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PolíticaItália

Itália: líder ultradireitista criticada por vídeo de estupro

23 de agosto de 2022

Na dianteira da corrida pelo governo do país, Georgia Meloni divulga na mídia social imagens de mulher sendo violentada na rua por um imigrante. Opositores classificam postagem como "indigna" e "indecente".

Giorgia Meloni
Liderando as pesquisas, ultradireitista Giorgia Meloni tem chances de se tornar a próxima chefe de governo da ItáliaFoto: Carlo Bressan/AFP/Getty Images

Atual líder na corrida pelo governo italiano, a presidente do partido de ultradireita Irmãos da Itália (FdI), Giorgia Meloni, é alvo de duras críticas por postar nas redes sociais um vídeo de uma mulher sendo estuprada na rua. Em seu comentário, a política garante que haverá um país mais seguro, se ela vencer as eleições gerais de 25 de setembro.

As imagens, em que a vítima está anonimizada, também foram compartilhadas por Matteo Salvini, líder do partido igualmente ultradireitista Liga, e mostram uma ucraniana agredida e estuprada numa rua da cidade de Piacenza, no centro da Itália.

Os dois políticos usaram o termo "solicitante de asilo" para se referir ao agressor sexual, e a mensagem implícita é que se trata de um problema causado por uma política de imigração excessivamente liberal por parte do atual governo. 

A mulher de 55 anos foi agredida numa calçada, no início do domingo, por um requerente de asilo da Guiné, segundo autoridades locais. O incidente foi filmado por alguém de um apartamento com vista para a rua, e o agressor foi preso.

"Não podemos ficar em silêncio diante deste atroz episódio de violência sexual contra uma ucraniana, perpetrado em pleno dia em Piacenza, por um solicitante de asilo. Um abraço a esta mulher. Farei todo o possível para devolver a segurança às nossas cidades", escreveu Meloni no Twitter.

"Indecente"

"Indecente usar imagens de um estupro. É ainda mais indecente fazê-lo para fins eleitorais. O respeito pelas pessoas e vítimas vem em primeiro lugar", criticou no Twitter o líder do Partido Democrata, de cunho progressista, Enrico Letta.

O líder centrista Carlo Calenda chamou a publicação de Meloni "imoral": "Denunciar um estupro é uma coisa. Utilizar o vídeo para fins eleitorais é simplesmente uma coisa indigna. Giorgia Meloni fez uma coisa indecente."

A deputada pelo Partido Democrata Laura Boldrini, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos no Mundo da Câmara italiana, classificou a postagem como "vulgar".

"É grave que a indignação da direita seja intermitente, com base na nacionalidade de quem comete o crime. É preciso sempre ser contra a violência às mulheres, em todos os casos."

"Violência contra mulheres é sobretudo doméstica"

A senadora democrata Valeria Valente, presidente da comissão Feminicídio, classificou como "horrorizante" a tentativa de FdI e Lega de instrumentalizar também a violência contra mulheres para fins eleitoreiros: "A direita bem sabe que não tem nada ver a inexistente invasão dos migrantes, cavalho de batalha de um Salvini em falta de de ideias."

"É um fenômeno cultural, e os dados falam claro: a quase totalidade dos feminicídios ocorre pela mão de um ex, a violência é sobretudo doméstica, os estupros dizem mais respeito aos italianos do que os estrangeiros."

Para Valente, a direita "mente, sabendo mentir" quanto às causas da violência masculina: "Nós condenamos todo delito violento contra as mulheres, independentemente da nacionalidade do homem que o comete, mas não aceitamos instrumentalizações."

Esta não foi a única controvérsia nas redes sociais em que Meloni se envolveu: ela está sendo também criticada por um vídeo em que afirma que haverá investimento em "esportes e jovens para lutar contra desvios e formar gerações de novos italianos sãos e decididos".

Embora não tenha explicado o que classificou como "desvio", a líder de extrema direita foi atacada por suposto preconceito contra minorias LGBT.

md/av (EFE, Reuters,ots)