Kim encerra visita à Rússia e é presenteado com drones
17 de setembro de 2023
Ditador norte-coreano passou seis dias no país, onde se reuniu com Vladimir Putin e com o Alto Comando militar. Ocidente alerta contra possível novo acordo bélico entre as duas nações internacionalmente isoladas.
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O líder norte-coreano, Kim Jong-un, encerrou neste domingo (17/09) uma visita de seis dias à Rússia, onde se reuniu com o presidente Vladimir Putin e com o Alto Comando das Forças Armadas do país.
A viagem agravou as preocupações do Ocidente quanto a um novo acordo armamentista entre as duas nações internacionalmente isoladas, o que poderia resultar em violações de várias sanções internacionais.
Analistas temem que o aprofundamento da cooperação militar possa dar novo impulso à invasão russa da Ucrânia. Moscou teria interesse em adquirir munições norte-coreanas para suprir suas forças nas frentes de batalha, enquanto Pyongyang, almejaria viabilizar o desenvolvimento de seu programa nuclear.
No entanto, a viagem de Kim e a recepção grandiosa oferecida pelos russos ao ditador deixaram claro o alinhamento dos interesses de ambas as nações, em meio ao agravamento das tensões com o Ocidente.
Washington e Seul prometeram "duras consequências" no caso de violações das sanções. O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, condenou a parceria militar entre os dois Estados como "ilegal e injusta" e disse que a comunidade internacional se unirá ainda mais para enfrentar essa questão.
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Tapete vermelho e presentes bélicos
Kim embarcou em seu trem blindado de volta a Pyongyang após uma cerimônia de despedida na estação da cidade de Artyom, no extremo leste do país, a 256 quilômetros da fronteira com a Coreia do Norte. O evento contou com a presença do ministro russo dos Recursos Naturais, Alexander Kozlov.
A agência Tass informou que Kim recebeu cinco drones explosivos "kamikaze", um drone de reconhecimento Geran-25 "com decolagem vertical" e um kit de vestimentas à prova de balas "não detectáveis por câmeras térmicas" como presentes do governo da região de Primorye, que faz fronteira com a Coreia do Norte e a China.
Um dos principais pontos no roteiro da viagem de Kim na Rússia, iniciada na terça-feira, foi o encontro com Putin no principal porto aeroespacial russo, o cosmódromo Vostochny, onde ficou clara a intenção do líder norte-coreano de adquirir equipamentos de reconhecimento através do espaço, assim como tecnologias de mísseis.
Kim se reuniu neste sábado com o ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, e outras autoridades militares em um aeroporto em Vladivostok, onde pôde ver de perto algumas das aeronaves militares russas, incluindo bombardeiros estratégicos como os Tu-160, Tu-95 e Tu-22 utilizados na guerra da Ucrânia, com capacidade de lançar mísseis de cruzeiro.
Shoigu também exibiu um exemplar do moderno míssil supersônico Kinzhal, transportado por um caça MiG-31, utilizado pela primeira vez em combate na Ucrânia.
"Nova era de amizade"
A imprensa estatal norte-coreana destacou que Kim e Shoigu teriam discutido a expansão da "cooperação tática e estratégica". O ministro russo disse a jornalistas que os dois países planejam a realização de exercícios militares conjuntos.
Em julho deste ano, Shoigu realizou uma rara visita à Coreia do Norte, onde inspecionou sistemas de defesa do país, que incluem mísseis capazes de atingir o território dos Estados Unidos. Sua passagem pelo país aliado foi vista com um forte sinal do aprofundamento das relações entre as duas nações.
A agência de notícias estatal norte-coreana KCNA descreveu a atmosfera da visita de Kim à Rússia como "fervorosa e calorosa", e disse que marcou o início de "uma nova era de amizade solidariedade e cooperação" entre as duas nações.
Kim esteve ainda no oceanário de Primorsky, onde assistiu a espetáculos com baleias beluga, golfinhos, focas e com um leão-marinho que, segundo a imprensa russa, teria sido bastante apreciado pelo ditador.
rc (AP, Reuters, AFP)
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
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Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
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Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
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Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
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Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
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Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
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Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
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Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
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Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
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Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
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Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
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Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
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Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.