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"Líbia pode se tornar o novo epicentro do terrorismo"

Peter Kapern (ca)19 de fevereiro de 2015

Ex-assessor de segurança do governo alemão defende intervenção militar terrestre para combater extremistas, mas admite que Ocidente não sabe como lidar com crescimento do terrorismo em território líbio.

Libyen Islamisten Demo in Bengasi 31.10.2014
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hannon

A execução de 21 cristãos egípcios pelo "Estado Islâmico", divulgada no último domingo (15/02), chamou a atenção para a Líbia, que desde a Primavera Árabe é marcada pela instabilidade e é considerada hoje terreno fértil para a atuação de extremistas.

Para Guido Steinberg, especialista em terrorismo do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), a Líbia pode vir a se tornar o novo epicentro do radicalismo jihadista no norte da África.

Ele defende uma intervenção militar terrestre para combater o EI. Mas admite que nem os políticos europeus nem os americanos têm a menor ideia de como lidar com a situação na Líbia.

"A luta contra essa organização será longa. E o EI continuará a se expandir no mundo árabe", prevê o especialista, que trabalhou como conselheiro do governo alemão para assuntos de terrorismo entre 2002 e 2005.

Deutschlandfunk: O chamado "Estado Islâmico" opera agora também na Líbia. Como o grupo terrorista chegou até lá?

Guido Steinberg: Até agora, eu tinha a impressão de que havia grupos radicais menores no país que, devido ao grande êxito do EI no Iraque e na Síria, se declararam membros do movimento terrorista. Atualmente, três grupos na Líbia aderiram ao EI. E se trata de mais do que declarações de intenção. Parece que têm contatos, que estão recebendo apoio.

Isso não vale apenas para a Líbia, também há um braço do EI no Egito, e outro menor no Iêmen, na Argélia e no Afeganistão. Existe o temor de que a organização terrorista construa uma rede internacional como a Al Qaeda em 2001.

Parece que os jihadistas lutam por diferentes organizações terroristas. Qual a lógica por trás disso?

Em primeiro lugar, o êxito é um critério importante. Depois de 2001, observamos a expansão de ramificações da Al Qaeda. Aparentemente, quando grupos extremistas usavam o rótulo de Al Qaeda, eles recebiam recrutas não só da região do Golfo, mas também do resto do mundo, obtendo também apoio financeiro.

O EI também parece funcionar da mesma forma. No entanto, sabe-se que a ramificação egípcia do EI enviou combatentes para o Iraque e a Síria, em troca de apoio financeiro. E desde que esta unidade egípcia, que opera no Sinai sob o nome de Província do Sinai, passou a pertencer ao EI, ela se tornou muito mais eficaz.

No caso da Líbia, ao analisarmos o vídeo onde se mostra a decapitação de 21 reféns coptas, pode-se ver que, em nível técnico, ele tem a mesma qualidade que os demais vídeos do EI. Isso significa que as organizações estão realmente trabalhando em conjunto.

Pelo que parece, a Líbia se converteu num Estado falido, semelhante às zonas no Iraque e na Síria controladas pelo EI. Deve-se ampliar a luta contra o grupo terrorista na Líbia?

Sim, isso seria o melhor. Pois a Líbia pode vir a se tornar o novo epicentro do terrorismo jihadista no norte da África. A grande pergunta é como intervir na Líbia, onde, como é o caso na Síria, o Ocidente não é considerado um verdadeiro aliado. Há grupos islâmicos, milícias e um ex-militar, Khalifa Haftar, que quer edificar uma nova ditadura secular com o apoio do Egito, dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita.

Nem os políticos europeus nem os americanos têm a menor ideia de como intervir no país. Em minha opinião, em primeiro lugar, os europeus deveriam estabilizar os países vizinhos, sobretudo a Tunísia. Os tunisianos estão muito preocupados com o que está acontecendo na Líbia e pedem armas à Europa. Temo que, na Líbia, a guerra civil vá se intensificar e que isso seja algo que os europeus não possam evitar.

O que alcançou, até agora, a coalizão internacional contra o chamado "Estado Islâmico"?

Ao menos ela diminuiu o avanço do EI, obrigando-o a retroceder um pouco. Este é um êxito que se pode atribuir aos ataques aéreos dos EUA e seus aliados, mas também ao apoio que as tropas curdas iraquianas têm recebido dos alemães. O grande problema no Iraque e na Síria é que os ataques aéreos estão perdendo a efetividade, já que todos os grandes alvos foram destruídos.

O próximo passo deve ser a criação de alianças com grupos locais. Na Síria, isso não será fácil, mas no Iraque pode ser que isso venha a funcionar. No entanto, o governo iraquiano, de maioria xiita, deve convencer os sunitas no país de que é a melhor alternativa ao EI. Enquanto isso não acontecer no Iraque ou na Líbia, a organização terrorista continuará ganhando força na região.

Tropas terrestres são necessárias para combater o EI?

Claro que sim. Tropas terrestres são necessárias, porque os ataques aéreos já não são mais eficazes. No Iraque e na Síria, são necessários árabes sunitas para combater efetivamente o EI. Com nossos aliados atuais, ou seja, os curdos e as milícias xiitas, não é possível combater com sucesso o EI nos territórios sunitas. Portanto, a luta contra essa organização será longa. E o EI continuará a se expandir no mundo árabe.

* Entrevista concedida a Peter Kapern, da rádio pública alemã Deutschlandfunk

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