Onze homens e mulheres são detidos após protagonizar cena peculiar no antigo campo de concentração na Polônia. Causa do protesto, que teria incluído sacrifício de um carneiro, segue desconhecida.
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O antigo campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, foi palco de uma cena incomum nesta sexta-feira (24/03). Onze pessoas foram detidas pela polícia polonesa depois de terem tirado suas roupas, sacrificado um carneiro e se acorrentado uns aos outros no memorial.
O protesto, ainda sem causa conhecida, ocorreu na entrada do local, logo em frente ao famoso portão de ferro com a inscrição "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta). Sobre o portão, foi pendurada uma faixa branca com a palavra "Love" (amor) em vermelho. Um drone filmava toda a cena.
Segundo um porta-voz da polícia regional, Sebastian Glen, os guardas do museu reagiram rapidamente e retiveram o grupo até a chegada da polícia. Entre os detidos havia sete homens e quatro mulheres, entre 20 e 27 anos, sendo seis poloneses, quatro bielorrussos e um alemão.
"Não sabemos como e quando o carneiro foi morto, nem se foi sacrificado no local ou se foi trazido já sem vida", disse Glen à agência de notícias AFP. Segundo ele, uma faca foi encontrada nas imediações do museu-memorial, que precisou suspender temporariamente suas visitas nesta sexta-feira.
A porta-voz da polícia local, Malgorzata Jurecka, informou que o grupo foi levado à delegacia para prestar depoimento e deve provavelmente ser indiciado por "avarias a monumento histórico".
"Estamos chocados e indignados com a tentativa de usar este memorial para um protesto, ofendendo a memória de milhares de vítimas. É um ato repreensível", declarou, também à AFP, o porta-voz do museu, Bartosz Bartyzel.
Auschwitz-Birkenau, maior campo de extermínio nazista, foi aberto como museu-memorial em 1947 e declarado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade em 1974. Calcula-se que, entre 1940 e 1945, os nazistas tenham assassinado ali mais de 1,1 milhão de pessoas, a maioria judeus, além de ciganos, homossexuais, católicos e presos soviéticos e poloneses.
EK/afp/ap/efe/lusa
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.