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Jovens e radicais

Flávia Magalhães18 de março de 2006

Cresce na Alemanha a participação de jovens em movimentos de extrema direita. Alto desemprego e instabilidade familiar são algumas das causas do fenômeno.

Movimentos extremistas e xenófobos ainda deslumbram jovens alemãesFoto: AP

O extremismo de direita voltou a ser manchete na Alemanha na última semana. Desta vez, o episódio que desencadeou as discussões foi a proibição de um show do cantor Konstantin Wecker, planejado para o último 8 de Março em Halberstadt, no estado da Saxônia-Anhalt.

O músico de Munique, que é simpatizante do Partido de Esquerda (PDS), se apresentaria na cidade dentro de sua turnê Antifa Tour 2006, cujo slogan é "nazistas: saiam da nossa cidade". O dinheiro arrecadado iria para a associação cultural Zora, voltada para a busca de alternativas de lazer viáveis e saudáveis para os jovens da região.

Ameaças e alvarás


Após ter sido concedido o alvará para o show, o mesmo foi cassado pela prefeitura local. O motivo: a ameaça do diretor regional do Partido Nacional Democrático (de extrema-direita), Matthias Heyder, de reivindicar os direitos de utilização do mesmo salão para seus eventos e reuniões.

Além disso, Heyder exigiu que a abreviatura de "antifascismo" fosse retirada dos cartazes de divulgação do show. Para os especialistas em Direito Constitucional, o argumento apresentado por Heyder tem amparo legal. E esta não foi a primeira vez que este artifício foi utilizado pelos partidos de extrema direita.

Extremistas: de Leste a Oste em ação

Jovens envolvidos em movimentos nacionalistasFoto: AP

Os dados oficiais do Departamento de Defesa da Constituição (Bundesverfassungsschutz) revelam que o extremismo de direita existe em todo o país, embora seja mais presente na área da antiga Alemanha Oriental.

No Oeste, o extremismo é mais velado e ainda controlado pela sociedade. Contudo, os medos e os problemas são os mesmos do Leste da Alemanha, onde a violência mais clara, direta e brutal acontece. No Leste, onde o contexto social é às vezes mais problemático, os disseminadores do extremismo de direita obtêm mais sucesso.

A região da Renânia do Norte-Vestfália (que fica no Oeste e não no Leste do país), lidera, com 116 casos, o ranking das estatísticas de 2004 sobre delitos envolvendo extremistas de direita e atos criminosos por motivos políticos. Mas os dados mudam de figura quando comparados ao número de habitantes.

Os Estados da ex-Alemanha Oriental ocupam, aí, o topo das estatísticas. Brandemburgo lidera com 4,08 delitos por cem mil habitantes, seguido pela Saxônia-Anhalt com 2,81 delitos por cem mil habitantes. A Renânia do Norte-Vestfália ocupa somente o 10º. lugar, com 0,64 casos por cem mil habitantes.

"Público" jovem

Dados parciais do ano de 2005 (janeiro a novembro) registram 9.453 delitos, 2.300 a mais do que no mesmo período do ano anterior. A maior concentração das infrações é encontrada nos estados da Renânia do Norte-Vestfália e da Saxônia-Anhalt. Considerando-se, porém, o total de habitantes de cada Estado, pode-se afirmar que a região oriental é a mais atingida pelo extremismo de direita.

Aumento no número de membros NPD, partido de extrema direitaFoto: AP

Paralelamente, o partido de extrema direita NPD contabiliza 1.016 membros na Saxônia-Anhalt, e vangloria-se de ter mais integrantes do que o Partido Verde na região. O número de integrantes oficiais do partido chegou, em 2005, a mais de seis mil. Especialistas acreditam também que a intimidade do NPD com a cena jovem tenha contribuído – e muito – para o seu crescimento.

De modo geral, cresceram os números de integrantes dos movimentos extremistas na Alemanha. De 3800, em 2004, eles passaram a 4100 em 2005. O número de organizações nazistas também aumentou no mesmo período, subindo de 87 para 105.

Ações governamentais

O governo federal desenvolve algumas estratégias de prevenção do fenômeno. O programa "Jovens pela tolerância e democracia – contra o extremismo de direita, o ódio e o anti-semitismo" é um dos exemplos. Incentivando a participação democrática e o engajamento civil, principalmente entre os jovens, o programa objetiva incentivar a abertura a outras culturas e a tolerância.

O investimento total de 192 milhões de euros tem possibilitado mais de 3.600 projetos pedagógicos e de capacitação profissional, divididos em três sub-grupos: o sub-programa CIVITAS (contra o extremismo de direita nos Estados da ex-Alemanha Oriental), o XENOS (viver e trabalhar na diversidade) e o ENTIMON (pela dignidade e respeito).

Leia mais sobre o novo visual dos radicais de direita.

"Genro ideal"

Adeus aos coturnos militares: nova tática inclui visual mais leveFoto: AP

Distantes dos coturnos militares, jaquetas com padrões de camuflagem e badalação das grandes cidades, os novos radicais de direita passaram a adotar a imagem do "genro ideal", instalados em pequenas cidades e áreas rurais, principalmente no Leste da Alemanha.

Em alguns casos, os novos radicais se escondem atrás de aparências de sérios homens de negócios. Ou ainda, com o projeto Morar melhor (schöner Wohnen), procuram se instalar em casas abandonadas, reformando-as e disseminando ódio contra estrangeiros e exilados políticos.

Discretos e voláteis

Os extremistas de direita parecem mais mais agressivos e melhor organizados do que nunca. Eles utilizam os mais modernos meios de comunição e ganham novos adeptos através de programas culturais e de lazer. Os jovens atraídos têm a sensação de pertencerem a um grupo e integram-se à ideologia praticada.

Com a proibição de associações radicais, prevista na Constituição, os extremistas começaram a se organizar de outras formas, mais discretas e voláteis, cujo controle é mais difícil. As camaradagens surgiram nos anos 90 como alternativa para os partidos. Não são associações nem têm estatutos e seus pontos de encontro são de difícil rastreamento.

Respostas simples a perguntas complexas

As pretensões de um novo "estilo de vida" emergente surgem num cenário com alto índice de desemprego, sobretudo entre os jovens. O êxodo populacional deixa áreas extensas praticamente desertas. Além disso, falta preparo e capacidade de reflexão sobre problemas sérios como integração e preconceito racial.

Desemprego e falta de capacitação preocupam os jovensFoto: AP

Nesse contexto conturbado em que vivem jovens perdidos, os radicais de direita parecem dar respostas simples a perguntas complexas. Quando um jovem se pergunta por que ele não consegue uma vaga para um curso profissionalizante ou um emprego, a resposta mágica aparece: porque os estrangeiros roubaram as vagas.

Quando estes estrangeiros vêm para o país, eles se tornam a raiz de todo o mal e um perigo para a sociedade. Assim, não é necessário explicar ao jovem confuso que exatamente estes estangeiros são necessários para garantir o financiamento da previdência, uma vez que a taxa de natalidade no país nunca foi tão baixa, com uma arrecadação fiscal insuficiente e a segurança social provocando rombos no orçamento.

Falta de informação sobre a imigração

Repetições em torno do mesmo temaFoto: dpa

Os extremistas fazem uso do tema "estrangeiros" na Alemanha com abundância. Ressentimentos anti-semitas são incitados. Contribuições tendenciosas sobre o passado do nacional-socialismo se espalham. A resposta fácil economiza tempo e esforço nas explicações, além de ajudar a conquistar novos adeptos entre os jovens. Desta forma, o NPD vai aumentando o seu capital político.

Saiba o que os movimentos extremistas têm feito para atrair os jovens.

Música como instrumento

Para alcançar seu objetivo de "conquistar as cabeças" para depois "conquistar a rua e o Parlamento", o NPD lançou o programa "Pátio da Escola". Através da distribuição de material de propaganda e CDs de música, o partido espera ganhar novos adeptos. Paráfrases de célebres slogans nazistas permeiam os textos das músicas, evidenciando o caráter de hostilidade contra estrangeiros.

Maren Brandenburger, do Departamento de Defesa da Constituição da Baixa Saxônia, acredita que o sistema de propaganda do NPD tenha atingido grandes proporções, equiparando-se a empresas especializadas na comercialização de produtos via catálogos.

Mau desempenho escolar

Perfil do novo radical: jovem com problemas escolaresFoto: picture-alliance/dpa

Em uma pesquisa apresentada pela Central Federal de Educação Política (Bundeszentrale für politische Bildung), os jovens com tendências extremistas de direita parecem ser menos otimistas com relação ao futuro do que outros da mesma faixa etária.

Paralelamente, parecem estar menos motivados na escola. São, em geral, os alunos com as maiores dificuldades de aprendizagem e com resultados mais baixos, o que gera uma grande insatisfação familiar.

Via de regra, os jovens provêm de famílias unidas, mas os pais exercem um controle muito rígido e têm tendências a praticar a punições físicas. A estrutura e a situação econômica da família parecem não influenciar o comportamento radical.

A pesquisa mostra que posturas extremistas são mais difundidas entre os homens do que entre as mulheres, e principalmente entre os menores de 14 anos. Além disso, o extremismo de direita encontra mais adeptos entre aqueles que não freqüentam o Gymansium (pilar do sistema de ensino alemão que permite o ingresso em uma universidade).

Estes jovens apresentam um grande potencial de violência e acreditam não ter nenhuma influência sobre a própria vida. Possuem extrema auto-confiança, que pode ser entendida como presunção ou forma de compensar frustrações. Apresentam tendências a uma vida tranqüila e sem riscos, na qual há poucas novidades. Aproveitar a vida e ganhar dinheiro faz parte da lista de objetivos, embora se esforçem pouco para alcançá-los, concluem os pesquisadores.

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