Procuradoria-Geral do Trabalho em Brasília afirma que número de denúncias na atual campanha é inédito e causa preocupação. Lei proíbe empregadores de tentarem influenciar voto de funcionários com ameaças.
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A tensão da atual campanha eleitoral chegou a algumas empresas brasileiras. Na última semana, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu denúncias e abriu procedimentos sobre tentativas de coação e assédio moral de empregadores a funcionários nas regiões Sul e Sudeste. Em alguns casos, firmas tiveram que se retratar sob pena de pagar multas milionárias.
Empregadores tentando orientar funcionários não é algo novo, mas na última semana diversas denúncias foram expostas em redes sociais e entregues em procuradorias do MPT em alguns estados. O procurador-geral do Trabalho em Brasília, Ronaldo Curado Fleury, afirmou à DW que é a primeira vez que tantas denúncias apareceram em uma eleição.
"Lembro de apenas um caso numa eleição para deputado distrital em Brasília em que ficou comprovada a coação. A empresa e o candidato tiveram que assinar um termo de compromisso a não mais coagir os seus empregados. Por causa dos casos recentes, fizemos uma orientação a todos os empresários brasileiros para não sugerir candidatos aos seus empregados, principalmente dando a entender que o emprego depende da vitória de cada candidato", disse Fleury.
O caso mais ruidoso até agora foi do empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamento Havan, que se espalha por quase todos os estados do país. Ele fala em um vídeo divulgado em redes sociais que pessoas podem perder o emprego no grupo se o candidato Jair Bolsonaro (PSL) não vencer.
Após receberem 47 denúncias sobre o vídeo, procuradores do Trabalho em Santa Catarina ajuizaram uma ação cautelar na Justiça do Trabalho para que o empresário se abstenha de tentar "obrigar, exigir, impor, induzir ou pressionar trabalhadores para realização de qualquer atividade ou manifestação política em favor ou desfavor a qualquer candidato ou partido político". A ação estabelece multa de R$ 1 milhão em caso de descumprimento.
O juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis, determinou que Hang divulgue em suas redes sociais até esta sexta-feira (05/10) um vídeo informando que seus funcionários têm direito de escolha de candidatos. Além disso, o grupo deverá expor no mural de suas mais de cem unidades no país uma cópia da decisão judicial. O juiz estipulou multa de R$ 500 mil para cada loja do grupo que não cumprir a decisão.
Não há um levantamento nacional sobre o número de casos que envolvem assédio moral e coação de funcionários relacionado a direcionamento político. Assessorias de MPTs em três estados afirmaram que isso depende de denúncias e que não há uma padronização desse tipo de ocorrência. Em São Paulo, o MPT comunicou que encontrou apenas uma denúncia desde setembro, também relacionada ao grupo Havan, que tem unidades no estado.
A procuradora Márcia Kamei Aliaga é uma das autoras da ação cautelar contra o grupo em Santa Catarina e criticou a prática de tentativa de assédio a empregados. "Essas situações remontam a práticas antigas da República Velha e que já deveriam estar superadas. Até podiam ser observadas em localidades mais afastadas dos grandes centros. Porém, da forma como retratada nas redes sociais, tenho a impressão de se tratar de fenômeno mais recente", disse.
Outro caso que ganhou as redes sociais no começo desta semana foi uma carta do empresário Pedro Joanir Zonta, presidente do Grupo Condor, rede de supermercados do Paraná. No texto, ele explica suas razões para votar em Bolsonaro. O MPT no Paraná entendeu que houve "constrangimento dos funcionários do grupo". Uma audiência foi realizada na Justiça do Trabalho, e um acordo foi firmado com o empresário, que teve que enviar um novo comunicado aos funcionários afirmando que não haverá "imposição ou direcionamento nas escolhas políticas" dentro da empresa.
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.