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PolíticaAfeganistão

Líder anti-Talibã quer negociar, mas não descarta confronto

22 de agosto de 2021

Ahmad Massoud controla o Vale do Panjshir, que não foi tomado pelo grupo fundamentalista islâmico. Ele diz que não aceitará um "regime totalitário" em Cabul.

Ahmad Massoud
Combatentes querem lutar caso Talibã não aceite negociar, diz Massoud (em foto de 2019)Foto: Mohammad Ismail/REUTERS

Ahmad Massoud, líder da última localidade relevante no Afeganistão que ainda resiste ao Talibã, disse neste domingo (22/08) que espera ter um diálogo pacífico com o movimento fundamentalista islâmico que tomou o controle de Cabul, mas afirmou que seus combatentes estão prontos para o confronto se for necessário.

"Queremos fazer o Talibã perceber que a única maneira de ir adiante é por meio da negociação", ele disse à agência Reuters por telefone, a partir do Vale do Panjshir, a noroeste de Cabul, onde reuniu ex-integrantes das Forças Armadas e unidades especiais do Afeganistão e membros de milícias locais. "Não queremos que uma guerra comece."

Massoud deu a declaração enquanto o Talibã comunicava que centenas de combatentes estavam se dirigindo a Panjshir "depois que autoridades do governo local se recusaram a entregar o poder pacificamente". O movimento compartilhou no Twitter um vídeo com uma fila de veículos que pertenciam ao governo afegão e foram apropriados pelo Talibã, adornados com a bandeira branca do movimento, sendo conduzidos em uma estrada.

Filho da resistência aos soviéticos

Massoud, filho de Ahmad Shah Massoud, um dos principais líderes da resistência afegã contra os soviéticos nos anos 1980, disse que seus apoiadores estavam prontos para lutar se as forças do Talibã invadissem o vale. "Eles querem defender, eles querem lutar, eles querem resistir contra qualquer regime totalitário", afirmou.

Porém, ainda havia dúvidas se a operação das forças do Talibã havia começado ou não. Um membro do grupo fundamentalista disse que uma ofensiva havia sido deflagrada em Panjshir. Mas um assessor de Massoud afirmou não haver sinais de que talibãs tivessem entrado na estreita passagem do vale, e que não havia relatos de confrontos.

No único combate registrado no país desde a tomada de Cabul, no último domingo, forças contrárias ao Talibã retomaram o controle na última semana de três distritos na província de Baghlan, que faz divisa com Panjshir. Mas Massoud disse que ele não havia organizado essa operação, que segundo ele foi liderada por milícias locais em reação a episódios de "brutalidade" na região.

Membros da resistência ao Talibã reunidos no Vale do Panjshir na última quinta-feira (19/08)Foto: Ahmad Sahel Arman/AFP/Getty Images

Defesa de um governo amplo em Cabul

Massoud quer um governo inclusivo e amplo em Cabul, que represente os diferentes grupos étnicos do Afeganistão, e disse que um "regime totalitário" não deveria ser reconhecido pela comunidade internacional.

Carcaças de veículos blindados soviéticos que ainda pontuam o vale demonstram como Panjshir foi difícil de ser conquistada no passado. Mas muitos observadores externos questionam se as forças de Massoud terão capacidade de resistir por muito tempo sem apoio externo.

Ele disse que seus combatentes, que segundo um assessor superam os 6 mil homens, precisariam de apoio internacional se entrassem em combate. Mas Massoud afirmou que eles não vinham apenas de Panjshir, uma região ocupada pelos tajiques, que falam persa e estão há muito tempo em disputa com os pashtuns, que formam o núcleo do Talibã.

"Há muitas outras pessoas de diversas províncias que estão buscando abrigo no Vale do Panjshir, que estão ao nosso lado e que não querem aceitar uma outra identidade para o Afeganistão", afirmou.

bl (Reuters)