Durante reunião do Conselho de Segurança, secretário-geral Guterres alerta para risco de uma guerra em grande escala e pede contenção. Irã diz não querer escalada do conflito, e Israel se vê no direito de responder.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou neste domingo (14/04) que a população do Oriente Médio enfrenta o perigo real de um "conflito devastador em grande escala" e apelou à "máxima contenção", frisando que "é hora de recuar do abismo".
Durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, convocada por Israel para abordar o ataque iraniano de sábado, Guterres alertou que os civis já estão "pagando o preço mais elevado".
"É hora de recuar do abismo. É vital evitar qualquer ação que possa conduzir a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio", apelou.
A mensagem do diplomata português foi reforçada com o lembrete de que o Direito internacional proíbe "ações de retaliação que incluam o uso da força", no que pode ser entendido como um apelo tanto ao Irã como a Israel.
O Irã justificou seu ataque como um ato de retaliação pelo bombardeio do seu consulado em Damasco. Já Israel afirmou que se reserva o direito de responder aos ataques iranianos.
Irã: "Direito à autodefesa"
A reunião do Conselho de Segurança não estava avaliando nenhum projeto de resolução ou moção. Ela foi uma primeira convocação para discutir a situação, cerca de 24 horas após o ataque do Irã, a pedido de Israel. A reunião foi encerrada depois de todos os oradores se manifestarem.
Além dos representantes dos membros do Conselho, embaixadores de vários outros membros da ONU – incluindo Rússia, China, Coreia do Sul, Serra Leoa, Síria, Reino Unido, França, Argélia e outros – participaram da reunião em Nova York no final do domingo.
O embaixador iraniano nas Nações Unidas, Amir Saeid Jalil Iravani, declarou que seu país "não teve outra escolha senão exercer o seu direito à autodefesa", ao justificar o ataque sem precedentes a Israel.
"O Conselho de Segurança falhou no seu dever de manter a paz e a segurança internacionais" ao não condenar o ataque de 1º de abril ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, declarou Iravani.
"Sob essas condições, a República Islâmica do Irã não teve outra escolha senão exercer o seu direito à legítima defesa", disse, garantindo que Teerã não quer uma escalada do conflito, mas responderá a "qualquer ameaça ou agressão".
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Israel: "Direito legal de responder"
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, sublinhou que seu país tem agora direito à retaliação, apesar dos apelos do secretário-geral e de todos os países para que ambos os lados se contenham, e pediu "todas as sanções possíveis" ao Irã, "antes que seja tarde".
"Este ataque ultrapassou todas as linhas vermelhas, e Israel reserva-se o direito legal de responder", afirmou Erdan. "Depois de um ataque tão maciço contra Israel, o mundo inteiro, muito menos Israel, não pode ficar de braços cruzados. Defendemos o nosso futuro", continuou Erdan, que agradeceu especificamente aos Estados Unidos pelo seu apoio.
O gabinete de guerra de Israel se reuniu após o ataque, mas uma autoridade israelense disse à agência de notícias Associated Press que nenhuma decisão foi tomada. A agência de notícias Reuters informou que parece haver uma divisão no gabinete sobre o momento e a intensidade de uma resposta israelense.
EUA não querem escalada do conflito
O representante adjunto dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood, defendeu perante o Conselho a necessidade de condenar o ataque do Irã a Israel e sublinhou o interesse do seu país em reduzir a tensão na região.
"Nos próximos dias, os Estados Unidos vão explorar medidas adicionais para responsabilizar o Irã aqui nas Nações Unidas", afirmou. Em todo o caso, Wood sublinhou que os Estados Unidos não querem uma escalada.
O representante dos EUA referiu-se ainda à situação na Faixa de Gaza e defendeu a necessidade de um cessar-fogo, de um acordo para a libertação dos reféns e de se aumentar a ajuda humanitária à população de Gaza.
O Irã lançou na noite de sábado um ataque a Israel com mais de 300 drones, mísseis de cruzeiro e balísticos, a grande maioria interceptados, segundo os militares israelenses.O ataque foi executado depois de um bombardeio, atribuído a Israel, ao consulado iraniano em Damasco, em 1º de abril, que matou sete membros da Guarda Revolucionária e seis cidadãos sírios.
O governo dos Estados Unidos já afirmou que não participará de qualquer represália de Israel ao ataque iraniano.
as/cn (Lusa, AFP, AP)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
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2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
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2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
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2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
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2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.