Juventude prepara "Primavera Angolana" contra governo
15 de agosto de 2012Suaves acordes de violão, batidas rítmicas, fala cantada. Esse é o som da resistência política em Angola, na África Ocidental. Com suas letras, o rapper Carbono Casimiro põe o dedo na ferida. Seu país, um dos mais ricos do mundo em matérias primas, não oferece perspectivas à juventude, mas desemprego, pobreza, corrupção e repressão.
Somos todos vítimas de um governo catastrófico, por isso não me contento em fazer música: vou junto com outras pessoas jovens às ruas e protesto contra o governo."
"O músico de 30 anos é um dos muitos artistas, estudantes e ativistas dos direitos civis que, desde o ano passado, organizam passeatas contra o regime do presidente José Eduardo dos Santos. O movimento tem como modelo a Primavera Árabe, porém, até agora não se pode falar de uma revolta de massa, como a ocorrida no Norte da África.
Nova revolução
Os protagonistas do movimento de protesto sabem que a maior parte da população está do seu lado, em especial nos bairros pobres da capital, Luanda. Porém, somente umas poucas centenas de corajosos ousam ir às ruas. O medo de represálias por parte do poder estatal é grande demais.
O aparato de polícia, militares e serviço secreto de "Zedu" – como é apelidado o presidente – é temido. Mas, se os tunisinos conseguiram derrubar Ben Ali, os egípcios, Hosni Mubarak, e os líbios, Muammar Kadafi, então por que os angolanos não conseguiriam fazer o mesmo com José Eduardo dos Santos? É o que se pergunta uma parte da juventude do país.
Os líderes da "Primavera Angolana" têm boa formação. Eles se comunicam pelo celular e utilizam as redes sociais da internet. Lá anunciam "uma nova revolução do povo angolano contra 32 anos de tirania e má governação". E organizam sempre novas manifestações contra o chefe de Estado e o governo. "A juventude de Angola é contra a corrupção", ou "Fora o presidente Zedu – Abaixo a ditadura", são as palavras de ordem.
Repressão e propaganda do regime
A polícia, militares e serviços secretos de Angola reagem com nervosismo. Fases em que se tenta subornar com dinheiro ou automóveis os líderes do movimento alternam-se com ameaças, violência e atentados contra essas mesmas pessoas.
Um sinistro bando de espancadores, supostamente pago pelo governo, espalha medo e pânico entre jovens e jornalistas independentes, paralelamente às passeatas. E quando todos esses métodos falham, o poder estatal manda prender.
Apesar de todos os esforços de intimidação, "Libertador", como se apelida um dos cabeças do movimento de protesto, garante que não se renderá. "Há quase 33 anos temos aqui no poder uma tirania que nunca foi eleita. Não vamos nunca parar de lutar por uma verdadeira democracia em nosso país", assegura.
Elite nefasta
Os líderes do movimento sabem que Angola ainda está muito longe de ser uma verdadeira democracia, por não haver igualdade de chances para os partidos da oposição. "Quero que o MPLA seja arrancado do trono. Infelizmente, eu e os outros da minha idade nunca vimos outro partido no poder", diz o rapper Luaty Beirão.
Mais conhecido como "Ikonoklasta" ou "Brigadeiro Matafrakus" nos meios do hiphop, ele nasceu numa família fiel ao sistema. Durante anos, seu pai dirigiu a Fundação Santos, que domina o país. Mas o Luaty não tem nada de bom para dizer sobre a elite angolana.
"Estamos fartos do MPLA e temos sede de mudança. Eles instalaram no nosso país um sistema sujo, corrupto, cheio de vícios." Por isso, ele vai votar contra o partido do governo nas eleições de 31 de agosto.
Ação lenta
Uma canção lançada recentemente pelo rapper Carbono Casimiro na internet acusa: "eles" espancam e prendem o povo, só porque este exige pão, saúde e educação. Ironicamente, a canção se intitula Bom cidadão.
Por várias vezes, o rapaz já sentiu a repressão na própria pele. Após participar de uma manifestação consentida contra Santos, passou várias semanas na penitenciária e escapou por pouco de um atentado pessoal.
Mesmo assim, o movimento pela liberdade e democracia em Angola segue o seu caminho. Observadores otimistas acreditam que a "Primavera Angolana" pouco a pouco minará o poder do MPLA e de seus líderes. Mesmo que o partido vença as eleições de 31 de agosto, como já é esperado.
Autoria: António Cascais (av)
Revisão: Francis França