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Líder de Hong Kong abandona discurso após protestos

16 de outubro de 2019

Parlamentares pró-democracia forçam Carrie Lam a interromper pronunciamento anual. Sem conseguir completar fala, chefe do Executivo faz discurso sobre futuro político da região administrativa especial da China em vídeo.

Lam deixa Conselho Administrativo de Hong Kong em meio a protestos de parlamentares
Lam deixa Conselho Administrativo em meio a protestos de parlamentaresFoto: Reuters/T. Siu

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, foi forçada nesta quarta-feira (16/10) a interromper seu discurso sobre políticas futuras para a região administrativa especial que fazia no Conselho Legislativo, em meio a protestos de parlamentares. Após uma segunda tentativa interrompida por legisladores, a governante acabou fazendo seu pronunciamento anual em vídeo.

O discurso de Lam foi anunciado como uma tentativa de conquistar apoio e restaurar a confiança em seu governo, após mais de quatro meses de intensos protestos pró-democracia. 

Quando a governante começou a falar, parlamentares entoaram canções em defesa da democracia, abriram cartazes de protestos e acenaram com as mãos pintadas de vermelho simbolizando sangue. Legisladores pediram a renúncia da governante.

Após a primeira onda de protestos, Lam interrompeu o discurso e deixou o plenário, mas voltou minutos depois para tentar dar continuidade a fala. Novamente, ela não conseguiu fazer o pronunciamento. Cerca de 75 minutos depois de deixar o Conselho Administrativo, a governante enviou o vídeo com a mensagem.

O fracasso de Lam perante os parlamentares marcou um novo revés para o governo, que há meses é alvo de protestos. As manifestações começaram em junho em oposição a um projeto de lei, já derrubado, que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China continental. 

Originados pela proposta, os protestos evoluíram, entretanto, para uma campanha a favor da democracia, que tem resultado em violentos confrontos entre manifestantes e a polícia.

No pronunciamento, Lam afirmou que o território enfrenta uma "grave crise" e alertou que "a violência contínua e a disseminação do ódio irão corroer os valores de Hong Kong".

A governante anunciou ainda medidas para reduzir o déficit habitacional. A insatisfação com o alto preço dos imóveis é um dos motores dos protestos, principalmente entre os jovens.

"Estamos determinados a criar oportunidades de compra de imóveis para pessoas de diferentes grupos de renda", destacou Lam, que novamente rejeitou renunciar ao seu cargo. Ela anunciou ainda a estatização de 700 hectares de propriedades privadas.

Lam descartou, porém, fazer mais concessões aos manifestantes, que pedem a libertação dos manifestantes detidos, um inquérito independente sobre a violência policial, a retração da palavra "motim" para descrever as manifestações, bem como o direito dos cidadãos de Hong Kong de escolher democraticamente seus líderes.

"Fazer concessões simplesmente por causa da escalada da violência só vai piorar a situação. Por outro lado, devemos considerar todos os meios para acabar com a violência", disse.

O discurso ocorreu poucas horas depois de a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos ter aprovado projetos de lei que preveem sanções contra Pequim, caso a China não respeite as liberdades civis em Hong Kong. As propostas ainda precisam ser analisadas pelo Senado americano.

Pequim prometeu retaliação se as medidas entrarem em vigor e expressou "profunda indignação" com a possível interferência americana. "Hong Kong pertence à China, e os assuntos do território são assuntos internos da China ", declarou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, citado pela agência de notícias estatal Xinhua.

A atual onda de protestos é a maior realizada contra o governo chinês desde que Hong Kong foi devolvida pelo Reino Unido para a China, em 1997. O processo de retorno foi firmado num acordo, em 1984, no qual os chineses se comprometeram a implementar o chamado modelo "um país, dois sistemas", que previa a manutenção dos sistemas econômico e social vigentes e um elevado grau de autonomia (exceto em questões de defesa e relações externas) para o território, por ao menos 50 anos.

Desde então, Hong Kong tem o status de região administrativa especial da China, com uma legislação própria que garante, por exemplo, as liberdades de expressão e de reunião e que permite que o território continue sendo um importante centro financeiro e comercial.

Apesar da autonomia, os chineses têm a palavra final em Hong Kong, e a oposição reclama principalmente de uma excessiva interferência chinesa, afirmando que a China não está cumprindo à risca o que acertou com os britânicos.

CN/rtr/ap/afp/lusa

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