberhardt, presidente da associação.

A partir de 1º de dezembro próximo, serão analisados, em conjunto com o Instituto Histórico Judeu da capital polonesa, os depoimentos feitos por 485 jovens entre 12 e 18 anos logo depois do final da guerra, entre 1945 e 1947.

Reconsiderar o passado

O objetivo primordial dos quatro pesquisadores do grupo é disponibilizar as narrações em livros de História usados em salas de aula tanto alemãs como polonesas. Para adaptar esta "revisitação da História" ao currículo escolar alemão, a associação conta com o apoio da Universidade de Leipzig.

Andreas Eberhardt explica que, mesmo na Polônia, as vivências das crianças judias durante a Segunda Guerra Mundial não foram abordadas nas aulas de História, nem constam do material didático.

Nazistas escoltam judeus na capital polonesa em 1943Foto: AP

"Nossa meta é mostrar que a História não se ocupa apenas com o que está escrito nos livros. Queremos provar que ela, afinal de contas, é feita por pessoas", prossegue.

Eberhardt espera que os escolares de hoje possam, de alguma maneira, identificar-se com as narrações feitas a seu tempo por jovens entre 12 e 18 anos de idade. "É mais compreensível assimilar o que se passou com um perseguido do que entender o inconcebível número de seis milhões de judeus mortos."

Jovens testemunhas das crueldades nazistas

Naturalmente que o significado histórico destes fatos é percebido de forma diferente em salas de aula alemãs e polonesas. Por isso a preocupação de que as conclusões do projeto sejam avaliadas em 2006 por profissionais da educação.

O principal trabalho consiste na tradução das 485 narrativas, pois grande parte foi escrita em russo, polonês ou hebraico. Apenas cinco depoimentos são em alemão. "Alguns são extremamente comoventes, outros emocionantes. Hoje nem podemos mais imaginar a dimensão deste sofrimento", diz o presidente da associação.

Um exemplo que o chocou profundamente é contado por um jovem de 17 anos. Ele narra um episódio acontecido enquanto um grupo de judeus se escondia de uma batida dos nazistas. "De repente, uma das mulheres no esconderijo perdeu os nervos e começou a gritar, colocando todos em perigo. Alguém do grupo, então, estrangulou a mulher. Quem, neste caso, é criminoso e quem é vítima?", questiona Eberhardt.

Em busca de verbas

Arquivos guardam os relatos dos jovens em Varsóvia

Os relatos não contêm apenas tragédias. Também outros fatos do dia-a-dia da guerra são testemunhados nos relatos dos 485 jovens. Por fim, os pesquisadores pretendem apurar os endereços e reunir, na medida do possível, o maior número de testemunhas que ainda vivem para que contem como passaram os últimos 60 anos.

O principal obstáculo dos trabalhos, no momento, é juntar a verba para o projeto, já que a associação se financia com doações e as contribuições de seus 2300 filiados. Depois de três anos de preparativos, foi conseguido o apoio da Fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro, que havia sido criada para a indenização dos sobreviventes dos trabalhos forçados no nazismo.

"Cada euro será bem aplicado", acredita Eberhardt. Para ele, projetos como este frutificam mais do que "grandes discursos pela compreensão entre os povos. Queremos mostrar que hoje existe uma Alemanha diferente da daquela época e que a Polônia hoje também não é mais a mesma".

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