Observatório Sírio de Direitos Humanos diz que morte de Abu Bakr al-Baghdadi foi confirmada por membros do alto escalão do grupo jihadista. Recluso, ele teria passado últimos meses na Síria. EUA não atestam informação.
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O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) afirmou nesta terça-feira (11/07) que membros do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) confirmaram a morte de seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. O governo dos Estados Unidos, por outro lado, disse não estar em condições de atestar a informação.
Em mensagem publicada em suas redes sociais, a ONG escreveu: "Informações foram confirmadas ao OSDH sobre a morte de Abu Bakr al-Baghdadi, o 'Emir da organização Estado Islâmico'".
Em entrevista à agência de notícias AFP, o diretor da entidade, Rami Abdel Rahman, explicou que a morte foi confirmada por "altos comandantes do EI localizados na província de Deir Ezzor". "Tomamos conhecimento disso hoje, mas não sabemos quando ou como ele morreu", acrescentou.
Segundo Rahman, o líder da milícia jihadista passou seus últimos meses em Deir Ezzor, no leste da Síria, mas não ficou claro se ele foi morto nessa região ou em outro lugar. A província permanece em grande parte sob controle do EI, embora o grupo continue perdendo territórios tanto no país como no vizinho Iraque.
Após a divulgação da morte pela ONG, a coalizão internacional que luta contra a milícia extremista no Oriente Médio, sob liderança dos EUA, informou que ainda não pode verificar a informação.
"Eu não tenho ideia [sobre a situação de Baghdadi]. Espero que ele esteja morto e enterrado. E se não estiver, assim que descobrirmos sua localização, ele estará", afirmou, em Bagdá, o comandante da missão militar americana contra o "Estado Islâmico", tenente-general Stephen Townsend.
Washington oferece atualmente uma recompensa de 25 milhões de dólares pela captura de Baghdadi, o mesmo valor ofertado em troca do ex-líder da Al Qaeda Osama bin Laden, morto em 2011, e de seu sucessor, Ayman al-Zawahri.
Seguindo a resposta da coalizão, o Departamento de Defesa dos EUA também se disse incapaz de confirmar a morte do líder do EI. Da mesma forma, autoridades curdas e iraquianas, que também lutam contra o grupo extremista, se recusaram a atestar a informação.
Após o anúncio do OSDH, o presidente americano, Donald Trump, publicou no Twitter a seguinte mensagem: "Grande vitória contra o Isis ['Estado Islâmico']". Ele não deixou claro, porém, se estava se referindo à suposta morte de Baghdadi ou à derrota da milícia jihadista em Mossul, no Iraque, anunciada pelo governo em Bagdá no fim de semana.
Apesar de o Observatório Sírio ter um histórico de relatórios confiáveis sobre o conflito no Oriente Médio, essa não é a primeira vez que Baghdadi é dado como morto. Ele não é visto em público desde que proclamou um califado na cidade de Mossul, três anos atrás.
Em junho passado, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que Baghdadi pode ter morrido em 28 de maio, em decorrência de um ataque aéreo russo nos arredores de Raqqa, capital não oficial dos jihadistas na Síria. Moscou vem executando uma campanha militar em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad, desde setembro de 2015. Até então, o anúncio russo não fora confirmado.
EK/afp/efe/lusa/rtr/ots
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.