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CatástrofeLíbano

Líbano inicia luto nacional e recebe ajuda internacional

6 de agosto de 2020

Diversos países enviam suprimentos médicos a Beirute. Presidente da França chega ao Líbano para avaliar situação. Megaexplosão deixou ao menos 137 mortos, incluindo diplomata alemão, e mais de 5 mil feridos.

Imagem aérea da zona portuária de Beirute completamente destruída
Megaexplosão equivalente a terremoto de 3,5 na escala Richter causou destruição em boa parte da capital libanesaFoto: Reuters/M. Azakir

Beirute amanheceu nesta quinta-feira (06/08) em seu primeiro dos três dias consecutivos de luto nacional, declarado pelo primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, após uma megaexplosão ter esfacelado a região portuária da capital do Líbano na terça-feira. O desastre matou ao menos 137 pessoas e feriu ao menos outras cinco mil.

Vários países enviaram ajuda emergencial na quarta-feira. O Catar enviou hospitais de campanha, geradores de energia elétrica e ataduras especiais contra queimaduras, enquanto a Argélia preparou quatro aviões e um navio com ajuda humanitária, equipes médicas e bombeiros. Muitos outros países também ofereceram ou enviaram apoio médico ou humanitário.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prometeu enviar de Dubai utensílios médicos e cirúrgicos. A Alemanha enviou dezenas de especialistas em buscas e resgate para ajudar nas operações de busca por sobreviventes sob os escombros.

Moradias e acomodações para as pessoas é outro grande desafio para a capital libanesa – a megaexplosão dizimou um pedaço do centro da cidade. O governador da província de Beirute, Marwan Abboud, estimou que entre 250 mil e 300 mil pessoas ficaram desabrigadas devido à explosão.

O presidente da França, Emmanuel Macron, chegou ao Líbano nesta quinta-feira para se reunir com autoridades do país e avaliar a situação, de modo a preparar o envio de mais ajuda francesa. "Quero organizar a cooperação europeia e a cooperação internacional", afirmou Macron ao desembarcar em Beirute.

Dois aviões militares franceses voaram rumo ao Líbano nesta quarta-feira transportando 55 funcionários da Defesa Civil especializados em situações de emergência, para auxiliar os profissionais de saúde locais, e 15 toneladas de equipamento, além de uma unidade móvel de saúde para atender 500 feridos.

Gesto de solidariedade do inimigo: prefeitura de Tel Aviv, em Israel, projeta em sua fachada a bandeira do LíbanoFoto: Getty Images/AFP/J. Guez

Em Tel Aviv, a bandeira do Líbano foi projetada na fachada da prefeitura, no mais recente gesto de solidariedade de Israel com o Líbano, o país vizinho com o qual ainda está tecnicamente em guerra. "A humanidade precede qualquer conflito, e nossos corações estão com o povo libanês após o terrível desastre que os atingiu", disse o prefeito da cidade, Ron Huldai, em mensagem no Twitter.

O ministro de Assuntos de Jerusalém, Rafi Peretz, membro do partido ortodoxo de direita Lar Judaico, condenou a homenagem. "É possível e necessário fornecer ajudar humanitária a civis que foram feridos no Líbano, mas acenar uma bandeira inimiga no coração de Tel Aviv é uma confusão moral", disse Peretz.

Israel e Líbano ainda estão tecnicamente em guerra. Nas últimas semanas, aumentaram as tensões com o movimento xiita libanês Hisbolá. O auge do conflito entre o Hisbolá e Israel ocorreu em 2006, num confronto que durou um mês e devastou parte da infraestrutura do Líbano, atingida por intensos ataques aéreos israelenses. A guerra matou mais de 1.200 libaneses, a maioria civis, e 160 israelenses, a maioria soldados. 

Investigações em andamento

As causas do acidente ainda são desconhecidas. A origem da primeira explosão segue um mistério – houve relatos de que o estopim fora o estouro de fogos de artifício, mas a imprensa local apontou também que a explosão inicial possa ter sido provocada por trabalhos de soldagem. Já a derradeira megaexplosão, aquela que provocou a devastadora onda de choque, foi o resultado da explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio.

Diab condenou e criticou que o material químico altamente perigoso estava estocado num armazém portuário por cerca de seis anos. O governo libanês ordenou a prisão domiciliar para os funcionários portuários envolvidos no armazenamento ou na guarda do material no armazém.

Explosões atingem Beirute

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"É inaceitável que um carregamento de 2.750 toneladas de nitrato de amônio esteve presente por seis anos num armazém, sem que medidas preventivas tivessem sido tomadas", disse Diab, em reunião do Conselho de Defesa, de acordo com seu porta-voz.

Além de devastaram parte de Beirute, as explosões deixaram ao menos 137 mortos e mais de 5 mil feridos. Nesta quinta-feira, o Ministério do Exterior da Alemanha informou que um diplomata alemão morreu na tragédia.

"Indicativos de falha regulatória maciça"

O químico e radialista Andrea Sella, da Universidade College London, disse em entrevista à DW que os primeiros indícios sugerem que a explosão foi resultado de problemas de regulamentação e complacência.

Sella também expressou estar chocado com a negligência em relação ao armazenamento de nitrato de amônio. "Sabemos que deve ser armazenado com cuidado. A ideia de que se têm três mil toneladas desse material, realmente próximo a áreas residenciais, simplesmente me deixa perplexo e é um indicativo de uma falha regulatória absolutamente maciça", disse Sella.

A disputa política entre as autoridades também teve um papel significativo na cadeia de eventos que levou à megaexplosão de terça-feira, de acordo com o especialista em química. "Parece que em Beirute eles entraram em um emaranhado entre as autoridades legais, as autoridades de segurança, as autoridades portuárias, que simplesmente levou a um impasse. Há uma complacência. Lembre-se, quando nada acontece, começamos a supor que tudo vai ficar bem", disse Sella.

Ao ser questionado se uma tragédia deste porte poderia ocorrer novamente em outra cidade do mundo, o químico lembrou casos passados.

"A história do nitrato de amônio nos diz que isso acontece regularmente, repetidas vezes. Acidentes industriais ocorrem bastante. Eles ocorrem devido a cadeias complicadas. Vai ser muito difícil atribuir a culpa a um ou outro indivíduo. Existem claramente responsabilidades em toda a linha [administrativa] e isso vai acontecer novamente, infelizmente", afirmou Sella.

PV/afp/ap/rtr/dw

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