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PolíticaGabão

Líder de golpe militar no Gabão toma posse como presidente

5 de setembro de 2023

General Brice Nguema assume a Presidência após destituir família que governava o país há 56 anos. Ele prometeu eleições "livres e justas" e se disse "surpreso" com críticas internacionais.

Cerimônia de posse de Brice Oligui Nguema, novo presidente do Gabão, com a presença de militares e autoridades
Ao tomar posse, Brice Oligui Nguema propôs elaboração de uma nova Constituição a ser adotada por referendo, novos códigos penais e eleitorais.Foto: Gerauds Wilfried Obangome/REUTERS

O general Brice Oligui Nguema, que liderou do golpe de Estado que destituiu o governo eleito do Gabão no final de agosto, foi nomeado como o novo presidente do país. A cerimônia de posse, transmitida em cadeia nacional, foi elaborada de modo a retratar os militares golpistas como os libertadores de uma sociedade oprimida.

No oitavo golpe militar ocorrido na região da África Central e Ocidental em três anos, o Exército gabonês liderado por Nguema tomou o poder no dia 30 de agosto, minutos após o anúncio de que o presidente Ali Bongo Ondimba havia ganho as eleições, enquanto a oposição denunciava fraude eleitoral. Após a tomada de poder, o pleito foi anulado e classificado como sem credibilidade.

Nguema, de 48 anos, foi empossado por um painel de juízes da Corte Constitucional do Gabão. Imagens da emissora estatal de televisão mostravam multidões comemorando a posse do general.

Vários membros do governo de Bongo Ondimba compareceram à cerimônia, incluindo o vice-presidente e o primeiro-ministro do gabinete do presidente deposto, que permanece em prisão domiciliar.

Em seu discurso, ele propôs reformas, incluindo a elaboração de uma nova Constituição a ser adotada por referendo, novos códigos penais e eleitorais e medidas para priorizar o desenvolvimento econômico de bancos e empresas locais. Ele disse que os exilados políticos poderão voltar país e que os presos políticos serão libertados.

Promessa de eleições livres

O general descreveu o golpe que pôs fim a um período de 56 anos em que a família Bongo permaneceu no poder como um momento de libertação nacional e de manifestação da "vontade divina".

"Quando pessoas são esmagadas por seus líderes [...] é o Exército quem lhes restabelece a dignidade", afirmou. "Povo do Gabão, hoje os tempos de felicidade com os quais nossos ancestrais sonhavam estão finalmente chegando".

Ele prometeu eleições livres e diretas, mas não estabeleceu nenhum prazo para que isso aconteça. "Após essa transição, pretendemos devolver o poder aos civis através da organização de novas eleições que serão livres, transparentes, confiáveis e pacíficas."

Anteriormente, Nguema disse que a junta militar iria proceder com rapidez, mas alertou que a pressa poderia resultar em eleições sem credibilidade.

O novo líder do país se disse surpreso com as críticas internacionais ao golpe no Gabão.

"Estamos bastante surpreendidos ao ouvir certos organismos internacionais condenarem o ato realizado por soldados que estavam simplesmente cumprindo seus juramentos à bandeira, de salvarem o país ao risco de perderem suas vidas."

Instabilidade regional

Nesta segunda-feira, o bloco ECCAS, formado por países da África Central, decidiu suspender a adesão do Gabão durante um encontro dos líderes dessas nações, realizado na Guiné Equatorial.

Ele foi eleito em 2009, sucedendo o seu pai, que chegou ao poder em 1969. Seus críticos dizem que a família fez muito pouco para compartilhar a riqueza do petróleo e da mineração, no país de 2,3 milhões de pessoas.

O maior grupo de oposição do país, o Alternância 2023, pediu à comunidade internacional que pressione a junta militar para devolver o poder aos civis. Membros do grupo se reuniram com Nguema no domingo, mas o conteúdo das conversas não foi divulgado.

Outros cinco países da região – Mali, Guiné, Sudão, Burkina Faso e Níger – sofreram golpes de Estado nos últimos três anos., apesar que em circunstâncias diferentes das do Gabão. Em três desses países, golpes militares que sucederam presidentes eleitos não conseguiram conter insurgências de grupos jihadistas.

rc (Reuters, AFP)