Kalush Orchestra, favorita do Eurovision que vem da Ucrânia
Silke Wünsch
13 de maio de 2022
É raro, na história do festival da canção europeia, um grupo estar tão firmemente situado na preferência do público como a banda ucraniana com "Stefania". Em face da guerra, sua participação vai muito além da música.
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Os agentes de apostas comprovam: pouco antes da final, os concorrentes da Kalush Orchestra estão, de longe, à frente do Festival da Canção Eurovision 2022 (Eurovision Song Contest – ESC), na preferência popular. É comum as quotas oscilarem na última semana do concurso, porém desde março os ucranianos são primeiro lugar incontestado.
Antes do começo da guerra na Ucrânia, a situação era bem diferente: entre os 40 candidatos, a banda ocupava apenas uma posição mediana na preferência do público. Será esse triunfo musical uma mensagem de solidariedade massacrado por uma brutal invasão, ou o grupo liderado por Oleh Psiuk e sua canção Stefania são mesmo tão bons que merecem o título disputado em Turim?
O carismático vocalista é da cidade de Kalush, no oeste da Ucrânia. Seu ídolo era Eminem, e tudo o que ele queria era fazer música como o rapper americano. Psiuk ainda estudou engenharia florestal em Kiev, mas em 2019 acabou fundando a banda Kalush, junto com o multi-instrumentista Ihor Didenchuk, o DJ MC KilimMen e o dançarino Danyil Chernov.
Entre a luta contra Rússia e o festival da canção
Baseando seus números sobretudo em cooperações com outros/as artistas ucranianos, e a popularidade da banda cresceu rapidamente no país. Depois da canção Dodomu, junto com o músico Skofka, que já foi clicada quase 24 milhões de vezes no YouTube, a gravadora multinacional de rap Def Jam fechou contrato com eles.
Hoje um dos mais conhecidos jovens músicos da Ucrânia, Psiuk tem como marcas registradas o chapéu rosa-choque e o traje de caráter folclórico. Em 2021, lançou um novo projeto, a Kalush Orchestra, completada por Tymofii Muzychuk e Vitalii Duzhyk, que, com seus multi-instrumentos, trouxeram ainda mais folclore ao som da banda.
Foi com essa formação que o grupo se lançou no Eurovision. Nas classificatórias na Ucrânia, ficou só em segundo lugar, porém a vencedora original, Alina Pash, se retirou da raia. Devido à guerra iniciada contra o país em 24 de fevereiro, quase não tiveram tempo para o ensaiar, como revelou Psiuk em entrevista à revista alemã Der Spiegel.
Quando possível, encontraram-se online, mas de resto tinham assuntos bem mais urgentes de que se ocupar: "Nosso MC KilimMen participou da defesa territorial de Kiev. Eu fundei minha própria organização de voluntários, nós ajudamos no alojamento e transporte de refugiados, com cuidados médicos e muitas outras coisas", contou o vocalista.
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"Vou sempre voltar para casa, mesmo por ruas destruídas"
Agora eles são vistos não só como representantes de seu país, mas também como embaixadores. O próprio presidente Volodimir Zelenski lhes concedeu licença especial a viajarem para a missão "vitória no Eurovision". Antes de chegar à italiana Turim, palco do concurso, apresentaram-se em diversas outras cidades europeias, sempre recebidos por uma onda de simpatia.
Stefania foi composta antes da guerra. Originalmente, Psiuk a dedicara à mãe, porém, diante da agressão militar, alguns versos inevitavelmente ganharam sentido totalmente diverso, como: "Vou sempre voltar para casa, mesmo que as ruas estejam destruídas. Além disso, para muitos ucranianos a terra natal é sinônimo de mãe.
A canção começa com canto em estilo folclórico, que se transforma num pulsante rap no idioma ucraniano, acompanhado por instrumentos tradicionais. Stefania se destaca dos números de dança pop usuais, cada vez mais produzidos exclusivamente de olho no festival. Assim, mesmo sem as atuais circunstâncias dramáticas, a Kalush Orchestra chances de uma boa colocação.
Além do público, porém, também um júri decide sobre a pontuação, de olho no quesito qualidade. E aí há outros concorrentes respeitáveis na rais, também capazes de conquistar os 12 pontos na noite deste sábado (14/05).
Entre os mais fortes está a talentosa dupla italiana Mahmood & Blanco, com a balada Brividi. Outros favoritos são Sam Ryder, do Reino Unido, S10, da Holanda, e Cornelia Jakobs, da Suécia.
A reação do setor de cultura à invasão russa da Ucrânia
Do Festival Eurovisão a Cannes, a esfera cultural mostra desaprovação à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin cancelando a participação de artistas russos em seus eventos. Alguns exemplos.
O Festival de Cinema de Cannes anunciou em 1º de março que "não receberia delegações oficiais russas" ou pessoas ligadas ao governo do país. Vários festivais de cinema reagiram da mesma forma, incluindo Glasgow e Estocolmo. Locarno anunciou que não participaria de um boicote, enquanto Veneza oferecerá exibições gratuitas de um filme sobre o conflito de 2014 na região de Donbass.
Foto: REUTERS
Rússia barrada no Festival Eurovisão
A União Europeia de Radiodifusão, que organiza o Festival Eurovisão da Canção, declarou em 25 de fevereiro que "à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma entrada russa no concurso deste ano traria descrédito à competição". Enquanto isso, o grupo de folk-rap da Ucrânia Kalush Orchestra (foto) emergiu como um dos favoritos a vencer o festival de música mais popular da Europa.
Foto: Suspilne
Óperas interrompem colaborações com o Bolshoi
A Royal Opera House de Londres cancelou a temporada de verão do Balé Bolshoi de Moscou. A encenação de "Lohengrin" da Metropolitan Opera, de Nova York, coproduzida com o Bolshoi, também será afetada. Até então leal a Putin, o diretor da aclamada companhia de balé, Vladimir Urin, está entre os signatários de uma carta em oposição à guerra.
Muitos artistas russos condenaram a guerra. Mas, apesar de um ultimato da Filarmônica de Munique para se posicionar publicamente, o maestro Valery Gergiev permaneceu em silêncio sobre a invasão liderada por Putin, seu amigo desde 1992. Em 1º de março de 2022, a orquestra alemã demitiu seu aclamado maestro. Vários concertos na Europa e nos EUA também foram cancelados.
Foto: Danil Aikin/ITRA-TASS /imago images
Soprano Anna Netrebko é retirada das óperas
A Metropolitan Opera de Nova York (MET) e a Ópera Estatal de Berlim encerraram sua colaboração com a estrela da ópera russa Anna Netrebko, por ela se recusar a "repudiar seu apoio público a Vladimir Putin". Ela é "uma das maiores cantoras da história do MET", disse o diretor da casa de ópera, Peter Gelb, "mas com Putin matando vítimas inocentes na Ucrânia, não havia outro caminho a seguir".
Foto: Roman Vondrous/CTK/imago images
Museus cortam laços com oligarcas russos
Em meio a pedidos para que instituições culturais removam aliados de Putin de seus conselhos, museus estão cortando laços com benfeitores russos. O bilionário Vladimir Potanin deixou o conselho de curadores do Museu Guggenheim (foto), em Nova York, segundo o jornal The New York Times. O site Artnet relata que o magnata bancário Petr Aven deixou o cargo de administrador da Royal Academy em Londres.
Foto: Han Fang/Xinhua/imago images
Hermitage Amsterdam rompe relações com São Petersburgo
Amsterdã abriga o maior satélite do célebre Museu Hermitage de São Petersburgo. Até agora, nunca havia comentado sobre as ações políticas de Putin, mas "com a invasão do exército russo à Ucrânia, uma fronteira foi cruzada". "A guerra destrói tudo. Até 30 anos de colaboração", afirmou o museu holandês em 3 de março. O local também fechou a exposição que estava em cartaz, "Russian Avant-Garde".
Foto: Richard Wareham/imago images
Artistas russos desistem da Bienal de Veneza
Nem sempre são os organizadores de eventos que boicotam os artistas russos. Na Bienal de Veneza, que começa em 23 de abril, são os artistas e o curador da exposição russa que se demitiram, afirmando no Instagram que "o Pavilhão da Rússia permanecerá fechado" em protesto contra os civis mortos por mísseis e manifestantes russos sendo silenciados.
Foto: Photoshot/picture alliance
Hollywood adia lançamentos de filmes na Rússia
Disney, Warner Bros, Sony, Paramount Pictures e Universal decidiram interromper o lançamento de filmes nos cinemas russos. "The Batman" (foto) deveria ser lançado no país em 4 de março. Outros títulos afetados pela decisão incluem o filme de animação da Disney Pixar "Red: Crescer é uma Fera", "The Lost City", da Paramount, e o filme da Marvel "Morbius".
Foto: Jonathan Olley/DC Comics /Warner Bors/dpa/picture alliance
Concertos cancelados na Rússia
"Ucrânia, estamos com você e com todos aqueles na Rússia que se opõem a esse ato brutal", disse Nick Cave. Ele cancelou as datas da turnê russa planejada para o verão, assim como muitos outros grupos, incluindo Franz Ferdinand, The Killers, Iggy Pop e Green Day. O popular rapper russo Oxxxymiron também cancelou seus shows no país, pedindo um movimento antiguerra.