Kitsch made in Germany
2 de novembro de 2004Serão 200 capítulos no ar a partir de 1º de novembro, com 100% de garantia de happy end. Mas, até lá, o espectador poderá compartilhar das costumeiras turbulências amorosas na vida das personagens Bianca e Oliver. Isso de segunda a sexta-feira, incluindo os feriados. Os mais alarmados apontam para uma espécie de assalto do kitsch à televisão alemã, já plenamente acostumada ao gênero em vários programas de auditório, entrevistas, nos reality shows e na reprodução constante de um repertório musical não necessariamente sofisticado.
Começo de uma era?
O detalhe interessante é que não apenas o canal privado Sat.1 investe no gênero popular de entretenimento, mas a mentora de Bianca é um canal de direito público, o respeitável ZDF. As gravações estão sendo feitas nos estúdios Babelsberg, nos arredores de Berlim. "Há três anos, comecei a divulgar o gênero novela na Alemanha. Agora, meu trabalho está rendendo frutos", diz Wolf Bauer, diretor da produtora UFA, responsável por Bianca, ao diário Handelsblatt.
Segundo o jornal, os cerca de 200 capítulos da novela trazem à UFA nada menos que 18 milhões de euros. O que faz com que a produtora – a maior da Alemanha, com sete subsidiárias – passe a deter 17% do mercado televisivo no país. "Conseguimos, com nossos programas, fugir bem da crise", afirma Bauer, cuja produtora, além da nova novela, já foi responsável por algumas pérolas da TV nacional, como o bem sucedido Alemanha procura uma estrela, uma espécie de show de calouros com elementos novelescos.
Em relação a Bianca, o canal ZDF espera uma audiência, em princípio, relativamente limitada. "Mesmo se no começo não conseguirmos atingir índices muito altos, vamos levar os 200 capítulos ao fim", afirma um porta-voz da emissora. O público-alvo é predominantemente feminino, situado entre os 30 e 50 anos. E com tempo suficiente para se sentar em frente à TV em plena tarde.
Água, açúcar e estereótipos
O roteiro? A loiríssima e singela Bianca (Tanja Wedhorn), 33 anos, é uma ex-presidiária (condenada bapesar de inocente, é claro) à procura da sorte, como já diz o título da série. Nestes "caminhos", é interpelada por várias complicações amorosas, encontrando o louro, belo e rico príncipe quase encantado Oliver (Patrick Fichte). E é incomodada, claro, pela vilã da história, Katy (esta sim, interpretada por uma atriz de cabelos escuros).
Ou seja: muita água, muito açúcar e doses exorbitantes de estereótipos. À acusação de que a televisão alemã se volta para o "kitsch sem nenhum pudor", Rasi Levinas, um dos autores de Bianca, responde decisivo: "Quando se vê outras pessoas passearem em noite de lua cheia, isso é kitsch. Quando se faz isso, é maravilhoso".
E para não se limitar à telinha, o canal ZDF vai ainda um pouquinho além, expondo as mazelas de Bianca e agregados em seu site. "Bianca interativa e multimídia", com seus diários à disposição do usuário-espectador. Para entrar no universo da heroína, é preciso esperar que uma rosa vermelha vá lentamente se despedaçando na tela. Se isso não for kitsch, o que será então?