Líder norte-coreano diz que seu país atingiu "meta histórica". EUA "nunca estiveram tão próximos" de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte, afirma ex-chefe das Forças Armadas americanas.
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O ditador Kim Jong-un anunciou em seu discurso anual à nação, nesta segunda-feira (1º/01), que a Coreia do Norte completou o programa nuclear em 2017 e que "todo o território dos EUA está ao alcance de nossas armas nucleares". Ele acrescentou que o botão nuclear está sempre sobre sua mesa.
"Esta não é uma ameaça, mas uma realidade", disse Kim em seu tradicional pronunciamento de Ano Novo transmitido pela televisão. Seu país teria alcançado o "objetivo histórico" de se tornar uma potência nuclear. Sua meta agora seria aumentar a produção de ogivas nucleares e de mísseis e "acelerar o seu posicionamento".
A habitual mensagem de Ano Novo, transmitida pela televisão estatal norte-coreana, é seguida de perto por conter indicações sobre as prioridades do regime para o ano que se inicia. O líder norte-coreano afirmou ainda que deseja enviar uma delegação norte-coreana aos Jogos Olímpicos de inverno, que serão realizados em fevereiro em Pyeongchang, na Coreia do Sul.
O discurso deste ano era aguardado com expectativa devido às crescentes tensões entre a Coreia do Norte e o Ocidente em relação ao programa nuclear norte-coreano, que em 2017 realizou vários lançamentos de mísseis. Em setembro, o sexto teste nuclear foi o mais potente. Segundo fontes japonesas, o poder destruidor da bomba de 160 quilotons teria sido mais dez vezes superior à bomba americana lançada sobre Hiroshima em 1945.
No final de novembro, a Coreia do Norte disse ter testado um míssil capaz de alcançar os Estados Unidos. Kim instou Washington e Seul a porem fim aos habituais exercícios militares conjuntos, criticados pelo regime norte-coreano por considerá-los um ensaio para uma invasão do país.
Os testes geraram uma troca de ameaças entre Kim Jong-un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O Conselho de Segurança da ONU repetidamente impôs sanções à Coreia do Norte, mais recentemente em 22 de dezembro.
Atmosfera "incrivelmente perigosa"
Os Estados Unidos "nunca estiveram tão próximos" de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte, afirmou o ex-chefe das Forças Armadas norte-americanas Mike Mullen, para quem o presidente Donald Trump criou uma atmosfera "incrivelmente perigosa".
A presidência Trump "é incrivelmente desestabilizadora e certamente imprevisível", declarou Mullen, um antigo almirante e ex-chefe das Forças Armadas nos governos de George W. Bush e Barack Obama.
"O presidente escolheu claramente desestabilizar [...] e criar uma grande incerteza", acrescentou o militar atualmente reformado.
"Aqueles que foram nossos amigos durante muitos anos têm dúvidas sobre a firmeza do nosso compromisso com eles" e "os nossos inimigos, aqueles que nos querem prejudicar, parecem tirar proveito dessa incerteza", ressaltou.
"Existe uma atmosfera extremamente perigosa em toda essa incerteza, sobre como tudo isso vai terminar e, em particular [...], com a Coreia do Norte", acrescentou.
"Na minha opinião, nunca estivemos tão perto de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte e na região", considerou.
RW/dpa/lusa
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Coreia do Norte nas lentes de um instagrammer
Apesar do destaque no noticiário internacional, nação asiática continua sendo uma das mais isoladas do mundo. Em várias visitas ao país, o instagrammer Pierre Depont tentou capturar a vida cotidiana dos norte-coreanos.
Foto: DW/P.Depont
Traços de normalidade
Apesar da imagem de reclusa, a Coreia do Norte convida estrangeiros a descobrirem suas atrações. Mas viajar como turista não significa passear livremente pelo país, pois guias especiais devem acompanhar cada passo do visitante. As restrições não desencorajaram o instagrammer britânico Pierre Depont, que visitou o país sete vezes, capturando traços de normalidade no cotidiano dos norte-coreanos.
Foto: DW/P. Depont
Capitalismo rastejante
Depont visitou a Coreia do Norte pela primeira vez em 2013 e, desde então, ele estuda as transformações no país autoritário. Nos últimos dois ou três anos, ele observou que “em Pyongyang, tornou-se aceitável exibir a própria riqueza”. Com uma classe média cada vez maior e um boom das construções, a capital norte-coreana parece estar desafiando sanções econômicas internacionais.
Foto: Pierre Depont
Estilo em Pyongyang
Estabelecer contato com pessoas comuns não é fácil na Coreia do Norte, segundo Depont. "Tive algumas conversas aleatórias com estranhos, sempre ouvidas por um dos guias.” De acordo com as experiências do instagrammer, a maioria dos norte-coreanos não gosta de ser fotografado. “As mulheres norte-coreanas estão definitivamente ficando mais estilosas. Mas só é possível notar isso nas cidades.”
Foto: DW/P. Depont
Urbano X rural
Esta estação de metrô em Pyongyang deslumbra passageiros com o que parecem ser paredes de mármore e candelabros. Para Depont, a Coreia do Norte é um lugar ideal para a fotografia. “Você não encontra nenhuma publicidade, nenhuma distração”, diz. Mas enquanto a capital, onde vive a elite, parece estar prosperando, outras partes do país permanecem assoladas pela pobreza.
Foto: Pierre Depont
Dificuldades ocultas
A Coreia do Norte continua sendo uma sociedade altamente militarizada e predominantemente agrícola. Turistas, no entanto, não conseguem ver muito das condições de vida da população rural. “Cada pedacinho de terra é cultivado, cada metro quadrado é usado”, conta Depont.
Foto: Pierre Depont
Abundância encenada?
Turistas interessados na vida fora das cidades norte-coreanas são levados em visitas guiadas a cooperativas agrícolas. Quando Depont visitou uma fazenda do tipo, próxima a Hamhung, segunda maior cidade do país, ela exibia uma pequena venda, com uma variedade de mercadorias ordenadamente expostas. Depont disse ter tido a impressão de que se tratava de um comércio de fachada, só para ser mostrado.
Foto: DW/P.Depont
Escolas de elite
Uma parada numa escola modelo é um ponto importante de muitos tours na Coreia do Norte. A colônia de férias internacional Songdowon foi reaberta em 2014 e recebeu a visita do atual líder do país, Kim Jong-un. “Há algo de irreal no lugar”, conta Depont. “As crianças brincam na sala de jogos, usando fliperamas e cerca de 20 computadores modernos.”
Foto: DW/P.Depont
Militarismo onipresente
O setor militar é fundamental para a identidade do país e para o sustento de sua sociedade. Cerca de um quarto da população trabalha como funcionário militar. Pyongyang tem um dos maiores orçamentos militares do mundo em relação à sua economia. Desde pequenos, os norte-coreanos crescem em meio a um imaginário militar. Depont se deparou com esse tanque em miniatura num playground perto de Hamhung.
Foto: Pierre Depont
Adoração ritualizada
Além do militarismo, o alto nível de controle político e o culto à personalidade de Kim Jong-un e seus predecessores são onipresentes. A adoração cotidiana ao líder supremo impressionou Depont. “Você vê a quantidade de dinheiro e esforço dedicados a sustentar a história dos grandes líderes e suas grandes estátuas.”