Kiev rotula rede alemã Metro como "patrocinadora da guerra"
Paul Krantz
21 de março de 2023
Agência ucraniana de prevenção à corrupção inclui a atacadista multinacional de alimentos com sede na Alemanha à lista de "patrocinadores internacionais da guerra", por manter negócios na Rússia.
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A Agência Nacional de Prevenção da Corrupção da Ucrânia (NACP, na sigla em inglês) incluiu a empresa atacadista alemã Metro à lista de patrocinadores internacionais da guerra. A empresa, que também opera na Ucrânia, vem sofrendo críticas por decidir manter suas operações na Rússia.
Em postagem no Twitter, a NACP justificou que a administração da Metro não parou de "financiar a agressão russa" e que seu "principal acionista, Daniel Kretinsky, está intimamente ligado aos setores de petróleo, gás e bancos da economia da Rússia".
Kretinsky é um oligarca tcheco que detém participação de 29,99% na Metro e também é dono da EPH, uma holding tcheca que registrou lucros recordes no primeiro semestre de 2022, graças a sua grande participação no negócio de gás russo.
A Metro é a segunda maior cadeia de bens comerciais da Rússia, operando 93 centros comerciais em 51 regiões. No começo da guerra na Ucrânia, seu diretor executivo, Steffen Greubel, fez declarações defendendo a decisão da empresa de permanecer no país agressor. Agora, mais de um ano depois de as forças russas invadirem a Ucrânia, a empresa segue firme na decisão de continuar fazendo negócios na Rússia.
Questionado pela DW, um porta-voz da empresa declarou por escrito que a "Metro condena a invasão da Ucrânia pela Rússia". Apesar disso, defende a decisão de manter as operações russas.
"Decidimos, após cuidadosa revisão interna, manter as operações da subsidiária russa, pois a empresa também é responsável pelos 10 mil colegas [que trabalham na Rússia] e pelos muitos clientes que obtêm seus alimentos de nós."
No ano fiscal de 2021/2022, a Metro aumentou suas vendas na Rússia, chegando a um total de 2,9 bilhões de euros.
Mais empresas de alimentos na lista da NACP
Agora, ao lado de outras 16 entidades classificadas como patrocinadoras da guerra, a Metro está na lista da NACP, monitorada pelo London Stock Exchange Group. Outras empresas de bens de consumo listadas incluem a americana P&G (Proctor & Gamble) e a francesa Auchan.
Uma pesquisa da Universidade de St. Gallen, na Suíça, mostrou que menos de 9% das empresas da União Europeia e do G7 com subsidiárias na Rússia haviam deixado o país até novembro de 2022. De acordo com o estudo, a maioria das que permanecem por lá tem sede na Alemanha.
A Metro, no entanto, tem outras particularidades. De acordo com o site da NACP, a empresa mantém parceria com o Sberbank, de propriedade majoritária do Estado russo, desenvolve o projeto Fasol, de franquia de cadeias de supermercados na Rússia, e aceita pagamentos pelo sistema Mir.
Lojas da Metro na Turquia aceitam pagamentos Mir, um sistema de cartão criado pelo banco central da Rússia que foi bloqueado em vários países depois que os EUA ameaçaram sancionar entidades que o aceitassem, em setembro de 2022.
O porta-voz da Metro defende: "Desde o início da guerra, nenhum investimento em crescimento foi feito na Rússia, para além de manter as operações comerciais existentes, e continuamos a observar os desenvolvimentos muito de perto."
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Negócios em ambos os lados
Os negócios internacionais da Metro abrangem 34 países, incluindo a Rússia e a Ucrânia. Metro Cash & Carry opera na Ucrânia desde 2003 e atualmente mantém lá 23 centros de atacado.
No site da Metro Ucrânia, uma declaração sobre a lista internacional de patrocinadores de guerra da NACP esclarece que a decisão diz respeito à Metro Rússia: "Juntamo-nos às exigências do Estado sobre o fechamento de empresas no país agressor e continuaremos a pressionar os parceiros internacionais na frente empresarial e diplomática [...] Metro Ucrânia para a Ucrânia."
O porta-voz da Metro enfatizou os esforços da empresa para apoiar programas de ajuda na Ucrânia, acrescentando que "nossa principal prioridade é apoiar nossos colegas ucranianos, manter as operações de armazenamento de suprimentos de alimentos e ajudar os habitantes do país, bem como os refugiados da Ucrânia, através de iniciativas concretas".
No entanto, para os funcionários da Metro na Ucrânia, parece difícil considerar as declarações de solidariedade da sede diante do fato de a empresa continuar lucrando com as operações comerciais realizadas na Rússia.
Em comunicado divulgado nas redes sociais, a Metro Ucrânia afirmou que seus membros já "apelaram repetidamente" à sede da Metro em Düsseldorf, Alemanha, exigindo o "fechamento imediato dos negócios no território do Estado agressor".
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.