Kerry faz visita histórica a memorial em Hiroshima
11 de abril de 2016
Secretário de Estado se torna o representante de mais alta patente dos EUA a visitar o memorial às vítimas do bombardeio nuclear. Passagem, no entanto, não deve ser interpretada como pedido de desculpas.
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G7 divulga "Declaração de Hiroshima"
01:24
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, realizou nesta segunda-feira (11/04) uma visita histórica a um museu da Segunda Guerra Mundial na cidade japonesa de Hiroshima. O local recorda a morte de mais de 140 mil japoneses, vítimas da primeira detonação de uma bomba atômica numa guerra.
A visita de Kerry, que foi acompanhada pelos seus homólogos de Reino Unido, França, Canadá, Alemanha, Itália e Japão, na cúpula dos ministros do Exterior do G7, é vista como um possível prelúdio para uma visita semelhante do presidente americano Barack Obama, que estará presente no encontro anual da cúpula dos países industrializados do G7, no próximo mês, no Japão.
"Nós reafirmamos nosso compromisso em buscar um mundo mais seguro para todos e criar as condições para um mundo livre de armas nucleares de uma maneira que promova estabilidade internacional", disse o grupo na "Declaração de Hiroshima". O anfitrião da cúpula é o ministro do Exterior do Japão, Fumio Kishida, natural de Hiroshima e representante a cidade no Parlamento japonês.
"Enquanto revisitamos o passado e honramos aqueles que morreram, esta viagem não é sobre o passado", disse Kerry. "É sobre o presente e, em particular, sobre o futuro, sobre a força da relação que construímos."
Kerry é o representante de mais alta patente dos EUA a ter visitado o memorial. É também a primeira vez que diplomatas de Reino Unido e França – também potências nucleares – visitam o local.
Bombardeio do Japão
Em 6 de agosto de 1945, um avião militar americano lançou uma bomba nuclear sobre Hiroshima, aniquilando a cidade japonesa. A precipitação radioativa matou dezenas de milhares de pessoas quase instantaneamente. E até o final daquele ano, cerca de 140 mil habitantes de Hiroshima morreram em consequência da explosão – sem esquecer as muitas mortes nos anos seguintes causadas pela radiação.
Pouco depois do bombardeio, os Estados Unidos convocou o Japão a se render incondicionalmente. Quando o então império asiático recusou, outra bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Nagasaki, em 9 de agosto. O Japão então iniciou o processo de rendição, que se tornou oficial seis dias depois.
A visita de Kerry, e qualquer possível ida de Obama ao Japão, entretanto, não devem ser vistas como um pedido de desculpas. A maioria dos americanos enxerga o uso de bombas atômicas contra o Japão como um meio necessário para encerrar a guerra. Do ponto de vista deles, em última análise, as bombas salvaram muitas vidas americanas.
A Casa Branca ainda não deu qualquer indicação sobre se Obama visitará Hiroshima, mas como mostrou em sua viagem a Cuba, no mês passado, o presidente americano está disposto a realizar discursos ousados.
Além disso, uma visita a Hiroshima seguiria uma linha política de Obama, que, durante um discurso em 2009, em Praga, pediu por um mundo sem armas nucleares. Na ocasião, ele afirmou que seria uma honra visitar as duas cidades japonesas atacadas pelos EUA durante a Segunda Guerra.
PV/lusa/rtr/ap/afp
Os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki
Ataques às duas cidades japonesas em 1945 são os únicos casos de emprego de armas atômicas numa guerra.
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
O primeiro ataque
Em 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba nuclear da história. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.
Foto: Three Lions/Getty Images
O Enola Gay
O ataque a Hiroshima estava planejado para acontecer em 1 de agosto de 1945, mas teve que ser adiado devido a um tufão. Cinco dias depois, o Enola Gay partiu com 13 tripulantes a bordo. A tripulação só ficou sabendo durante o voo que lançariam uma bomba atômica.
Foto: gemeinfrei
O segundo ataque
Três dias depois do ataque a Hiroshima, os americanos lançaram uma segunda bomba, sobre Nagasaki. A cidade de Kokura era o alvo original do ataque, mas o tempo nublado fez com que os americanos mudassem seus planos. A bomba apelidada de "Fat Man" tinha uma potência de 22 mil toneladas de TNT. Estima-se que 70 mil pessoas morreram até dezembro de 1945.
Foto: Courtesy of the National Archives/Newsmakers
Alvo estratégico
Em 1945, Nagasaki era sede da Mitsubishi, então fábrica de armas responsável por desenvolver os torpedos usados no ataque a Pearl Harbor. No entanto, apenas alguns soldados japoneses estavam baseados na cidade. A má visibilidade não possibilitou um ataque direto contra os estaleiros da fábrica.
Foto: picture-alliance/dpa
As vítimas
Durante meses após os ataques, dezenas de milhares de pessoas morreram por causa dos efeitos das explosões. Somente em Hiroshima, até o fim de 1945, 60 mil pessoas morreram por conta da radiação, de queimaduras e outros ferimentos graves. Em cinco anos, o número estimado de vítimas dos dois bombardeios atômicos é de 230 mil pessoas.
Foto: Keystone/Getty Images
Terror no fim da guerra
Depois de Hiroshima e Nagasaki, muitos japoneses temeram um terceiro ataque, a Tóquio. O Japão declarou então sua rendição, pondo fim à Segunda Guerra também na Ásia. O então presidente americano, Harry Truman, ordenou os bombardeios. Ele estava convencido de que essa era a única maneira de acabar com a guerra rapidamente. Para muitos historiadores, no entanto, os ataques foram crimes de guerra.
Foto: AP
A reconstrução
Devastada, Hiroshima foi reconstruída do zero. Apenas uma ilha, no rio Ota, foi mantida e se tornou o Parque Memorial da Paz. Hoje, há uma série de memoriais: o Museu Memorial da Paz de Hiroshima; a Estátua das Crianças da Bomba Atômica; as Ruínas da Indústria e Comércio; e a Chama da Paz, que vai permanecer acesa até a última bomba atômica do planeta ser destruída.
Foto: Keystone/Getty Images
Contra o esquecimento
Desde 1955, o Museu da Bomba Atômica e o Parque da Paz de Nagasaki prestam homenagem às vítimas dos ataques. No Japão, a reverência às vítimas desempenha um grande papel na cultura e na identidade nacional. Hiroshima e Nagasaki se tornaram símbolos mundiais dos horrores das armas nucleares.
Foto: Getty Images
Dia para relembrar
Desde os ataques de agosto de 1945, as pessoas em todo o mundo lembram as vítimas dos bombardeios atômicos. Em Hiroshima, acontece anualmente um memorial. Sobreviventes, familiares, cidadãos e políticos se reúnem para um minuto de silêncio. Muitos japoneses estão engajados contra o desarmamento nuclear.