Líder supremo acusa "inimigos do Irã" por protestos
2 de janeiro de 2018
Sem citar nomes, Khamenei afirma que forças externas usaram dinheiro, armas e aparato de inteligência para criar problemas no país. Número de mortos em protestos antigoverno sobe para 21.
Anúncio
Em sua primeira declaração sobre os protestos no Irã, o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, acusou nesta terça-feira (02/01) os "inimigos" do país de estarem por trás das manifestações que deixaram ao menos 21 mortos nos últimos seis dias.
"Nos últimos dias, os inimigos do Irã usaram diferentes ferramentas, incluindo dinheiro, armas, política e aparato de inteligência, para criar problemas para a República Islâmica", acusou Khamenei.
O inimigo sempre esteve esperando a oportunidade de penetrar e prejudicar a nação iraniana, acrescentou o líder. "O que evita a hostilidade do inimigo é a existência do espírito de coragem, sacrifício e fé da nação", ressaltou.
Protestos no Irã chegam ao sexto dia com mais de 20 mortos
01:41
Khamenei não mencionou quem seriam esses inimigos. Porém, o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional Ali Shamkhani acusou os Estados Unidos, o Reino Unido e a Arábia Saudita de estarem por trás dos protestos nos país.
Onda de protestos
Desde a última quinta-feira, o Irã enfrenta uma onda de manifestações em diversas cidades. Os protestos são considerados os maiores desde a revolta de 2009, quando uma série de manifestações tomou as ruas do país contra supostas fraudes eleitorais a favor do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, logo se tornando um movimento de maior escala de contestação ao regime dos aiatolás.
Desta vez, os protestos tiveram inicialmente a inflação e o desemprego como alvo, mas logo ganharam tom político, com críticas ao presidente Hassan Rohani e a Khamenei. Não está claro, porém, se as manifestações, que acontecem por todo o país, tem uma reivindicação uníssona.
Desde o início dos protestos, cerca de mil pessoas foram detidas. Somente em Teerã, foram 450 detenções. O vice-promotor da cidade de Mashhad, Hassan Heidari, informou que 138 pessoas foram presas. O comandante dos Guardiões da Revolução da província de Kerman, Golam Ali Abuhamze, disse que na cidade de mesmo nome há mais de 80 detidos. Em Hamedan, no oeste do país, os presos superam 150, de acordo com o governador da província, Ali Toali. Outras centenas foram presas em várias cidades.
O governo do Irã afirmou nesta terça-feira que aqueles que participarem de protestos podem ser acusados de vários crimes, alguns deles punidos com a pena de morte.
"A cada dia que passe e as pessoas forem detidas, aumentará seu crime e castigo, e nós já não os consideramos manifestantes pelos seus direitos, mas como pessoas que querem prejudicar o regime", disse hoje o presidente do Tribunal Revolucionário de Teerã, Musa Ghazanfarabadi.
Os detidos serão declarados culpados de diferentes delitos, entre os quais figuram "atentado contra a segurança nacional" e "inimizade com Deus", ambos punidos com a pena de morte, esclareceu Ghazanfarabadi.
Segundo o vice-ministro iraniano do Interior, Hossein Zolfaghari, 90% dos detidos têm menos de 25 anos, o que indica a insatisfação dos jovens com os rumos econômicos e a falta de liberdade social.
O desemprego entre jovens atingiu recentemente a marca de 40%. Muitas das sanções internacionais foram revogadas com o acordo nuclear de 2015, mas medidas unilaterais americanas contra transações financeiras com o Irã continuam a minar a economia e impedem a maioria dos bancos ocidentais de conceder crédito a iranianos.
CN/efe/rtr/afp
_______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Os 11 dias da Revolução Islâmica
No início de 1979, o xá Reza Pahlavi era derrubado no Irã. A Revolução Islâmica transformou a monarquia de até então num Estado religioso liderado por um sacerdote muçulmano. O clímax da revolução em imagens.
Foto: akairan.com
Retorno a Teerã
1º de fevereiro de 1979: O aiatolá Ruhollah Khomeini retorna do exílio em Paris para Teerã. Ele é recebido com júbilo pela população no aeroporto. Durante anos, criticara o xá e sua elite política, pela repressão dos dissidentes; pela "ocidentalização" do Irã – aos olhos de Khomeini, excessiva; e, acima de tudo, por seu estilo de vida dissoluto, de luxo decadente.
Foto: akairan.com
À espera do salvador
Cerca de 4 milhões de iranianos aguardaram para saudar a procissão de veículos que levou Khomeini nesse dia até o cemitério central Behesht-e Zahra, onde ele faria seu discurso de chegada. Há quase um ano ocorriam manifestações de massa quase diárias contra o regime do xá. Desde agosto de 1978, greves gerais organizadas pela oposição paralisavam repetidamente a economia do país.
Foto: Getty Images/Afp/Gabriel Duval
Fora com o xá
O xá Reza Pahlavi já havia deixado o Irã em 16 de janeiro de 1979. Pouco antes, na Conferência de Guadalupe, ele perdera o apoio dos mais importantes governantes ocidentais, que preferiram procurar o diálogo com Khomeini. O então presidente americano, Jimmy Carter, aproveitou a ocasião para convidar o xá aos Estados Unidos, por tempo indeterminado. Ele aceitou.
Foto: fanous.com
Premiê isolado
Antes, o xá nomeara, como primeiro-ministro interino, Shapur Bakhtiar, figura de liderança da oposicionista Frente Nacional. O governante pretendia assim abrandar seus inimigos, mas sem sucesso. Bakhtiar ficou isolado dentro de seu partido por ter sido nomeado pelo xá, enquanto seus correligionários já haviam concordado em só colaborar com Khomeini.
Foto: akairan.com
Declaração de combate no cemitério
Já ao desembarcar em Teerã, o aiatolá declarou que não reconhecia o governo de Shapur Bakhtiar. Ele partiu direto do aeroporto para o cemitério central, onde fez um discurso beligerante, negando a legitimidade da monarquia e do Parlamento: ele próprio definiria o novo governo do Irã, prometeu Khomeini.
Foto: atraknews.com
Tumultos em todo o país
Em Teerã e outras cidades iranianas, os enfrentamentos violentos entre os revolucionários e os adeptos do xá prosseguiram, mesmo depois da chegada de Khomeini a Teerã. Durante dias permaneceu indefinido quem venceria os combates. Os militares decretaram toque de recolher, que praticamente nenhum iraniano respeitou.
Foto: akairan.com
Premiê interino
Em 5 de fevereiro de 1979, Khomeini entregou a chefia de governo interina a Mehdi Bazargan, da Frente Nacional. De início, parecia que o clero iria colaborar como a oposição liberal. No entanto, logo emergiram conflitos entre os dois grupos. Em 5 de novembro, Bazargan renunciou, em reação à tomada de reféns na embaixada americana em Teerã, ato tolerado por Khomeini.
Foto: akairan.com
Festejando a queda
Após a nomeação de Bazargan, numerosos cidadãos foram às ruas com a intenção de derrubar o governo interino. As Forças Armadas declararam não querer se envolver na luta de poder, privando Shapur Bakhtiar de qualquer tipo de cobertura. Ele teve que fugir da própria casa diante dos partidários armados de Khomeini. Em abril de 1979 exilou-se na França.
Foto: akairan.com
Saudação militar
Honras militares para o líder religioso: uma tropa de elite da Força Aérea iraniana saúda o aiatolá Khomeini. Os oficiais da aeronáutica, os homafaran, tiveram participação decisiva na revolução, permitindo à população o acesso a seus arsenais de munição, para a derrubada do regime de Pahlavi. Em 9 de fevereiro, a guarda imperial ainda tentou uma última reação, ao atacar uma base dos homafaran.
Foto: Mehr
Queda de monarquia
A partir daí, alastraram-se as lutas armadas entre a guarda imperial e a população. Em 11 de fevereiro de 1979 o colapso da ordem foi total: revolucionários ocuparam o Parlamento, o senado, a TV e outros órgãos estatais. Pouco mais tarde anunciava-se a derrubada da monarquia. Até hoje, o 11 de fevereiro é dia da "Revolução Islâmica" no Irã.