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Perfil

(kg/av)12 de setembro de 2008

Regente de 81 anos ostenta honra rara para um músico: já por duas vezes foi cogitado para presidente. Decidido, político, brilhante, seu elixir de vida está na música. "Se eu parar amanhã, vocês vão ler meu necrológio".

Kurt MasurFoto: Christophe Abramowitz

Quem vivencia Kurt Masur regendo um concerto, por exemplo, uma sinfonia de Beethoven, não consegue crer que ele já tenha 81 anos de idade. Concentrado, em constante contato visual com os músicos, seus movimentos comunicam alta tensão, elã e entusiasmo absoluto pela música.

Ao lado do violinista Ruggiero Ricci (e) em 1971, na Komische Oper de BerlimFoto: AP

Há mais de 40 anos, o maestro alemão está entre os mais importantes chefes de orquestra do mundo. Ele nasceu em 18 de julho de 1927 em Brieg, na Baixa Silésia (hoje Brzeg, Polônia) e estudou piano, composição e regência em Leipzig. Interrompendo os estudos prematuramente, partiu para ganhar experiência em diversos teatros da antiga República Democrática Alemã (RDA).

Masur trabalhou em Halle, Erfurt, Schwerin, assim como na Komische Oper, de Berlim Oriental, nas funções de co-repetidor e regente. Em 1967, assumiu a direção da Filarmônica de Dresden, três anos mais tarde retornou a Leipzig. Como titular da Orquestra Gewandhaus celebrou a partir de 1970 êxitos internacionais, logo se tornando o mais aclamado maestro da Alemanha Oriental.

Cogitado para presidente

Com a 'Nona' de Beethoven Masur encerrou em 1996 26 anos à frente da GewandhausFoto: picture-alliance/ZB

Até 1997, Kurt Masur deu mais de 900 concertos com a orquestra de Leipzig. O que não o impediu de engajar-se politicamente por seu país. No final de 1989, por ocasião dos "Protestos de Segunda-Feira" contra o regime comunista em Leipzig, e ladeado por outras personalidades locais de destaque, o músico assim se dirigiu ao poder estatal:

"Nossa preocupação e responsabilidade comuns nos trouxeram até aqui, hoje. Somos afetados pelas ocorrências em nossa cidade e procuramos uma solução. Apelamos urgentemente à sua sensatez, para que o diálogo pacífico seja possível."

Sua corajosa atuação num momento decisivo da história alemã o envolveu numa aura de "salvador de Leipzig". Numa distinção raramente concedida a um músico, Masur foi cogitado para o cargo de presidente da RDA, de que, contudo, declinou. Em 1993, seu nome foi igualmente cogitado para chefe de Estado da Alemanha unificada.

Concertos para corações solitários

À frente da Orquestra Filarmônica de Nova York, em 2001, em BraunschweigFoto: picture-alliance/dpa

Em 1991, ele assumiu a direção da Orquestra Filarmônica de Nova York, que manteve até 2002. Neste período, desenvolveu uma estrutura de programa especial extremamente bem recebida, não apenas pelos nova-iorquinos como em todo o país. Ele descobriu a receita secreta durante um passeio solitário pela Big Apple.

"E aí descobri que, na verdade, Nova York está cheia dessas pessoas solitárias e decidi estruturar meus programas de tal modo que cada um que vá ao concerto tenha algum motivo para dizer: me senti em casa", revelou o maestro.

O amor no Brasil

São poucos os lugares do mundo aonde Masur não haja levado sua música. Porém, os laços afetivos com o Brasil são especiais: foi lá que conheceu, em 1974, sua terceira esposa, a soprano japonesa Tomoko Sakurai, na época violista da Orquestra Sinfônica Brasileira. O atual diretor artístico da OSB, Roberto Minczuk, foi pupilo de Masur, e o maestro alemão retorna ao país com relativa freqüência.

Neste meio tempo, Kurt Masur transferiu seu local de trabalho do Rio Hudson para o Sena, e dirige a Orquestra Nacional da França. De vez em quando, brinca com a idéia de se recolher à vida privada. Porém, no momento, a sua agenda está bastante cheia, o que Masur não acha nada mau.

"Espero poder ir diminuindo o ritmo gradualmente. Se parar amanhã, muito brevemente vocês estarão lendo o meu necrológio, pois a música faz parte de meu elixir de vida. E não se trata do vício do sucesso."

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