Tribunal da Saxônia-Anhalt determina que igreja em que Martinho Lutero pregava na Alemanha pode manter em sua fachada a escultura medieval conhecida como "Judensau". Termo considerado ofensivo significa "porca judia".
Anúncio
Um tribunal alemão decidiu nesta terça-feira (04/02) que uma obra de arte medieval antissemita conhecida como "Judensau" pode permanecer na fachada da Igreja de Santa Maria, em Wittenberg, no leste do país. O caso tinha sido levado à Justiça por um membro da comunidade judaica local.
"Judensau" significa "porca judia" – um termo altamente ofensivo – e era comum nas igrejas medievais na Alemanha e em outros países europeus.
O tribunal do estado da Saxônia-Anhalt, localizado em Naumburg, argumentou que a escultura faz parte do edifício antigo, que também é um Patrimônio Mundial da Unesco e, portanto, não deve ser tocada.
O "Judensau" em Wittenberg está na fachada da Igreja de Santa Maria desde 1305. A escultura retrata pessoas identificadas como judias sugando as tetas de uma porca, enquanto um rabino levanta o rabo do animal. Uma inscrição apresenta uma versão sem sentido do hebraico.
Michael Düllmann, que havia entrado com a ação na Justiça, argumentou que a escultura representa "uma difamação e um insulto ao povo judeu", com "terrível efeito até hoje". Ele havia sugerido retirar a obra da igreja e colocá-la no vizinho Museu Martinho Lutero.
Sobre a decisão da Justiça, Düllmann disse estar decepcionado, mas feliz por provocar o debate dentro da Igreja Protestante alemã. Ele afirmou que vai recorrer da decisão junto ao Tribunal Constitucional Federal da Alemanha e que está preparando o caso para levá-lo, se necessário, ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), localizado em Estrasburgo, na França.
Igreja de Martinho Lutero
Martinho Lutero, o ex-monge católico que foi uma das figuras centrais da Reforma Protestante, viveu em Wittenberg e pregava naquela igreja. Ela se tornou o local da primeira celebração de missas em alemão em vez de latim, razão pela qual a Unesco concedeu ao prédio o status de Patrimônio Mundial.
Lutero menciona a obra de arte ofensiva em Wittenberg especificamente em seu livro de 1543 intitulado Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi (Do inefável nome e das gerações de Cristo, em português).
O tom antissemita compara o povo judeu ao diabo. O livro, juntamente com outros escritos antissemitas de Lutero, foi mais tarde usado pelo partido nazista para promover o antissemitismo.
A obra de arte em Wittenberg tem sido motivo de controvérsias e, em 1988, no 50º aniversário da Noite dos Cristais, um memorial aos 6 milhões de judeus mortos durante o Holocausto também foi construído no subsolo da igreja em resposta a um protesto contra a escultura altamente ofensiva.
O pastor local, Johannes Block, disse que a Igreja também considera a escultura inaceitavelmente ofensiva. Mas ele argumentou que ela "não fala mais por si só como uma peça solitária, mas está embutida em uma cultura da memória" graças ao memorial construído em 1988.
"Nós não queremos esconder ou abolir a história, mas seguir o caminho da reconciliação com e através da história", frisou Block.
Além disso, uma placa fornece informações sobre a escultura em alemão e inglês. A maioria das igrejas com obras semelhantes a "Judensau" na Alemanha se livrou delas no passado.
Tudo começou na porta da igreja do castelo da cidade. Ali, Martinho Lutero teria pregado as teses que mudaram o mundo. Essa é apenas umas das muitas locações originais da Reforma em Wittenberg.
Foto: picture alliance/dpa/Peter Endig
Igreja do Castelo de Wittenberg
Ainda hoje, Martinho Lutero encontraria seu caminho no centro histórico: as vielas, a praça do mercado, as casas – tudo está como há 500 anos. Também a Igreja do Castelo continua dominando a paisagem urbana da cidade localizada no centro da Alemanha e banhada pelo rio Elba.
Foto: picture-alliance/ZB
Porta das teses
Consta que, em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero pregou suas 95 teses contra o comércio de indulgências na porta da Igreja do Castelo. Esse dia marcou o início da Reforma que mudou a Europa. Em 2017, essa data se repete pela 500ª vez. Neste ano, um número ainda maior de visitantes, de todo o mundo, viajou para a pacata Wittenberg.
Quem vier às comemorações do jubileu do reformador luterano vai ver – assim como muitos outros locais da Reforma – a Igreja do castelo recém-renovada. Em sua maravilhosa nave se encontra não somente o túmulo de Martinho Lutero, mas também o de seu amigo e colaborador Felipe Melanchthon.
Foto: picture-alliance/dpa/H.Schmidt
Casa de Lutero
Depois da Igreja do Castelo, o segundo ponto de parada obrigatória aosque seguem os passos do reformador é um antigo mosteiro agostiniano. O prédio foi presenteado pelo príncipe-eleitor Frederico, o Sábio, ao seu protegido Martinho Lutero, que viveu ali 38 anos. A casa abrigou não só a sua família, como os muitos convidados e alunos, que viajavam para encontrar o célebre reformador de Wittenberg.
Foto: picture-alliance/akg-images/H. Heine
Auditório
Enquanto sua esposa, Katharina von Bora, cuidava de alojamento e alimentação, Martinho Lutero palestrava para estudantes de toda a Europa. Cinco séculos atrás, Wittenberg – o berço da Reforma – era considerada o centro espiritual da Europa.
Na sala de estar, eram realizadas as chamadas conversas de mesa. Muitos convidados tomavam notas de ditados e discursos do reformador, que assim passaram para a posteridade, como, por exemplo: "Quem não gosta de vinho, mulheres e música, continua um tolo para o resto da vida!"
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Casa de Melanchthon
Felipe Melanchthon mudou-se para a vizinhança imediata de Lutero. O estudioso veio a Wittenberg para conhecer as teses revolucionárias do reformador. Junto a Martinho Lutero, ele se tornou a força motriz da Reforma. Na residência de Melanchton, podem ser visitados, entre outros, a sua sala de estudos e o quarto onde ele morreu.
Foto: picture-alliance/DUMONT Bildarchiv
Cranachhof (Pátio de Cranach)
Na praça do mercado morava outro famoso contemporâneo e amigo de Lutero: Lucas Cranach, o Velho, foi pintor, farmacêutico e, algumas vezes, prefeito. A sua propriedade abrangia 80 compartimentos, uma escola de pintura e uma farmácia. E uma casa de impressão, onde foram editados todos os escritos importantes da Reforma.
Foto: picture-alliance/ZB
Praça do mercado
A praça do mercado ainda continua sendo o coração da cidade. Santa Maria é considerada a igreja-mãe da Reforma, pois ali, pela primeira vez, foi rezada uma missa em língua alemã. Hoje ainda se pode ver o púlpito onde Martinho Lutero pregava.
Foto: picture alliance/dpa/P. Endig
Altar da Reforma
O quadro mostra o interior da Igreja de Santa Maria. Lucas Cranach eternizou nesse painel de altar os principais atores da Reforma: Martinho Lutero como Junker Jörg, um de seus pseudônimos, Melanchthon e Lucas Cranach num batizado, como também Katharina von Bora como ouvinte na comunidade.
Foto: Evangelische Stadtkirche St. Marien Wittenberg/Fokus/KSKK
Memorial de Lutero
Em 1821, esse monumento na praça do mercado de Wittenberg foi uma sensação: pela primeira vez, ali não estava representado nenhum príncipe ou rei, mas o reformador Martinho Lutero. Na mão, a Bíblia aberta na página onde termina o Velho Testamento e começa o Novo. Um símbolo de uma nova era, que teve início em Wittenberg.