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SaúdeIrã

Líder supremo do Irã proíbe vacinas dos EUA e Reino Unido

8 de janeiro de 2021

Em meio a relações tensas com Washington e Londres, aiatolá Ali Khamenei afirma que imunizantes desses países não são confiáveis e poderiam "contaminar outras nações".

Aiatolá Ali Khamenei em pronunciamento
Aiatolá Ali Khamenei diz que vacina produzida por cientistas iranianos é "orgulho e honra para o país"Foto: Office of the Iranian Supreme Leader/AP/picture alliance

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, anunciou nesta sexta-feira (08/01) que a importação de vacinas americanas e britânicas contra a covid-19 está proibida no país, ao mesmo tempo em que exaltou o imunizante que está sendo desenvolvido por cientistas iranianos.

Segundo Khamenei, as vacinas desses dois países são "completamente não confiáveis. Não é improvável que eles queiram contaminar outras nações", afirmou, em pronunciamento transmitido pelas emissoras iranianas.

"Se a fábrica da Pfizer pode produzir qualquer vacina, eles [Estados Unidos] devem primeiro consumi-la eles próprios para que em 24 horas não tenham 4 mil mortes. O mesmo vale para o Reino Unido", afirmou Khamenei.

O aiatolá se referia à alta contagem diária de óbitos registrada nos EUA na quinta-feira, e à variante do coronavírus que desencadeou uma nova onda de infecções em solo britânico e se espalhou para outros países.

"Dada a nossa experiência com o envio de remessas a partir da França de sangue contaminado com HIV, vacinas francesas também não são confiáveis", acrescentou, ao se referir a um escândalo ocorrido entre os anos 1980 e 1990.

Sua declaração, porém, também possui forte caráter político, levando em conta a relação conflituosa que Teerã mantém com Washington e Londres.

As vacinas que já foram autorizadas nos países ocidentais são a da farmacêutica americana Pfizer, desenvolvida em conjunto com a empresa alemã de biotecnologia Biontech, e a da americana Moderna.

Vacina iraniana

Em dezembro, o Ministério da Saúde do Irã informou que as primeiras vacinas que chegariam ao país seriam por meio de compras diretas de outra nação. O veto de Khamenei aos imunizantes americanos e britânicos indica que esse país deve ser a Rússia ou a China, além do consórcio internacional de distribuição de imunizantes Covax Facility.

Em 29 de dezembro, o Irã deu início à primeira fase do ensaio clínico de sua vacina contra a covid-19. Khamenei disse que o desenvolvimento de um imunizante pelos cientistas iranianos é "um orgulho e uma honra para o país".

A vacina, chamada COV Iran Barkat, é produzida pela farmacêutica Shifa Pharmed e deve ser aplicada em duas doses, com intervalo de 14 dias. O governo afirma que o imunizante deverá ajudar o país a derrotar o coronavírus, apesar das sanções impostas pelos EUA que prejudicam a capacidade iraniana de importar vacinas.

O Irã também desenvolve pesquisas sobre vacinas em parceria com Cuba. Atualmente, a vacina cubana está na segunda fase do ensaio clínico. Se tiver êxito, a terceira fase deve ser realizada no Irã.

Até o momento, o Irã acumula 1.268.263 infecções e 55.993 mortes associadas ao coronavírus.

Acordo nuclear no centro das tensões

As tensões entre Teerã e Washington se agravaram a partir de 2018, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, retirou seu país do acordo nuclear firmado em 2015 entre a República Islâmica e o grupo dos países G5+1 (França, Reino Unido, Alemanha, China, Rússia e Estados Unidos).

Desde então, os EUA reimpuseram pesadas sanções econômicas para pressionar os iranianos a aceitar restrições ainda mais rígidas ao seus programas nuclear e de mísseis balísticos, além de cessar o apoio a forças regionais hostis aos americanos.

Em retaliação, o Irã promove violações graduais ao acordo nuclear. No início do ano, o país comunicou à Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) que planeja produzir urânio enriquecido a 20%, um nível muito superior ao estabelecido pelo pacto de 2015.

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, prometeu trazer seu país de volta ao acordo, contanto que os iranianos retomem seu comprometimento. Pelo tratado, o Irã aceitaria reduzir o enriquecimento de urânio a níveis seguros em troca do alívio das sanções internacionais.

Khamenei, entretanto, disse que seu país não tem pressa pelo retorno dos EUA ao acordo, mas exige a remoção imediata das sanções. Ele descartou negociar seu programa nuclear ou o envolvimento do país no Oriente Médio, como era exigido por Washington e outras potências mundiais.

"Ao contrário dos EUA, o envolvimento do Irã na região cria estabilidade e é voltado para evitar instabilidade. Nosso envolvimento é definitivo e permanecerá", afirmou.

Preocupações com poderio militar iraniano

Pouco antes do pronunciamento do aiatolá, a Guarda Revolucionária Iraniana revelou a existência de uma base subterrânea de mísseis em um local não determinado na região do Golfo Pérsico.

O Ocidente avalia o programa de mísseis iraniano como uma ameaça à estabilidade na região e também como um possível mecanismo para transporte de armas nucleares, caso o país venha a desenvolvê-las.

O país possui um dos maiores programas de mísseis em todo o Oriente Médio, que considera como um fator importante para impedir agressões externas, além de ser uma força de retaliação contra os EUA e outros adversários na região, no caso de uma guerra.

RC/efe/rtr

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