Justiça proíbe Globo de divulgar inquérito sobre Marielle
18 de novembro de 2018
Decisão de censurar reportagens sobre investigação do assassinato da vereadora atendeu a pedido da polícia e do Ministério Público. Emissora afirma que medida "fere gravemente a liberdade de imprensa”.
Anúncio
Um juiz do Rio de Janeiro proibiu neste sábado (17/11) a TV Globo de divulgar o conteúdo de qualquer parte do inquérito que apura as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Os dois foram assassinados em março deste ano. Oito meses depois o caso continua sem solução.
O pedido de censura partiu da Divisão de Homicídios da Polícia Civil e do Ministério Publico do Rio de Janeiro. Na decisão, o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, afirmou que "o vazamento do conteúdo dos autos é deveras prejudicial, pois expõe dados pessoais das testemunhas, assim como prejudica o bom andamento das investigações, obstaculizando e retardando a elucidação dos crimes hediondos em análise”.
O juiz também proibiu a emissora de publicar trechos do inquérito ainda que testemunhas não sejam identificadas. O mesmo vale para conteúdos como transcrições de áudios e emails que constam no inquérito.
A Globo teve acesso ao teor do inquérito no final da primeira quinzena de novembro. Duas reportagens da emissora foram dedicadas ao conteúdo. Segundo a TV Globo, seus jornalistas tomaram cuidados para evitar divulgar trechos que pudessem colocar em risco testemunhas e o andamento das investigações.
A emissora disse que pretende cumprir a decisão do juiz Kalil, mas que pretende recorrer por considerar a medida excessiva. Em nota, a TV Globo apontou que a decisão "fere gravemente a liberdade de imprensa e o direito de o público se informar”. "A TV Globo quer assegurar o direito constitucional do público de se informar sobre eventuais falhas do inquérito que, em oito meses, não conseguiu avançar na elucidação dos bárbaros assassinatos da vereadora Marielle e do motorista Anderson”, diz a nota.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também repudiou a decisão da Justiça. Em nota, a associação afirmou que a decisão viola o direito dos brasileiros à livre circulação de informações e classificou a medida como censura.
"A imposição de censura é uma afronta à Constituição. A liberdade de imprensa, fundamental para a democracia, deveria ser resguardada por todas as instâncias do Poder Judiciário, mas é frequentemente ignorada por juízes que, meses ou anos depois, são desautorizados por tribunais superiores. Nesse meio tempo, o direito dos cidadãos de serem informados fica suspenso, o que gera prejuízos irreparáveis para a sociedade. O caso em questão é um exemplo dessa prática absurda, que precisa acabar. Cabe ao Poder Judiciário preservar direitos constitucionais, não atacá-los”, apontou a Abraji.
JPS/ots
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube
Milhares de manifestantes foram às ruas Brasil afora em repúdio ao assassinato da vereadora carioca. Ela era conhecida por defender os direitos das mulheres e a inclusão social, além de ser crítica da violência policial.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Comoção na despedida
Sob forte emoção de amigos e familiares, o corpo da vereadora Marielle Franco foi enterrado no final da tarde de quinta-feira (15/03) no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária. Antes, Marielle e o motorista Anderson Gomes foram velados na Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Foto: Reuters/P. Olivares
Homenagem na Câmara dos Deputados
Cidadãos participam de uma homenagem à vereadora Marielle Franco organizada pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) na Câmara dos Deputados, em Brasília. Marielle era uma conhecida ativista dos direitos das mulheres e da inclusão social, além de ser crítica da violência policial. Ela tinha se manifestado contra a atual intervenção federal no Rio de Janeiro.
Foto: Imago/Agencia EFE/J. Alves
A luta continua
Durante a quinta-feira, protestos por todo o Brasil reiteraram os temas pelos quais Marielle lutava. Em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, manifestantes estenderam uma faixa contra a intervenção militar na cidade.
Foto: Reuters/P. Olivares
Cortejo e protestos no Rio
Milhares de pessoas se reuniram diante da Câmara Municipal do Rio, no centro onde o corpo de Marielle foi velado. No momento da chegada do corpo, houve grande comoção e aplausos.
Foto: Reuters/S. Moraes
Milhares de vozes por direitos
A aglomeração de manifestantes em torno da Câmara Municipal foi noite adentro. Além de protestar contra a morte da vereadora, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em prol dos direitos humanos, dos direitos LGBT e contra o racismo.
Foto: Reuters/R. Moraes
A união faz a força
Cidadãos comovidos se abraçam ao lado de um desenho de Marielle Franco, no Rio. A vereadora foi morta a tiros na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, na região central da cidade, por volta das 21h30 de quarta-feira (14/03).
Foto: Reuters/R. Moraes
"Parem de nos matar"
Durante manifestação em São Paulo, ativistas deitaram na rua para chamar a atenção para as vidas perdidas injustamente no país. Ao fundo, uma faixa com a frase "parem de nos matar".
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Manifestantes fecham Paulista
O ato na avenida Paulista começou por volta das 17h no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). O protesto fechou totalmente a via no início da noite. Às 19h20, os manifestantes caminharam em direção à rua da Consolação.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Quem matou Marielle?
Nos protestos pelo Brasil, que também foram registrados em capitais como Salvador e Curitiba, faixas buscavam explicações para a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes. A polícia acredita que o carro de Marielle tenha sido perseguido por cerca de quatro quilômetros. Os assassinos usaram uma arma 9 mm.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Marielle presente
Marielle presente! A frase invadiu as redes sociais e foi vista em inúmeros cartazes Brasil afora. Ativistas não querem que as lutas de Marielle sejam enterradas junto dela. "Não vamos deixar a voz dela morrer", foi a tônica do protestos.