Além de Marco Polo del Nero, Ricardo Teixeira é acusado de envolvimento em esquema de corrupção na Fifa. Outros 14 cartolas teriam também recebido milhões de dólares em propina.
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O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo del Nero, e o ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira foram indiciados nesta quinta-feira (03/12) pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por envolvimento em um esquema de corrupção na Fifa.
Além dos brasileiros e de dois dirigentes detidos em Zurique nesta quinta-feira, outros 12 cartolas foram indiciados pela justiça americana na nova fase do processo, que teve início em maio. "A traição de confiança apresentada aqui é ultrajante. A escala de corrupção alegada aqui é inconcebível", disse a procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch.
A nova fase do processo foi deflagrada no início desta quinta-feira com a prisão do hondurenho Alfredo Hawit Banegas, presidente da Concacaf, e do paraguaio Juan Ángel Napout, chefe da Conmebol, na Suíça. As detenções aconteceram pouca horas antes da reunião da Fifa para aprovar reformas na entidade.
Os cartolas são acusados de receber milhões de dólares em subornos e propinas referentes a contratos comerciais da Fifa. Todos os três últimos presidentes da Concacaf e da Conmebol foram indiciados. O esquema de corrupção envolve a Copa América, incluindo a edição de 2016 que será realizada nos EUA, e eliminatórias para a Copa do Mundo.
"A mensagem que queremos deixar deve ser clara para cada indivíduo culpado que permanece nas sombras, esperando escapar das nossas investigações. Você não escapará do nosso radar", ressaltou Lynch.
Escândalo de corrupção
A federação foi abalada por um escândalo de corrupção em maio, a dois dias da reeleição do presidente Joseph Blatter, num processo aberto pela justiça dos Estados Unidos e que levou à acusação de 14 dirigentes e ex-dirigentes, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin.
No início de junho, Blatter anunciou sua renúncia, abrindo o caminho para nova eleição, que foi marcadas para 26 de fevereiro de 2016. Em 25 de setembro, o Ministério Público suíço instaurou um processo criminal contra Blatter.
Em 8 de outubro, Blatter, o secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, e o presidente da Uefa, o também francês Michel Platini, foram suspensos provisoriamente por 90 dias pelo Comitê de Ética da Fifa, por implicação no escândalo de corrupção que atingiu a instituição.
Novos indiciados
Marco Polo Del Nero– presidente da CBF, brasileiro Ricardo Teixeira – ex-presidente da CBF, brasileiro Alfredo Hawit – dirigente hondurenho, presidente da Concacaf Juan Angel Napout – dirigente paraguaio, presidente da Conmebol Manuel Burga – ex-presidente da Federação Peruana Carlos Chavez – dirigente boliviano, tesoureiro da Conmebol Luis Chiriboga – presidente da Federação Equatoriana Eduardo Deluca – dirigente argentino, ex-secretário-geral da Conmebol Jose Luis Meiszner – dirigente argentino, ex-secretário-geral da Conmebol Romer Osuna – dirigente boliviano, ex-tesoureiro da Conmebol Ariel Alvarado – dirigente panamenho, membro do comitê disciplinar da Fifa Rafael Callejas – ex-presidente de Honduras Brayan Jimenez – presidente da Federação Guatemalteca Rafael Salguero – ex-presidente da Federação Guatemalteca Hector Trujillo – secretário-geral da Federação Guatemalteca Reynaldo Vasquez – ex-presidente da Federação Salvadorenha
CN/ap/rtr/afp
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.