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Líder dos liberais alemães defende linha mais dura com China

Mark Hallam
9 de setembro de 2021

Em entrevista à DW, cabeça de chapa do partido FDP afirma que Alemanha deve ter "mais determinação e menos luvas de pelica" para lidar com a China.

Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP), da Alemanha
Lindner: "República Popular da China viola direito internacional e não mantém padrão mínimo de direitos humanos"Foto: R. Oberhammer/DW

A Alemanha precisa oferecer apoio aos países vizinhos do Afeganistão para que eles possam receber os afegães em fuga dos talibãs. A afirmação é do presidente do  Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner, cabeça de chapa do partido nas eleições parlamentares de setembro, em entrevista à DW.

"Não devemos esperar das pessoas que estão fugindo que elas tenham que fazer a longa e perigosa jornada rumo à Europa. Precisa haver uma primeira opção para acomodação humana nas imediações", disse o político de 42 anos.

Assim que este refúgio seguro nas proximidades for garantido, continuou Lindner, várias organizações internacionais, tais como a Agência das Nações Unidas para Refugiados ou a Organização Internacional para as Migrações, poderão avaliar a situação e ver o que fazer depois.

Refugiados e as 'lições de 2015'

Lindner também defendeu a realização de uma cúpula de emergência dos líderes da UE, que classifica como há muito necessária, a fim de definir uma política comum para a questão.

Quando questionado sobre o que impede a Alemanha de tomar uma ação mais rápida de forma unilateral, caso preciso, Lindner argumentou que foi justamente tal atitude, adotada em 2015 durante a chamada crise dos refugiados, que provocou atrito com os parceiros europeus.

Lindner nos estúdios da DW: duras críticas à política de Merkel no AfeganistãoFoto: R. Oberhammer/DW

"A situação [no Afeganistão] não é equiparável à da Síria em 2015. Mesmo assim, devemos aprender as lições de 2015", disse.

"Eu não faria como o chanceler austríaco [Sebastian] Kurz, que imediatamente disse que ninguém seria recebido. Considero errada essa abordagem unilateral. Mas, por outro lado, também não seria adequado que a Alemanha citasse um número [de pessoas que está disposta a receber] e fazê-lo sozinha. É por isso que faço esse apelo por uma política comum para o Afeganistão."

Questionado sobre quais lições podem ser tiradas internamente do repentino colapso no Afeganistão após a retirada das tropas da Otan, o político liberal defendeu a criação de um conselho de segurança nacional.

"Há uma falta de coordenação sistemática entre a Chancelaria, o Ministério do Exterior e o Ministério da Defesa. Portanto, precisamos criar diferentes estruturas na Alemanha também no futuro. Acredito fortemente que precisamos de algo como um conselho federal de segurança, para a coordenação institucional entre os departamentos ativos em política externa e intercâmbio de informações no mais alto nível. Além dos ministérios que acabei de mencionar, eu incluiria também o Ministério do Desenvolvimento Econômico."

Merkel em sua última visita ao Afeganistão, em maio de 2013, ao lado do então Ministro da Defesa, Thomas de Maizière.Foto: picture-alliance/dpa

Uma proposta semelhante já foi apresentada por Armin Laschet, candidato da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU) a chanceler federal. De todos os partidos alemães, uma aliança com a CDU/CSU seria a coalizão mais natural para o FDP. Atualmente com pouco mais de 10% de apoio, o FDP disputa com a sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e A Esquerda o quarto lugar entre os maiores partidos do país. Portanto, o FDP pode ter um peso crucial nas negociações para uma coalizão.

No entanto, Lindner também criticou a atual chanceler federal, Angela Merkel (CDU), por não dar suficiente atenção ao tema Afeganistão. Ele disse acreditar que, na visão da chanceler, que assumiu o cargo em 2005, o conflito sempre foi visto como algo politicamente herdado. Sendo assim, ela "nunca viu essa missão no Afeganistão realmente como sua".

"Basta perguntar: quando foi a última vez que Merkel esteve no Afeganistão?", disse Lindner.

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02:58

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Merkel fez várias viagens ao Afeganistão como chanceler federal, mas a mais recente foi uma visita às tropas em 2013. Apenas uma vez ela visitou um presidente afegão, Hamid Karzai, em 2007, durante seu primeiro mandato. Lindner disse que esperava mais, "visto que a Alemanha foi o segundo maior fornecedor de tropas [ao país]".

Direitos humanos e comércio

O FDP combina uma mistura de políticas econômicas pró-mercado com uma agenda socioliberal. Vale lembrar que o partido teve o primeiro líder assumidamente gay da Alemanha,o ex-ministro do Exterior Guido Westerwelle.

Lindner também foi questionado sobre como esses dois pilares da identidade do FDP poderiam coexistir na política externa, por exemplo como seria possível promover o comércio com países com históricos ruins em direitos humanos.

O político disse haver muitos países que não atendem "nossos padrões em direitos humanos, democracia e Estado de Direito", mas que é necessário ser realista e reconhecer que pode haver diferentes níveis de cooperação.

"Um exemplo: se realmente fizéssemos tudo de acordo com nossos padrões de direitos humanos, poderíamos ter problemas até com os EUA, pois eles ainda adotam a pena de morte", argumentou.

Nova abordagem para a China

No entanto, apesar do alerta de que poucos parceiros internacionais são perfeitos, Lindner também disse que adotaria uma linha mais dura em relação à China do que os governos alemães nos últimos anos, especialmente à luz dos acontecimentos em Hong Kong. Questionado por um telespectador chinês da DW sobre como sua abordagem seria diferente, Lindner respondeu:

"Precisamos de mais determinação e menos luvas de pelica do que tem sido visto nos últimos anos de Merkel e seu governo. A República Popular da China viola o direito internacional e não mantém o padrão mínimo de direitos humanos. No comércio internacional, seu comportamento é francamente imperial e eles operam com preços de dumping. Com um país como este, não podemos simplesmente continuar lidando como antes."

Lindner ainda acrescentou que a China quebrou "promessas claras" no caso da autonomia de Hong Kong.

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Para ele, o acordo de investimento da UE com a China, provisoriamente acertado no início deste ano, não deveria ser ratificado devido à atual situação.

Quando questionado sobre considerações comerciais, ou seja, a enorme fatia das vendas das montadoras alemãs na China, ele respondeu com humor: "Os carros alemães são tão bons que não temo nenhuma chantagem".

No que diz respeito à Rússia, Lindner assumiu uma postura igualmente dura, pedindo sanções mais rígidas e mais engajamento com grupos de oposição no curto prazo. No entanto, ele também disse que seria "ótimo" se muitos problemas pudessem ser resolvidos, a fim de estreitar os laços entre a Europa e a Rússia, potencialmente incluindo livre comércio e circulação de pessoas.

Por fim, o político foi questionado sobre o legado de Merkel, considerando que o FDP governou em coalizão com os democrata-cristãos durante o segundo mandato da chanceler. Apesar das críticas, desta vez Lindner se concentrou nos aspectos positivos.

"Ela investiu seus dotes intelectuais e todas suas habilidades e força a serviço de nosso país. Isso merece um grande reconhecimento. Quanto ao placar político, outras almas mais objetivas do que eu provavelmente deveriam ser os árbitros."

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