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Judeus sentem ares de mudança na Alemanha

Jennifer Abramsohn (sm)13 de janeiro de 2005

Enquanto o Congresso Mundial dos Judeus reflete sobre as conclusões de seu encontro anual em Bruxelas, os líderes judeus da Alemanha prosseguem o debate sobre anti-semitismo, imigração e o futuro do judaísmo alemão.

Sinagoga de Rostock inaugurada em setembro passado: comunidade aumentaFoto: AP

Anti-semitismo na Europa e o fortalecimento do diálogo inter-religioso foram os temas centrais do encontro de dois dias do Congresso Anual dos Judeus. Mas, pouco depois de o encontro se iniciar, defendendo uma abordagem multifacetada do combate ao anti-semitismo, o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel, apelou para um tom diferente, ao criticar o que ele considera uma "nova qualidade" do anti-semitismo no país. Durante um discurso feito em Wuppertal, Spiegel disse que muitos judeus se sentem inseguros na Alemanha. Ele se referiu ao crescente prestígio dos partidos de extrema direita NPD e DVU, aos crescentes atentados contra cemitérios judaicos e aos preocupantes comentários de personalidades públicas, como o arcebispo católico Joachim Meisner, que recentemente comparou o aborto ao holocausto.

Paul Spiegel, presidente do Conselho Central dos Judeus da AlemanhaFoto: AP

Afluência do Leste Europeu

Uma outra questão que gera polêmica entre os políticos alemães é a imigração judaica. O governo em Berlim apresentou recentemente um projeto de lei para restringir a imigração dos judeus do Leste Europeu, que vêm se deslocando para a Alemanha em grande número há dez anos. Durante os últimos três anos, a Alemanha recebeu mais migrantes judeus do que Israel.

Esta afluência é resultado de uma lei aprovada no Leste alemão em 1990, pouco antes da reunificação. Para judeus russos entrarem na Alemanha, dita a lei em vigor desde 1991, basta que eles comprovem a ascendência judaica. Desde então, 70 mil judeus provenientes da antiga União Soviética imigraram para a Alemanha, onde agora se concentra a terceira maior comunidade de judeus vindos do Leste Europeu, após os Estados Unidos e Israel.

Mais judeus, mais sinagogas

A grande afluência de judeus do Leste fortaleceu de diversas formas o judaísmo alemão. Elevou, por exemplo, o número de sinagogas no país, cujas 83 comunidades contam ao todo 104 mil membros.

Antes da ascensão dos nazistas ao poder, havia 503 mil judeus na Alemanha; após a Segunda Guerra, em 1950, eram apenas 15 mil.

Mas a chegada dos imigrantes do Leste Europeu, que em grande parte não eram judeus praticantes na antiga União Soviética, gerou certos problemas dentro da comunidade. Em Berlim, onde se concentra a maior parte dos novos imigrantes, há quem reclame do fato de os recém-chegados se utilizarem dos serviços sociais da comunidade sem participar das atividades religiosas.

Além disso, segundo revelou um relato do diário Berliner Zeitung, grande parte dos novos imigrantes não conseguiu arrumar emprego durante este período de recessão econômica no país, passando a depender da ajuda social.

Otto Schily, ministro do InteriorFoto: dpa

Em reação a isso, o ministro do Interior, Otto Schily, apresentou recentemente um plano para limitar a imigração de judeus da antiga União Soviética. O diário Süddeutsche Zeitung noticiou que os Estados alemães, que integram a câmara alta do Parlamento alemão, o Bundesrat, já manifestaram sua aprovação.

Leia mais sobre os planos de restringir a imigração de judeus do Leste Europeu para a Alemanha »»


Nova regulamentação

Apesar de não haver nenhuma informação oficial neste sentido, relatos de imprensa propagam que a lei vai exigir desses imigrantes o domínio do idioma alemão e os pressupostos para obter um emprego, além de idade inferior a 45 anos e um certificado que comprove a ligação oficial com a comunidade judaica do país de origem.

Dannyel Morag, rabino da sinagoga de Regensburg. A comunidade judaica local soma 700 pessoas, em grande parte russos recém-imigrados.Foto: AP

O Conselho Central dos Judeus repudia a nova lei. Spiegel considera algumas regras "passíveis de discussão e outras completamente inaceitáveis". "Basta comparar a quantidade de judeus assassinados no holocausto e o número de imigrantes: a proporção diz tudo", declarou Spiegel.

"Ponto final nas fraudes"

Michael Lawron, fundador da sinagoga Gescher Lamassonret em Colônia, observou que "todo mundo sabe, inclusive dentro da comunidade judaica, que existe fraude no processo de aceitação", acrescentando que é preciso pôr um ponto final nisso. O problema é "chegar a um consenso de quem deveria ser aceito".

Para Lawton, a obrigatoriedade de se provar a ligação com uma comunidade judaica na antiga União Soviética é sinal de dois pesos e duas medidas. Afinal, muitos judeus não praticantes foram mortos no holocausto, pois o critério era a ascendência judaica. "Se a idéia é proporcionar uma compensação para o holocausto e proteger as pessoas de anti-semitismo, o padrão que deveria valer é o mesmo imposto durante o holocausto", argumenta ele.

Durante toda a última década, Israel lançou vários apelos a fim de que os judeus da antiga URSS imigrem para o Estado judaico e não para a Alemanha.

Futuro para os judeus na Alemanha?

David Denysenko, 4, participando do serviço em memória às vítimas da Noite do Pogrom (1938), na sinagoga de RegensburgFoto: AP

David Gall, que editou até pouco tempo atrás na internet o jornal Hagalil para combater o anti-semitismo, concorda com os israelenses. Para ele, os judeus do Leste Europeu deveriam mudar para Israel e não para a Alemanha, pois "não há futuro para os judeus na Alemanha. A história dos judeus na Alemanha deveria se encerrar".

Por outro lado, Gall afirma que a Alemanha parece estar se abrindo para o judaísmo. Um sinal disso seriam as diversas iniciativas do governo para combater o anti-semitismo. Em grande parte, trata-se, contudo, de iniciativas ineficientes e vazias, diz ele: "Este país realmente não quer judeus aqui. Vêem-se sinais disso por toda parte".

Apesar disso, Gall diz compreender por que os judeus do Leste Europeu preferem imigrar para a Alemanha a ir para Israel: "Em primeiro lugar, tudo é parecido: o clima, a comida, a cultura. São Petersburgo e Berlim não são tão diferentes. Tel Aviv, por sua vez, é outra coisa. Além disso, a situação financeira é mais promissora na Alemanha", justifica ele.

Gall também lembra que isso é uma questão de segurança: "Em Israel, há bombas explodindo em supermercados. Isso não soa muito convidativo".

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